TEXTOS INTERESSANTES

Papa Francisco: Caminhar com os pecadores e com os soberbos. Deus é humilde e sempre nos espera         

Durante a homilia em Santa Marta, papa Francisco explicou que na oração eucarísticase canta o amor tão grande de Deus que quis ser companheiro de nosso caminho

Por Antonio Gaspari
ROMA, 24 de Setembro de 2013 (Zenit.org) - Deus é eterno, mas "quis fazer História, caminhar junto do Seu povo (…) fazer-se um de nós, caminhar conosco em Jesus. E isto diz-nos o que é a humildade de Deus”.Assim falou o papa Francisco durante a homilia na missa desta manhã na Casa Santa Marta.
Conforme relatado pelo L'Osservatore Romano, o Papa explicou que "na história do povo de Deus há bons momentos como este, que dão tanta alegria, e também há momentos ruins, de dor, de martírio, do pecado”.
“Seja nos momentos maus, seja nos momentos bons –acrescentou o Papa-uma coisa sempre é igual: o Senhor está lá, nunca abandona o Seu povo! Porque o Senhor, no dia do pecado, no primeiro pecado, tomou uma decisão, fez uma escolha: fazer História com o Seu Povo”.
Deus quis caminhar com seu povo “e quando o Seu povo se desviou Dele por causa do pecado, da idolatria, tantas coisas que vemos na Bíblia - disse o Papa - Ele estava lá”.
Para o Bispo de Roma caminhar com o povo, caminhar com os pecadores, caminhar também com os soberbos, é uma atitude de grande humildade, pois "Deus sempre nos espera. Deus está conosco, Deus caminha conosco.Éhumilde.Espera sempre por nós. Jesus sempre nos espera. Esta é a humildade de Deus”.
O Papa Francisco disse que a Igreja canta com alegria a humildade de Deus que nos acompanha pessoalmente por meio dos sacramentos.
Neste contexto, destacou que “oSacramento não é um rito mágico: é um encontro com Jesus, nós encontramos o Senhor e Ele está junto a nós e nos acompanha”.
"O Espírito Santo - continuou o Papa – nos acompanha e nos ensina tudo o que não sabemos em nosso coração. Ela nos lembra de tudo o que Jesus nos ensinou e nos faz sentir a beleza do bom caminho".
“E se o Senhor entrou na nossa história –concluiu o Papa Francisco-peçamos-Lhe a graça de que seja Ele a escrever a nossa história”.  

 
 

O Santo Padre Francisco: um sim à vida, à família e ao matrimônio

Reflexão sobre a entrevista do Papa Francisco concedida à "La Civiltà Cattolica"

Por Padre Jorge Lutz
RIO DE JANEIRO, 24 de Setembro de 2013 (Zenit.org) - No dia 19 de Setembro, 16 revistas jesuítas no mundo todo publicaram uma nova e extensa entrevista com o Santo Padre Francisco, feita pelo Pe. Antonio Spadaro, SJ, diretor da revista La Civiltà Cattolica ─ uma publicação jesuíta que é revisada pela Secretaria de Estado do Vaticano – que foi publicada em espanhol e foi apresentada pela revista “Razón y Fe”.
O Santo Padre Francisco nos fala dele, de porque se tornou Jesuíta e do que significa para um jesuíta ser Papa. Na entrevista nos fala também da vida na Companhia de Jesus, sua espiritualidade e missão, e de “como a Companhia deve ter sempre diante de si a procura da glória de Deus sempre maior”. Com muito carinho nos fala do Povo Santo de Deus e diz que “a imagem da Igreja de que gosto é a do povo santo e fiel de Deus”. Também aborda temas da sua experiência de governo, da importância de “sentir com a Igreja”, da importância da mulher, da doutrina moral da Igreja e das realidades mais interiores e profundas do ser humano. O Papa compartilha como reza e quanto é importante ter esperança na vida.
Infelizmente o conteúdo desta entrevista tem sido manipulado por diferentes meios de comunicação, apresentando o Santo Padre, como alguém que está contra da luta pela vida, e pró-família, concretamente em temas como o aborto e a homossexualidade e o papel da mulher na Igreja. Os comentários do Santo Padre aparecem especialmente dentro do parágrafo: “Igreja, hospital de campanha?” Onde o Santo Padre, longe de justificar estas ideologias contra a vida e a família, tenta nos alentar a entender quão importante é hoje “curar as feridas”, aproximando-nos das pessoas com verdadeira misericórdia.
Diante da pergunta de como devem ser as pastorais com os homossexuais e da segunda união, o Papa Francisco diz que “temos que anunciar o Evangelho em todas as partes, pregando a Boa Notícia do Reino e curando, também com a nossa pregação, todo tipo de ferida e qualquer doença. Em Buenos Aires, disse, recebeu cartas de pessoas homossexuais que são verdadeiros feridos sociais, porque me dizem que sentem que a Igreja sempre os condenou. Mas a Igreja não pode fazer isso. Durante o vôo em que retornava do Rio, disse que se uma pessoa homossexual tem boa vontade e procura Deus, quem sou eu para julgá-la? Ao dizer isto eu disse o que diz o Catecismo. A religião tem direito de expressar suas próprias opiniões a serviço das pessoas, mas Deus na criação nos fez livres, não é possível uma ingerência espiritual na vida pessoal”. Aqui quando o Papa se refere à vida pessoal, se refere a todo ser humano e seu interior, e em nenhum momento fala de pessoas homossexuais ou lésbicas como diz a mídia de forma tendenciosa.
O Papa lembrou também que “uma vez, uma pessoa, para me provocar, perguntou- me se eu aprovava a homossexualidade. Eu então respondi para ela com outra pergunta: ‘Diga-me se Deus, quando olha para uma pessoa homossexual, aprova sua existência com afeto ou a rejeita e a condena? ’ Há que se ter sempre em consideração a pessoa. Aqui entramos no Mistério do ser humano. Nesta vida Deus acompanha as pessoas e é nosso dever acompanhá-las a partir de sua condição. Há que se acompanhar com misericórdia. Quando acontece assim, o Espírito Santo inspira ao sacerdote as palavras oportunas”
O Santo Padre também falou “que esta é a grandeza da confissão, que avalia cada caso, onde se pode discernir o que é o melhor para uma pessoa que busca a Deus e sua graça. O confessionário não é um lugar de tortura, e sim aquele lugar da misericórdia em que o Senhor nos conduz para fazer o melhor que possamos. Estou pensando na situação de uma mulher que tem o peso do fracasso matrimonial em que aconteceu também um aborto. Depois disso a mulher casou-se novamente e agora vive em paz com cinco filhos. O aborto pesa-lhe enormemente e ela está sinceramente arrependida. Gostaria de retomar a vida cristã. O que faz o confessor?” Isto para nada é justificar o aborto, ir contra o matrimônio ou favorecer o divorcio.
O Papa Francisco afirma também que “não podemos seguir insistindo só em questões referentes ao aborto, ao matrimônio homossexual e ao uso de anticoncepcionais. É impossível.  Eu já falei muito destas coisas e recebi reclamações, mais ao falar destas coisas tem-se que se falar no seu contexto. Além do mais já conhecemos a opinião da Igreja e Eu sou filho da Igreja, e não é necessário estar falando destas coisas sem parar... O anúncio missionário concentra-se no essencial, no que é necessário, que por outra parte é o que mais apaixona e atrai e faz arder o coração... a proposta evangélica deve ser mais simples, mais profunda e irradiante. Só desta proposta depois surgem as conseqüências morais”. Os meios de comunicação têm informado de forma ambígua e mal intencionada que o Papa critica uma obsessão da Igreja nestes temas, mais o que o Papa Francisco tem feito é simplesmente com abertura, simplicidade e de forma direta e humilde deixar clara a doutrina da Igreja, que brota da pregação do Amor e da Misericórdia de Cristo e que devem se expressar numa autêntica pastoral para nossa época.
Todo este tema do Aborto se esclarece ainda mais com a firme postura do Santo Padre frente a cultura do descartável, que busca a eliminação dos seres humanos mais fracos. No discurso que fez aos ginecologistas católicos participantes do encontro promovido pela Federação Internacional das Associações de Médicos Católicos, pronunciado em 20 de Setembro deste ano, o Papa disse que “nossa resposta a esta mentalidade é um SIM decidido e sem vacilações à vida, que sempre é sagrada é inviolável”. Este discurso tem ainda muita importância, diante da manipulação que alguns meios de comunicação seculares estão fazendo da entrevista do Santo Padre.
O Papa Francisco toca outros temas apaixonantes em sua entrevista. Para iluminar mais a nossa formação e não deixar que a mídia secular nos manipule, acho adequado abordar o tema da mulher. Longe de toda ideologização e com muita clareza no tema sobre a mulher e sua função e missão na Igreja, nos diz o Papa que “é necessário ampliar os espaços de uma presença feminina mais incisiva na Igreja... As mulheres têm colocado perguntas profundas que devem ser tratadas. A Igreja não pode ser ela própria sem a mulher e o seu papel. A mulher, para Igreja, é imprescindível. Maria, uma mulher, é mais importante que os bispos. Digo isto, porque não se deve confundir a função com a dignidade. É necessário aprofundar melhor a figura da mulher na Igreja. É preciso trabalhar mais para fazer uma teologia profunda da mulher. Só realizando esta etapa se poderá refletir melhor sobre a função da mulher no interior da Igreja. O gênio feminino é necessário nos lugares em que se tomam as decisões importantes. O desafio hoje é exatamente esse: refletir sobre o lugar específico da mulher”.
É o Santo Padre quem nos desafia e nos diz na entrevista: “Sonho com uma Igreja Mãe e Pastora... Em vez de ser apenas uma Igreja que acolhe e recebe, tendo as portas abertas, procuramos mesmo ser uma Igreja que encontra novos caminhos, que é capaz de sair de si mesma e ir ao encontro de quem não a frequenta; de quem a abandonou ou lhe é indiferente... Mas é necessário audácia, coragem”.
Façamos a nossa parte e, como o Papa Francisco diz, trabalhemos por “procurar e encontrar Deus em todas as coisas... Devemos caminhar juntos: o povo, os Bispos e o Papa.

 

 

 

"Encontrem a estrada para rir de si mesmos, e permaneçam com o vosso rebanho!

Papa Francisco recebe em audiência os novos bispos e convida-os a ter "o cheiro das ovelhas", a receber os sacerdotes" e a não se tornarem bispos de aeroporto"
Por Antonio Gaspari
ROMA, 19 de Setembro de 2013 (Zenit.org) - "Apascentem o rebanho de Deus que lhes foi confiado, não por imposição, mas de livre e espontânea vontade, como Deus o quer; não por vil interesse, mas com generosidade; não como donos daqueles que lhes foram confiados, mas como modelos para o rebanho”(1 Pedro 5, 2). "Essas palavras de São Pedro são esculpidas em meu coração!”
Com estas palavras, o papa Francisco, às 12h00 desta manhã, na Sala Clementina do Palácio Apostólico Vaticano, recebeu em audiência os bispos recém-nomeados participantes da Conferência organizada pela Congregação para os Bispos e pela Congregação para as Igrejas Orientais.
Ele então explicou que a apascentar significa ter "habitual e cotidiano cuidado pelo rebanho" (Conc Ecum Conselho II, Lumen Gentium, 27), "acolher com magnanimidade, caminhar com o rebanho, permanecer com as ovelhas".
De acordo com o pontífice, os novos bispos devem refletir três palavras: "acolher, caminhar, permanecer".
Ele afirmou que acolher com magnanimidade significa que todos aqueles que baterem à porta “a encontrem aberta, - continuou o Santo Padre - através de sua bondade, da sua disponibilidade, experimentarão a paternidade de Deus e entenderão como a Igreja é uma boa mãe, que sempre acolhe e ama”.
Caminhar com o rebanho, - acrescentou - significaestá em caminho “com” e “no” seu rebanho. Isto significa caminhar com os próprios fiéis e com todos aqueles que se dirigirão a vocês, partilhando com eles alegrias e esperanças, dificuldades e sofrimentos, como irmãos e amigos, mas, mais ainda como pais, que são capazes de escutar, compreender, ajudar, orientar”.
A este respeito, convidou a responder e receber os sacerdotes que são os mais próximos do bispo, indispensáveis colaboradores dos quais buscar conselho e ajuda, e dos quais cuidar como pais, irmãos e amigos.
Neste contexto, o papa disse: "Eu não sei se é verdade, mas muitos padres me contaram que ligavam para o bispo e o secretário respondia que não tinha tempo para recebê-los; isso, durante meses”. Ele explicou aos bispos que esse comportamento não é de um pai, mas de um gerente de escritório, e convidou-os a responder no mesmo dia, ou pelo menos no dia seguinte para marcar um encontro.
O Papa sublinhou a importância do pastor para o rebanho, isto é, a presença na diocese que “não é secundária, é indispensável”. "A presença! - disse -É o próprio povo quem pede, quer ver o seu Bispo caminhar com ele, estar do lado dele.”Francisco pediu ainda para que os bispos fossem até o povo “também nas periferias de suas dioceses e em todas as periferias "existenciais" onde há sofrimento, solidão, degradação humana".
O bispo de Roma explicou então que o estilo de serviço ao rebanho deve ser o da “humildade, da austeridade, e da essencialidade".
"Por favor - disse ele - não sejam “homens com a ‘psicologia de princípios’, homens ambiciosos, que são esposos de uma Igreja, na espera de outra mais bonita, mais importante ou mais rica. Estejam muito atentos a não caírem no espírito do carreirismo! Não é só a palavra, mas também é, sobretudo, com o testemunho concreto de vida que somos mestres e educadores do nosso povo”.
Peço-vos, por favor, - disse o Papa – permaneçam com o vosso rebanho. “Permanecer, ... continuou o Papa. Evitem o escândalo de serem “bispos de aeroportos”!”.
O Papa convidou os novos bispos a serem “pastores acolhedores, que caminham com o seu povo, com afeto, com misericórdia, com docilidade de tratamento e firmeza paterna, com humildade e discrição, capazes de olhar também aos seus limites e de ter uma dose de bom humor.”

Ele concluiu, convidando a rezar por uma graça: "Senhor, dá-me o senso de humor. Encontrar o caminho para rir de si mesmo em primeiro lugar, e um pouco das coisas. E permaneçam com vosso rebanho!”




A festa da misericórdia

Dom Alberto Taveira Corrêa, arcebispo de Belém do Pará, reflete sobre amor que se transforma em misericórdia quando é preciso ir além da norma exata da justiça

Por Dom Alberto Taveira CorrêaBELéM DO PARá, 12 de Setembro de 2013 (Zenit.org) - Faz parte do equilíbrio entre pessoas e grupos na sociedade o estabelecimento de limites razoáveis entre a liberdade de uns e de outros. Até se repete, de forma adequada, que a minha liberdade vai até onde começa a da outra pessoa. Tudo muito bem organizado! Mais ainda, cresce o clima de reivindicação de direitos, com as maiorias e as minorias que buscam o próprio espaço, a fim de que ninguém fique de fora do concerto que se deseja harmônico. Intrigante é o fato de que sociedades muito organizadas, com tudo bem definido, respeito à ecologia, trânsito bem estabelecido entre pessoas, veículos e ideias, não consigam oferecer-lhes igual realização. Falta algo para que a vida adquira, além dos limites necessários, o horizonte que proporcione felicidade de verdade.Deus, que entende de vida e de gente, por ser Criador e Pai, mostra sua face à humanidade através de um "tempero" inigualável, um amor gratuito, capaz de superar todos os limites, chamado misericórdia, com o qual entra no mais íntimo das pessoas e purifica seus relacionamentos, concedendo de presente o que estas mais procuram. O misterioso é que justamente no mais profundo das dificuldades, crises e falhas dos seres humanos se encontra o caminho da realização. Jesus Cristo, verdadeiro homem e mais humano do que todos, é Deus verdadeiro, com o Pai e o Espírito Santo. Ele é a face humana da misericórdia! Tornou-se pequeno, pobre, obediente, carregou sobre si o peso dos pecados humanos, passou pela noite da morte, ressuscitou e abriu para a humanidade as portas da eternidade. Todas as suas atitudes revelam esta face da misericórdia de Deus. Justamente onde a situação é pior e desesperadora, lá ele entra e liberta. Quando as pessoas se sentem abandonadas e desprezadas, lá dentro é possível, com a presença da graça de Deus, começar a sair de si mesmas, transformando a dor em amor. Quem acolhe seu amor misericordioso experimenta a mudança, mas há de arriscar sua liberdade para vivê-la!Para conduzir-nos à compreensão dos mistérios do Reino de Deus, Jesus Cristo usou a linguagem das parábolas, comparações tiradas dos fatos da vida e da natureza, com as quais descortina o sentido da existência. Nas chamadas "parábolas da misericórdia" (Lc 15,1-32), um aguçado sentido de humanidade se faz presente, indo ao encontro de situações humanas difíceis e ao mesmo tempo fecundas. Suas atitudes livres desconcertam os interlocutores, pessoas da lei e da organização, ciosas dos direitos e limites de cada grupo na sociedade. Acolher pecadores, infratores, gente que quebra a harmonia da ordem, era demais! Eram pessoas sobre as quais se deveria estabelecer penalidades pesadas e não acolhidas! E Jesus viola estas normas! Para se fazer entender, fala de ovelhas, moeda, filhos! Coisas do dia a dia, mas correspondentes aos valores que norteavam a vida.Possuir um rebanho até hoje é sinal de boas condições na sociedade. Perder cabeças de gado, por roubo, extravio ou doenças toca no bolso, esta parte tão sensível do ser humano! Pois bem, o pastor da parábola se preocupa com a ovelha tresmalhada, não joga ninguém fora. A ovelha que se identifica com qualquer um de nós certamente aprontou algo para ficar fora do caminho, quem sabe, uma ovelha rebelde! É que cada pessoa humana, para Deus que é pastor e guarda de nossas vidas, vale o sangue de seu Filho amado. A misericórdia toma iniciativa, vai ao encontro e faz festa pelo retorno da pessoa que foi reencontrada! (Cf. Lc 15,3-7).Dez moedas de prata guardadas, quem sabe, num lenço bem amarrado, escondido debaixo de um colchão! Até segredos podiam estar atrás daquele tesouro, pequeno que fosse para outros, mas significativo. A imagem da casa revirada, para encontrar apenas uma moeda, é magnífica (Cf. Lc 15,8-10). Deus é assim, revira o mundo por causa de cada pessoa que cai. Ele nos leva a sério! Ele gasta com a festa da conversão muito mais do que o valor da moeda perdida! Enfim, filho, como deveria ser até hoje em toda parte, é bênção! (Cf Lc 15, 11-32) Perder o filho mais novo, jovem desorientado que quer se aventurar pelos caminhos do mundo, dói no mais profundo da alma do pai. Dar a parte da herança talvez tenha sido menos doloroso do que a distância daquele que tinha jogado fora justamente o bem mais precioso, o relacionamento de paternidade e filiação. Deixa de ser humano quem se recusa ao amor em nome da liberdade! O jovem gastador de ontem e de hoje vai ao fundo do poço e sua história se repete diante de nossos olhos."A misericórdia apresentada por Cristo na parábola do filho pródigo tem a característica interior do amor, que no Novo Testamento é chamado 'agape'. Este amor é capaz de debruçar-se sobre todos os filhos pródigos, sobre qualquer miséria humana e, especialmente, sobre toda miséria moral, sobre o pecado. Quando isto acontece, aquele que é objeto da misericórdia não se sente humilhado, mas como que reencontrado e revalorizado. O pai manifesta-lhe alegria, antes de mais por ele ter sido reencontrado e por ter voltado à vida. Esta alegria indica um bem que não foi destruído: o filho, embora pródigo, não deixa de ser realmente filho de seu pai. Indica ainda um bem reencontrado: no caso do filho pródigo, o regresso à verdade sobre si próprio (Cf. João Paulo II, Encíclica Dives in misericordia, 6). Na parábola do filho pródigo não é usado, nem uma vez sequer, o termo «justiça», assim como também não é usado no texto original, o termo «misericórdia». Contudo, a relação da justiça com o amor que se manifesta como misericórdia aparece profundamente vincada no conteúdo desta parábola evangélica. Torna-se claro que o amor se transforma em misericórdia quando é preciso ir além da norma exata da justiça: norma precisa mas, por vezes, demasiado rigorosa” (Dives in misericordia, 5). Trata-se de uma verdadeira revolução nos relacionamentos sociais. Muito além das aparências, vale a realidade do filho amado. O desafio está lançado, para que a convivência humana supere os limites frios do direito e da justiça. Só em Cristo e com ele



FRANCISCO NÃO EXORTA AO DIÁLOGO: PRATICA-O. ESSA É A FORÇA DA MENSAGEM''. ARTIGO DE HANS KÜNG

Hans Küng
O Papa Francisco exorta não apenas ao diálogo com os não crentes, mas o traduz na prática. De modo modesto e humilde, sem exercer nenhuma pressão, agindo com plena compreensão pelas razões dos outros.
A opinião é do teólogo suíço-alemão Hans Küng, em depoimento para o jornal La Repubblica, 12-09-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis o texto.
O título da notícia poderia ser “um diálogo em igual dignidade”. O Papa Francisco exorta não apenas ao diálogo com os não crentes, mas o traduz na prática. De modo modesto e humilde, sem exercer nenhuma pressão, agindo com plena compreensão pelas razões dos outros. Como a sua ideia de “fraterna proximidade”.
Muitos pontos de vista teológicos parecem-me importantes.
Primeiro: o papa representa o conceito da encarnação da pessoa histórica de Jesus. E, da sua autoridade estendida à Igreja, que deixa questões em aberto.
Segundo: a natureza de Jesus como Filho de Deus não deve excluir outros, mas, ao invés, deve abrir a todos os seres humanos a vocação a se sentirem ‘filhos de Deus’.
Terceiro: ninguém dispõe da Verdade absoluta. A Verdade da Fé, como manifestou em Cristo o amor de Deus, é essencialmente uma relação.
Quarto: a Verdade da Fé, que é símbolo de Luz, sempre foi, várias vezes, instrumentalizada por obscuros supersticiosos contra a Luz da razão. Portanto, eu me sinto confirmado no meu Caminho e Escolha, tendo sempre levado a sério as razões dos não crentes.



PAPA FRANCISCO E GUSTAVO GUTIERREZ
IHU – Sexta, 13 de setembro de 2013
O Papa Francisco recebeu, na manhã desta quinta-feira, os cardeais Mauro Piacenza, Prefeito da Congregação para o Clero, Manuel Monteiro de Castro, Penitenciário Maior, e Giuzeppe Betori, arcebispo de Florença. A informação é da Sala de Imprensa vaticana da Santa Sé.
A reportagem está publicada no sítio Vatican Insider, 12-09-2013. A tradução é de André Langer.
Teve uma audiência com Francisco também José Miguel Insulza, secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA) desde 2005; o político fez parte da coalizão Unidade Popular que levou à eleição presidencial de Salvador Allende, experiência interrompida pelo golpe militar de Augusto Pinochet (o 11 de setembro de 1973).
Na quarta-feira à tarde, Bergoglio também recebeu, na Casa Santa Marta, Gustavo Gutiérrez, histórico teólogo peruano e pai da Teologia da Libertação, em um clima de reconciliação (depois das polêmicas das últimas décadas) com esta corrente teológica que nasceu na América Latina.
O L’Osservatore Romano publicou na terça-feira uma entrevista de Ugo Sartorio com Gutiérrez, na qual, entre outras coisas, o teólogo peruano enfrentou o tema das duas instruções de 1984 (Libertatis Nuntius) e de 1986 (Libertatis Conscientia), publicadas pelo Vaticano quando o cardeal Joseph Ratzinger dirigia a Congregação para a Doutrina da Fé. Estes documentos (particularmente o primeiro) estigmatizaram algumas posturas da Teologia da Libertação, pois teriam sofrido algumas influências da análise marxista.
“Às vezes estes textos não foram interpretados de maneira correta”, disse Gutiérrez ao jornal da Santa Sé. “Por exemplo, na primeira instrução se afirmava que depois se elaboraria um documento mais positivo. Uma forma de dizer que aquele era um texto negativo, que só considerava os erros. O dever do Magistério é fazer observações, embora no primeiro documento se fale da Teologia da Libertação de maneira muito genérica. A Teologia da Libertação é feita de nomes e de pessoas, não de ideias arrancadas de seu contexto. A segunda instrução vaticana trata de compreender melhor o sentido desta teologia. Mas tudo isto pertence ao passado, porque hoje a Teologia da Libertação é mais conhecida e, portanto, mais apreciada que no passado”.
  

As fofocas contra o próximo são dignas de Caim

Durante a missa na Casa Santa Marta, o papa Francisco adverte: "Se você fala mal do seu irmão, você o mata"Por Luca Marcolivio

ROMA, 13 de Setembro de 2013 (Zenit.org) - A metáfora evangélica do cisco e da trave no olho (Lc 6,39-42) se refere àquela "atitude de ódio de uns para com os outros" que nos leva a "ser juízes do nosso próprio irmão", disse o papa na homilia durante a missa desta manhã na Casa Santa Marta, comentando o evangelho do dia.
Na mesma passagem, Jesus pronuncia "uma palavra forte: hipócrita", acrescentou o pontífice.
Há pessoas que "vivem falando mal dos outros". Elas "são hipócritas porque não têm a força, a coragem de olhar para os seus próprios defeitos". Em outro momento, Jesus enfatiza que aquele que guarda "em seu coração um pouco de ódio contra o seu irmão é um assassino".
São João Apóstolo também é muito explícito sobre esse ponto: "Aquele que odeia o seu irmão caminha nas trevas; quem julga o seu irmão caminha nas trevas" (cf. 1 Jo 9).
Portanto, cada vez que "julgamos os nossos irmãos em nossos corações e, pior ainda, quando falamos sobre isto com outras pessoas, somos cristãos homicidas", continuou o papa.
"Se você fala mal do seu irmão, você mata o seu irmão", disse Francisco, observando que, neste ponto, "não cabem nuances". Qualquer um que julga o seu irmão está imitando "Caim, o primeiro assassino da história".
O Santo Padre abordou depois a relação entre o julgamento negativo do outro e a paz que o mundo exige, especialmente nos dias de hoje. É necessário, por isto, "um gesto de conversão nosso. As fofocas estão sempre nessa dimensão da criminalidade. Não há fofocas inocentes".
Quando se fala mal do irmão ou da irmã, usa-se a língua, no fim das contas, para "matar a Deus", refletido na imagem do irmão que nos foi dada para louvá-Lo.
Se um irmão erra ou nos faz sofrer, a verdadeira solução não é espalhar fofocas, mas rezar ou fazer penitência por ele. "E, se necessário, falar com a pessoa que pode resolver o problema. Mas não sair fofocando para todo mundo!", observou o papa.
O exemplo paradigmático desta atitude virtuosa é oferecido por São Paulo, quando diz: "Antes eu era blasfemo, perseguidor, violento. Mas alcancei misericórdia" (cf. 1 Tim 1,1-2.12-14). Mesmo aqueles que não blasfemam, quando se rendem à sedução maliciosa da fofoca se tornam "certamente perseguidores e violentos", afirmou o Santo Padre sem botar panos quentes.
Na conclusão da homilia, o papa exortou os fiéis a pedirem "para nós e para toda a Igreja a graça da conversão, a fim de passar do crime das fofocas para o amor, para a humildade, para a mansidão, para a gentileza e para a magnanimidade do amor pelo próximo".

 
 
"A Igreja é nossa mãe e todos somos parte dela"

ROMA, 11 de Setembro de 2013 (Zenit.org) - Publicamos a seguir as palavras do santo padre na audiência da quarta-feira, 11 de setembro.
Queridos irmãos e irmãs, bom dia!
Retomamos hoje as catequeses sobre a Igreja neste “Ano da Fé”. Entre as imagens que o Concílio Vaticano II escolheu para fazer-nos entender melhor a natureza da Igreja, há aquela da “mãe”: a Igreja é nossa mãe na fé, na vida sobrenatural (cfr. Const. dogm. Lumen gentium, 6.14.15.41.42). É uma das imagens mais usadas pelos Padres da Igreja nos primeiros séculos e penso que possa ser útil para nós. Para mim, é uma das imagens mais belas da Igreja: a Igreja mãe! Em que sentido e de que modo a Igreja é mãe? Partamos da realidade humana da maternidade: o que faz uma mãe?
1. Antes de tudo, uma mãe gera a vida, leva no seu ventre por nove meses o próprio filho e depois o abre à vida, gerando-o. Assim é a Igreja: nos gera na fé, por obra do Espírito Santo que a torna fecunda, como a Virgem Maria. A Igreja e a Virgem Maria são mães, todas as duas; aquilo que se diz da Igreja se pode dizer também de Nossa Senhora e aquilo que se diz de Nossa Senhora se pode dizer também da Igreja! Certo, a fé é um ato pessoal: “eu creio”, eu pessoalmente respondo a Deus que se faz conhecer e quer entrar em amizade comigo (cfr Enc. Lumen fidei, n. 39). Mas eu recebo a fé dos outros, em uma família, em uma comunidade que me ensina a dizer “eu creio”, “nós cremos”. Um cristão não é uma ilha! Nós nãos nos tornamos cristãos em laboratório, não nos tornamos cristãos sozinhos e com as nossas forças, mas a fé é um presente, é um dom de Deus que nos vem dado na Igreja e através da Igreja. E a Igreja nos doa a vida de fé no Batismo: aquele é o momento no qual nos faz nascer como filhos de Deus, o momento no qual nos dá a vida de Deus, nos gera como mãe. Se vocês forem ao Batistério de São João em Latrão, junto à catedral do Papa, em seu interior há uma inscrição em latim que diz mais ou menos assim: “Aqui nasce um povo de linhagem divina, gerado pelo Espírito Santo que fecunda estas águas; a Mãe Igreja dá à luz a seus filhos nessas ondas”. Isto nos faz entender uma coisa importante: o nosso fazer parte da Igreja não é um fato exterior e formal, não é preencher um cartão que nos deram, mas é um ato interior e vital; não se pertence  à Igreja como se pertence a uma sociedade, a um partido ou a qualquer outra organização. O vínculo é vital, como aquele que se tem com a própria mãe, porque, como afirma Santo Agostinho, a ‘Igreja é realmente mãe dos cristãos’ (De moribus Ecclesiae, I,30,62-63: PL 32,1336). Perguntemo-nos: como eu vejo a Igreja? Se agradeço aos meus pais porque me deram a vida, agradeço também à Igreja porque me gerou na fé através do Batismo? Quantos cristãos recordam a data do próprio Batismo? Gostaria de fazer esta pergunta aqui pra vocês, mas cada um responda no seu coração: quantos de vocês recordam a data do próprio Batismo? Alguns levantam a mão, mas quantos não lembram! Mas a data do Batismo é a data do nosso nascimento na Igreja, a data na qual a nossa mãe Igreja nos deu à luz! E agora eu vos deixo uma tarefa para fazerem em casa. Quando voltarem para casa hoje, procurem bem qual é a data do Batismo de vocês, e isto para festejá-la, para agradecer ao Senhor por este dom. Vocês farão isso? Amamos a Igreja como se ama a própria mãe, sabendo também compreender os seus defeitos? Todas as mães têm defeito, todos temos defeitos, mas quando se fala dos defeitos da mãe nós os cobrimos, nós os amamos assim. E a Igreja também tem os seus defeitos: nós a amamos assim como mãe, nós a ajudamos a ser mais bela, mais autêntica, mais segundo o Senhor? Deixo-vos estas perguntas, mas não se esqueçam das tarefas: procurar a data do Batismo para tê-la no coração e festejá-la.
2. Uma mãe não se limita a gerar a vida, mas com grande cuidado ajuda os seus filhos a crescer, dá a eles o leite, alimenta-os, ensina-lhes o caminho da vida, acompanha-os sempre com a sua atenção, com o seu afeto, com o seu amor, mesmo quando são grandes. E nisto sabe também corrigir, perdoar, compreender, sabe ser próxima na doença, no sofrimento. Em uma palavra, uma boa mãe ajuda os filhos a sair de si mesmos, a não permanecer comodamente debaixo das asas maternas, como uma ninhada de pintinhos fica embaixo das asas da galinha. A Igreja, como boa mãe, faz a mesma coisa: acompanha o nosso crescimento transmitindo a Palavra de Deus, que é uma luz que nos indica o caminho da vida cristã; administrando os Sacramentos. Alimenta-nos com a Eucaristia, traz a nós o perdão de Deus através do Sacramento da Penitência, sustenta-nos no momento da doença com a Unção dos enfermos. A Igreja nos acompanha em toda a nossa vida de fé, em toda a nossa vida cristã. Podemos fazer agora outras perguntas: que relação eu tenho com a Igreja? Eu a sinto como mãe que me ajuda a crescer como cristão? Participo da vida da Igreja, sinto-me parte dela? A minha relação é uma relação formal ou é vital?
3. Um terceiro breve pensamento. Nos primeiros séculos da Igreja, era bem clara uma realidade: a Igreja, enquanto é mãe dos cristãos, enquanto “forma” os cristãos, é também “formada” por eles. A Igreja não é algo diferente de nós mesmos, mas é vista como a totalidade dos crentes, como o “nós” dos cristãos: eu, você, todos nós somos parte da Igreja. São Jerônimo escrevia: “A Igreja de Cristo outra coisa não é se não as almas daqueles que acreditam em Cristo” (Tract. Ps 86: PL 26,1084). Então, todos, pastores e fiéis, vivemos a maternidade da Igreja. Às vezes ouço: “Eu creio em Deus, mas não na Igreja… Ouvi que a Igreja diz…os padres dizem…”. Mas uma coisa são os padres, mas a Igreja não é formada somente de padres, a Igreja somos todos! E se você diz que crê em Deus e não crê na Igreja, está dizendo que não acredita em si mesmo; e isto é uma contradição. A Igreja somos todos: da criança recentemente batizada aos Bispos, ao Papa; todos somos Igreja e todos somos iguais aos olhos de Deus! Todos somos chamados a colaborar ao nascimento à fé de novos cristãos, todos somos chamados a ser educadores na fé, a anunciar o Evangelho. Cada um de nós se pergunte: o que faço eu para que o outro possa partilhar a fé cristã? Sou fecundo na minha fé ou sou fechado? Quando repito que amo uma Igreja não fechada em seu recinto, mas capaz de sair, de mover-se, mesmo com qualquer risco, para levar Cristo a todos, penso em todos, em mim, em você, em cada cristão. Participemos todos da maternidade da Igreja, a fim de que a luz de Cristo alcance os extremos confins da terra. E viva à santa mãe Igreja!
Tradução Canção Nova/ Jéssica Marçal



Papa Francisco: Jesus não é um curandeiro, é um homem que recria a existência

Por Thácio Lincon Soares de Siqueira
BRASíLIA, 09 de Setembro de 2013 (Zenit.org) - Esperança não é o mesmo que otimismo, - disse o Papa Francisco na sua habitual homilia na casa Santa Marta. Otimismo é ver sempre a parte cheia do copo, refere-se mais ao humor, enquanto que a esperança é um “dom, um presente do Espírito Santo e por isso São Paulo diz que nunca decepciona”.
O Papa Francisco convidou os sacerdotes a cultivarem a esperança, já que “é um pouco triste quando alguém se encontra com um sacerdote sem esperança, sem aquela paixão que dá a esperança; e é tão bonito quando nos encontramos com um sacerdote que chega ao final da sua vida sempre com aquela esperança, não com o otimismo, mas com a esperança, semeando esperança”. Isso quer dizer, disse o Papa, que “este sacerdote está perto de Jesus. E o povo de Deus tem necessidade de que nós sacerdotes demos esta esperança em Jesus, que refaz tudo, é capaz de refazer tudo e está refazendo tudo: em cada eucaristia ele refaz a criação, em cada ato de caridade ele refaz o seu amor em nós”.
Fazendo uma leitura de Col 1, 24- 2,3 o Papa falou de Jesus, “mistério, mistério escondido, Deus”. Jesus “é a nossa esperança. É o tudo, é o centro e é também a nossa esperança”.
Infelizmente, a virtude da esperança tem tido pouca importância entre nós – destacou o Pontífice- e é considerada “uma virtude de segunda categoria”.Em seguida ressaltou que otimismo é bem diferente de esperança. Otimismo é uma característica humana que depende de muitos elementos. Trata-se desse entusiasmo que sempre consegue ver “o lado cheio do copo e não o vazio”. Mas a esperança é outra coisa. É um “presente do Espírito Santo”. Mais ainda, ela tem um nome: “e este nome é Jesus”.
“Onde não há esperança não pode haver liberdade”, afirmou o Papa ao comentar o evangelho da missa - Lc 6, 6-11 - que narra precisamente o momento em que Jesus cura o homem com a mão atrofiada em dia de sábado.
O Santo Padre destacou dois tipos de escravidão presentes nessa passagem: a do homem com “a mão paralisada, escravo da sua doença” e aquela “dos fariseus, dos escribas, escravos das suas atitudes rígidas, legalistas”. Jesus liberta a ambos. Primeiro mostra aos rígidos que aquele não é o caminho da liberdade e depois cura o enfermo da sua doença.
Além do mais, “Jesus não é um curandeiro, é um homem que recria a existência. E isso nos dá esperança, porque Jesus veio justamente por causa deste grande milagre, recriar tudo”, destacou o bispo de Roma. A mesma Igreja, em uma oração litúrgica, reza dizendo que Deus se mostrou grande na obra da criação, porém, maior na obra da redenção.
“A grande maravilha é a grande reforma de Jesus. E isso nos dá esperança: Jesus que recria tudo” e quando nos unimos à Jesus na sua Paixão, disse o Papa, “com ele refazemos o mundo, o fazemos de novo”.


CNBB e entidades lançam Coalizão Democrática pela Reforma Política e Eleições Limpas
A CNBB acolhe com satisfação os parceiros de sempre, disse, na abertura do evento, o presidente da entidade, cardeal Raymundo Damasceno Assis.
BRASíLIA, 04 de Setembro de 2013 (Zenit.org, Cnbb.org) - Uma campanha cívica, unificada e solidária. Assim se define a Coalizão Democrática pela Reforma Política e Eleições Limpas, lançada na tarde de ontem, 03 de setembro, na sede da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) em Brasília (DF). Na presença de representantes de mais de 100 entidades da sociedade civil, foi apresentada a proposta de projeto de lei de iniciativa popular em prol do fortalecimento dos mecanismos de democracia direta.
“A CNBB acolhe com satisfação os parceiros de sempre”, disse, na abertura do evento, o presidente da entidade, cardeal Raymundo Damasceno Assis. Ele destacou a presença dos participantes do seminário nacional da 5ª Semana Social Brasileira. “A união de todos os membros é essencial para enfrentar a luta e vencê-la. Estamos aqui para continuar fortalecendo esta nossa missão comum que, com as bênçãos de Deus, haverá de produzir bons frutos”.
No ato público, foram apresentados os principais pontos da proposta: 1) afastar a influência do poder econômico das eleições, proibindo a doação de empresas; (2) necessidade de reformular o sistema político, incluindo a questão de gênero e estimular a participação dos grupos sub-representados; (3) regulamentação do artigo 14 da Constituição, em favor da democracia direta; (4) melhorar o sistema político partidário, aumentando a participação de militantes e filiados em torno de um programa político; (5) fidelidade partidária programática.
Os representantes dos diferentes organismos destacaram no evento a urgência para que a Reforma Política possa entrar na pauta do Congresso Nacional ainda este mês e valer já para as eleições de 2014. “Será preciso articular todas as entidades para envolver a sociedade nesse debate. A nossa luta nesse momento é a busca por mais de 1,5 milhão de assinaturas nesse projeto”, explicou dom Joaquim Giovani Mol, que preside a Comissão da CNBB para a Reforma Política.
“Precisamos explicar para a população os pontos de nossa proposta, já que há uma indignação com a forma como vivemos a política em nosso país”, completou dom Mol. Ele destacou a força das entidades presentes, como a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), União Nacional dos Estudantes (UNE) e as diferentes igrejas cristãs em torno desse objetivo. “Esse mês será de grande trabalho para todas essa entidades”.
Após o ato público, os representantes das entidades assinaram um Manifesto: CNBB, OAB, Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, Plataforma dos Movimentos Sociais, Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral, Central Única dos Trabalhadores, UNE, Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura, Conselho Nacional de Igrejas Cristãs e a Frente Parlamentar pela Reforma Política. Em seguida, os representantes se reuniram para detalhar como será feita a coleta de assinaturas em todo o país.


Eis que estou à porta e bato...
        Diac. Antonio Falleiros


O Senhor hoje nos acolhe em sua Casa, hospeda-nos ao redor do seu Altar sagrado, para nos falar de hospitalidade.
Aquele que nos hospeda é o mesmo que bate à nossa porta, humildemente, como hóspede, esperando ser acolhido por nós: “Eis que estou à porta e bato: se alguém ouvir minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele, e ele comigo”.
Abramos para ele nosso coração e nossa vida.
As leituras deste Domingo, nos apresentam dois modos de acolher o Senhor, mas que se relacionam e mutuamente se condicionam.
O primeiro, é acolhendo-o na sua Palavra, como Maria, a irmã de Marta e de Lázaro. Para nós, ela é modelo do discípulo perfeito, pois “sentou-se aos pés do Senhor, e escutava sua palavra”.
Marta também acolheu Jesus num acolhimento exterior e, portanto, superficial, como o daqueles que são cristãos tão empenhados em trabalhar por Cristo e em falar de Cristo, que esquecem de estar com Cristo, de realmente dar-lhe atenção na escuta da Palavra e na oração.
Ora, é nisto, precisamente, que Maria, hoje, é exemplo para nós: “sentou-se aos pés do Senhor”.
Vejamos a disponibilidade, à atenção à Pessoa de Cristo, a disposição em acolher a Palavra que brota do coração do Salvador: “escutava sua palavra”.
Cabe-nos perguntar: com toda a agitação, neste mundo dispersivo, neste mundo da competição e do estresse, tenho tido tempo, realmente, para acolher o Cristo que bate à minha porta? “Eis que estou à porta e bato: se alguém ouvir minha voz e abrir a porta, entrarei.”
Não tenhamos dúvida que grande parte da crise de fé e de entusiasmo de muitos cristãos decorre da falta desse acolhimento íntimo em relação ao Senhor, da incapacidade de hospedá-lo no nosso afeto e no nosso coração pela escuta da Palavra que se torna oração amorosa e perseverante.
Talvez sirva para todos nós, ativos em excesso e dispersos contumazes, a advertência de Jesus: “Marta, Marta! Tu te preocupas e andas agitada por muitas coisas. Porém, uma só coisa é necessária”.
Qual? Que coisa é a única necessária?
Estar aos pés do Senhor, abrindo-se à sua Palavra: “O homem não vive somente de pão, mas de toda Palavra que sai da boca de Deus”.
É esta a parte que Maria escolheu e que, por nós escolhida, jamais nos será tirada, porque Deus é fiel!
Mas, há um outro modo de acolher Aquele que está à porta e bate. Este modo deve decorrer da escuta da Palavra e mostra se essa Palavra é eficaz na nossa vida.
Trata-se de acolher os outros, de hospedá-los no nosso coração e na nossa vida. Recordemos a cena de Abraão, nosso Patriarca na fé.
Colhamos os detalhes! Abraão sentado, talvez descansando do almoço, “no maior calor do dia”. Ao ver os estrangeiros que lhe estão próximos, corre ao encontro deles.
Observemos a solicitude de nosso pai na fé: não os conhecia, mas corre, com pressa, até eles e os reverencia: “Assim que os viu, correu ao seu encontro e prostrou-se por terra”.
Observemos a insistência no convite para que os estranhos comam de sua mesa; notemos a solicitude em preparar rápido o melhor que tem: entrou logo na tenda, tomou farinha fina, correu ao rebanho e pegou um dos bezerros mais tenros e melhores, pegou coalhada e colocou tudo diante dos hóspedes.
Por que terá feito isso?
Porque tem fé! Para Abraão, não existe acaso. Notem como ele diz aos estrangeiros: “Foi para isso mesmo que vos aproximastes do vosso servo”.
Ou seja: fizestes-vos próximos de mim para que eu me faça próximos de vós e vos sirva!
Notemos ainda como a situação se inverte: ao início, Abraão estava sentado e os hóspedes, de pé; agora, Abraão está de pé, servindo, e os hóspedes, comodamente sentados.
Sem saber, naqueles estrangeiros, acolhidos desinteressadamente, Abraão estava acolhendo o próprio Senhor. E, ao fazê-lo, ao esquecer-se de si para preocupar-se com os outros, tornou-se fecundo:
“Onde está Sara, tua mulher? Voltarei, sem falta, no ano que vem, por esse tempo, e Sara, tua mulher, já terá um filho!”
Bendita hospitalidade, que gera vida! Bendito sair de nós, que nos torna fecundos!
Domingo passado, a Palavra nos fazia perguntar: quem é o meu próximo? Hoje a pergunta volta, insistente: quem são aqueles e aquelas que estão de pé, à porta da minha tenda esperando que eu os acolha no meu coração e na minha atenção?
Pensemos nos necessitados, nos desvalidos, nos sem amor, nos que caíram, nos que se sentem sozinhos, nos que batem à nossa porta pedindo uma esmola e nos que pedem atenção, respeito, compreensão, perdão e amor.
Somos tão tentados ao fechamento no nosso mundo e nas nossas preocupações! E, no entanto, neles, o Senhor bate à nossa porta, pede-nos hospedagem: “Eis que estou à porta e bato!”
E isso não é de hoje nem de ontem: desde Belém, que ele está à porta, desde Belém, que ele procura o nosso acolhimento! Desde Belém, não “havia lugar para ele na hospedaria”.
Somente poderemos hospedar Jesus em plenitude quando estes dois modos se completam: hospedá-lo na escuta da Palavra e no silêncio da oração e hospedá-lo naqueles que vêm a nós pelos caminhos da vida.
Calha maravilhosamente a 2ª leitura...
..........................

Amém.



30 junho 2013: Unidos somos mais fortes

Amados e amadas de Deus,

Ao celebrar Pedro e Paulo, dois ícones da Igreja de Cristo, queremos rezar pela Unidade, na Igreja, nas instituiões públicas e privadas, nos órgãos governamentais, nas cooperativas,  associações e entidades que lutam pelo bem comum. 
Vivemos um momento único de mudança em nosso país. As manifestações mostram a grande angústia do coração humano na busca do bem comum... para todos... não para uma minoria...
O Egoismo humano, o relativismo ético em nossa sociedade plural, podem ser superados com força da oração, a exemplo da comunidade cristã (Veja a primeira leitura, vale a pena  refletir!!!). 
Os exemplos de Pedro e Paulo mostram muito bem que a Unidade é possível ser construida na diversidade... Com certeza a grande diversidade em nossa vida moderna não é obstáculo para uma construção de uma sociedade melhor para todos.
As diferenças no ser humano, na sua individualidade, é dom de Deus... Agora as diferenças no tratamento ou nas politicas públicas, na forma de regulamentar e legislar que  proporciona injustiça... é fruto do egoismo diabólico e pecaminoso.
O exemplo de mudança radical do grande apóstolo Paulo, sua humildade e sua fidelidade em perceber os caminhos do Deus verdadeiro, anunciado em Jesus Cristo. Seu coração aberto aos dons do Espírito Santo que tirou sua segueira.... seja também a nossa força parta as mudanças que a nossa sociedade tanto reclama.
Peço-lhes a caridade para rezarem pelos Diáconos Permanentes de Uberlândio, em retiro canônico, neste final de semana. Rezemos principlamente para que Uberlândia venha a ter pelo menos um diácono em cada comunidade carente da Palavra de Deus... Deus proverá.
Rezemos:
"Pai Deus de misericórdia e bondade, que hoje nos concedeis a alegria de festejar São Pedro e São Paulo, concedei à vossa Igreja seguir em tudo os ensinamentos destes apóstolos que nos deram as primicias da fé. Por Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém.
Maria, Senhora do coração Imaculado, rogai por nós.
Boa semana a todos. O Senhor os abençoe e os santifique.
Diac Jerônimo


23 junho 2013: Para você Jesus é o Messias? Topa segui-lo?
A Liturgia deste domingo nos interpela a revelar a nossa experiência de fé, de esperança e de amor. Quem é Jesus Cristo para você?
Mergulhando mais fundo... saber quem é Jesus é muito importante.... Mais interessante: Estamos dispostos a segui-lo? Sabemos que ao segui-lo vamos encontrar muitas 'pedreiras' em nosso caminho. A cruz foi presente na vida de Jesus. Superar os desafios com nossas próprias potencialidade, parece-me nada sábio, pois Ele nos dá o seu Espírito SANTO, que tudo pode...
Diac Jerônimo

Comentário pessoal (19 junho 2013) – PROTESTE JÁ

De uma hora para outro apareceu de tudo. Bronca em relação aos  políticos, aos três poderes, às condições de vida, aos transportes, à corrupção, a Pec 37, a Copa, etc., e no meio de tudo isso a violência, o saque, o vandalismo entre outros. 
Nisso tudo, alguns aspectos interessantes podem ser ressaltados:
- Pessoas que valorizam os aspectos positivos como o cardeal Scherer de S.Paulo  “que as manifestações pacíficas que têm ocorrido em São Paulo e nas principais capitais do País tem "um caráter positivo": a de um "acordar da consciência do povo e das massas", e os que ressaltam a liberdade de expressão e o espírito crítico aos inconformismos.
- os que acham que tudo passa e logo volta ao cenário de sempre.
- Pessoas que, na perspectiva maquiavélica, olham tudo como de inspiração marxista  apesar da rejeição aos políticos da direita e da esquerda nas manifestações,.
-A violência que eclodiu tanto de extremistas, como de policiais militares como de bandidos não pode obscurecer um fenômeno novo, o de que a grande maioria de manifestantes: jovens, conectados às redes sociais, sem a vivência de quem lutou até a morte contra os comunistas ou contra a ditadura de direita nos anos 60 e 70.

Independente de julgamentos, a pergunta é: será que a nova evangelização pode chegar e de que forma aos jovens manifestantes?  Na visão macro, o papa Francisco tem dado sinais claros de renovação. E nos nossos campos de atuação, será que temos sido abertos ao Espírito Santo para renovar a nossa mensagem?

Comentário pessoal (17 jun 2013) O MILAGRE DO PAPA FRANCISCO
Sem dúvida a eleição do papa Francisco trouxe muita novidade para a Igreja Católica e para o mundo. A piada de que já fez um milagre (o de fazer os brasileiros gostar de um argentino) é significativa da simpatia e comunicação que ele demonstra  em suas palavras e ações  de que a nova evangelização se faz necessária em mundo em constantes mudanças.
Pessoalmente me tocam alguns pontos em vista da minha trajetória de vida:
O fato de se referir à ecologia humana, aspecto que estudei na década de 70 referindo-se ao equilíbrio de deve nortear as relações humanas vivendo em grupo e que atualmente tem se mostrado  muito poluída nas comunidades e na sociedade.
Quando ele diz que “O termo "nova evangelização" destaca a consciência cada vez mais clara de que, mesmo nos países de antiga tradição cristã, é necessário um renovado anúncio do Evangelho, para reconduzir a um encontro com Cristo que transforme de verdade a vida e não seja superficial, marcado pela rotina. E isso tem consequências para a ação pastoral.” Afinal no Brasil têm-se questionado o modelo de paróquias e de organização das comunidades.
E finalmente quando diz que: A lei do Espírito, “nos guia por uma estrada de contínuo discernimento para fazer a vontade de Deus e isto nos dá medo”. Um medo que "tem duas tentações". A primeira é a de "voltar para trás", de dizer "até aqui nós podíamos chegar, mas não podemos ir até lá, vamos ficar por aqui". Esta é “a tentação do medo da liberdade, do medo do Espírito Santo (...) É melhor ficar naquilo que é seguro". O papa contou então o caso de um superior geral que, nos anos 1930, "prescreveu todo tipo de regras anti-carisma" para os seus religiosos, "um trabalho de anos". Quando chegou a Roma, um abade beneditino lhe disse, depois de ouvir este fato, que ele teria "matado o carisma da congregação", "teria matado a liberdade", já que "este carisma dá frutos na liberdade e ele tinha freado o carisma".

De modo particular no diaconato permanente tenho observado amiúde o medo de criar, de ter iniciativa, do carisma, de viver a comunidade cristã do diaconato, pois é muito mais fácil seguir  o script, ficar isolado, não colocar nossas competências a serviço da ação pastoral para não despertar inveja.


Diretrizes para o Diaconado Permanente da Igreja do Brasil – Formação, Vida e Ministério – documento CNBB – 96 - 2012
  
Diáconos Antonio Eustáquio Marciano e Jerônimo Gomes Ferreira (Exposição na disciplina Diaconia do curso de Teologia da Faculdade Católica de Uberlândia. Prof. Pe.Willians Soares)

Introdução:
O documento de nº 96 da CNBB, contém três capítulos, numerados de 1 a 229, antecedidos por um decreto  datado de 11 de dezembro de 2011 e assinado pelo prefeito da Congregação para a Educação Católica e uma Apresentação  da CNBB.
 No decreto  fica evidenciado o foco missionário aperfeiçoando as Diretrizes para “incrementar e promover com todo o empenho a nova evangelização, hoje tão necessária”.
 Na apresentação, percebemos a diaconia, o cerne da missão da Igreja presente, a riqueza emanada do Novo Testamento onde o verbo ‘diakonein’ aparece 36 vezes e o substantivo ‘Diakonia’ ocorre 30 vezes e ‘Diákonos’ 34 vezes com significados diferentes. O serviço (diaconia) na citação bíblica de maior força está na declaração de Jesus, como “aquele que serve” (Lc. 22,27). A partir do ‘servir às mesas’, a palavra ‘diakonia’ evoluiu para designar dois elementos:
·       todos os ministérios que são apresentados como serviço à vida da comunidade.[1]
·       a designação de um ministério’ específico que se chamou ‘ministério diaconal(p.11) [2]
 O ministério diaconal permanente na história da Igreja  desapereceu no século V , sendo restaurado no Concílio Vaticano II (LG n. 29). A presente Diretrizes para o Diaconado Permanente,  é entregue “às Igrejas locais, às comunidades, aos Diáconos Permanentes e às Escolas Diaconais”. (p.12), em 19 de março de 2012.

Capítulo I – O Diaconado Permanente na vida e na Missão da Igreja

A - Os aspectos históricos do Diaconado Permanente: (1 a 18 )

·        na Igreja primitiva. – At 6,1-6 –“sete homens de boa reputação”  – Fl 1,1 e 1Tm 3,8-13 aparece a palavra “diácono”. Didaqué: “homens dóceis, desprendidos, verazes e firmes” . Inácio de Antioquia: “honrados como Cristo”. Hernas: “pedras quadradas e brancas na construção da Igreja”. Didascalia Apostolorium: “cada cidade [...]  suficiente número de diáconos que seja os ouvidos e a alma do bispo”(n. 2). Primeiras comunidades Cristãs: “diaconia é a expressão concreta do amor”. Comunidades do I século: “organização caritativa da Igreja que provoca admiração entre os pagãos [...] pela diaconia da acolhida nas casas, pela diaconia da coleta, pela diaconia da Palavra, pela diaconia da administração dos bens [...] sociedade sem necessitados” (n.3).
·         no Concílio Vaticano II.  O Concílio  Vat II através da LG n. 29 “restaurou o diaconado como grau próprio e permanente da hierarquia e estabeleceu condições teológicas-pastorais favoráveis para que esse ministério pudesse desenvolver-se plenamente” (n. 4).
·        na América Latina, no Brasil  -  Primeiros diáconos ordenados  ocorreu em Bogotá, (4 brasileiros), por Paulo VI em 22.08.68. Em Medelin: “formar diáconos que sejam capazes de criar novas comunidades cristãs e ativar as existente”.  Puebla: “o carisma do diácono tem grande eficácia para a realização de uma Igreja servidora e pobre”. Santo Domingo: “serviço de comunhão na América Latina e tem amplo campo de serviço em nosso continente”.  Aparecida: “discípulos missionários de Jesus Servidor, ordenados para o serviço da Palavra, da caridade, e da liturgia” (n. 7).Brasil: Primeiro curso para candidatos ao diaconado permanente em 3.03.66, Salvador. Primeiro Encontro Nacional de Diáconos: 17 a 19 de junho/70, Porto Alegre. Primeira CND: 28.06.81 em Campo Grande-MS(n. 16).

B-  Fundamentos Teológicos:  (19 a 66)[3]
·        a diaconia de Cristo e da Igreja. “O ministério apostólico encontra na missão de Cristo, seu fundamento e modelo” Fundamenta LG 10, Mt 20,28: “O filho de Deus, que não veio para ser servido, mas para servir e dar sua vida em resgate de muitos (Mt 20,28) testemunhou e ensinou que quem quiser ser o maior, seja o servo de todos” (Mc 42-45) (n. 19). “Cristo, Profeta, Sacerdote  e Pastor é enviado pelo Pai como “diácono” de sua vontade, para realizar, pela força do Espírito Santo, de maneira plena e definitiva, o projeto de salvação da humanidade [...] Por isso, escolhe e envia ministros para anunciar a Boa Nova da Salvação” (Mc 16,15)(n. 21). “A missão da Igreja, por natureza, reveste-se de caráter universal. Através da Ordenação, ela coloca seus ministros em estado de missão, [...] situam-se no âmbito da diaconia eclesial” (n. 26/27).
·         O Ministério diaconal (natureza,  identidade, missão e Sacramentalidade) “derivam de uma real consagração ontológica, que envolve a totalidade da pessoa” (n. 45). “O diácono é a expressão do ministério ordenado colocado o mais próximo possível da realidade laical e do protagonismo dos leigos. [...] um impulso missionário para que sejam apóstolos em suas famílias, [...] trabalho, [...] comunidades e nas novas fronteiras de missão” (N. 51). Não existe para si mesmo, mas um serviço à comunidade eclesial. “O diaconado não implica, desvalorizar a condição própria do leigo e os ministérios por ele exercidas, mas discernir e acolher um apelo de Deus para outra forma de serviço” O diácono define-se como sacramento de Cristo Servo e como expressão da Igreja servidora” (n. 28). Percebe-se com muita clareza “um serviço único e insubstituível a comunidade, [...] longe de qualquer dominação. [...] Jesus rejeita atitudes de domínio e autoritarismo (Mt 4,8-10; Jo 6,15; Mt 16,21-23; 16,1-6;20,20-28). Os apóstolos criticam vigorosamente tais atitudes (At 20,17-38; Rm 2,11; 1Cor4,6-7; 1Pd 5,1-4) (n. 30). A solidificação do ministério do Diácono  depende dessa capacidade de assimilar e testemunhar a diaconia de Cristo. (n. 31). Sua identidade como ministro ordenado, marcada sacramentalmente, difere dos demais cristãos,  já no seu início, valorizada pela “imposição das mãos do bispo, ele recebe, publicamente, de modo irrevogável e definitivo, o mandato e a missão do serviço” (n. 33). A participação especial da diaconia de Cristo é a razão de ser do diácono, “pela força do Espírito, através do sacramento da Ordem. Ao exercer o seu ministério, desempenhando, muitas vezes, algumas funções do presbítero, ou até mesmo aquelas que os leigos podem fazer, o diácono as realiza de um modo novo, marcado por uma graça específica que o configura a Cristo Servidor” (n. 35). “São-lhes impostas as mãos, não para o sacerdócio, mas para o ministério”, afirma o Concílio (LG 29). Sua missão está ligada ao Cristo-Servo. Potencializa para todo o Povo de Deus a diaconia da Igreja. “através da vivência da dupla sacramentalidade, a do Matrimônio e a Ordem, ele realiza seu serviço, detectando e promovendo líderes, [...] para uma cultura da reconciliação e da solidariedade, principalmente nas zonas rurais distantes e nas grandes áreas urbanas densamente povoadas, onde só através dele um ministro ordenado se faz presente (n. 41). [...] Uma força motriz para a diaconia da Igreja. [...] Vós deveis também ser sinais vivos da condição de servos da sua Igreja”, afirma Paulo VI (n.42).

A Tríplice missão: “Fortalecidos com a graça sacramental, os diáconos servem ao povo de Deus na diaconia da liturgia, da Palavra e da caridade, [...] não apenas em nome do bispo e com sua autoridade, mas em nome de Cristo e com sua autoridade, mediante a consagração do Espírito Santo (N. 53).

1.      Diaconia da Caridade – É  o campo previlegiado do exercício de evangelização. “O diácono testemunha a presença viva da caridade de toda a Igreja e contribui para a edificação do Corpo de Cristo, [...] vai ao encontro das pessoas de qualquer religião ou raça, classe ou situação social, fazendo se um sevidor de todos como Jesus” (n.55).  É o apóstolo da caridade com os pobres, “envolvido com a conquista de sua dignidade e de seus direitos econômicos, políticos e sociais. Está próximo da dor do mundo. Deixa-se tocar e sensibilizar pela miséria e pelas provações da vida. Reveste-se de especial compaixão pelos migrantes, as vítimas da violência [...] tráficos de pessoas e seqüestros, os desaparecidos, os enfermos endêmicos, os tóxicos-dependentes, idosos, meninos e meninas vítimas da prostituição, [...] compete aos diáconos administrar os bens e as obras  de caridade e promoção social da Igreja” (n. 58).

2.      Diaconia da Palavra – Missão  primordial da Igreja como sinal da presença do reino. Para ser servidor, o diácono é ouvinte e discípulo da Palavra. A leitura meditada e orante é “critério de juízo e avaliação dos homens e das coisas, dos acontecimentos e dos problemas” (n. 60). [...] Não se restringe à homilia ou ao anúncio da Palavra, [...] testemunho de um ouvinte assíduo e convicto do Evangelho. Transmite à comunidade a Palavra libertadora que ele próprio já experimentou o poder de transformação” (n. 61).
3.       Diaconia da Liturgia – “Execida na celebração dos sacramentos  ou sacramentais, na presidência das celebrações da Palavra e nas orações (n. 63).  [...] nutre-se constatemente da Eucaristia, sacramento do serviço da Caridade (n. 65) [...] o diácono traz para o altar as oferendas dos fiéis e leva a eles o pão eucarístico. Leva aos doentes o Corpo do Senhor e o auxílio da comunidade, [...] no culto, o serviço encontra sua fonte; no serviço, o culto revela sua eficácia” (n. 66).

C -  Os aspectos Canônicos (67 a 78)
·       Incardinação   - Uma vez ordenado o diácono fica incardinado na Igreja particular para qual foi ordenado (n. 67) .   Ministério de leitor e acólito com exercício de seis meses. 25 anos para solteiros, 35 anos para casado, consentimento da esposa (n.69). Segunda núpcias em casos especiais.
·        Missão canônica  - Missão em estreita comunhão com o bispo, em setores pastorais a nível diocesano. Fora da diocese  observe-se a devida autorização dos bispos (n. 73/74).
·        Direitos e deveres – Retiro espiritual anual, prioridade ao ministério e à caridade pastoral, com foco na paz e justiça, defesa dos direitos e promoção do bem comum , participação política só em casos de eventual necessidade, a critério do bispo (n.77/78).





[1] A palavra diaconia  ou serviço é o método pelo qual a Igreja exerce a tarefa profética de evangelizar para qual é enviada. É uma referência ao  ministério da Igreja. Em, se tratando de ministério específico, na prática da Igreja antiga, diáconos são encarregados dos serviços da caridade, hoje é expressar e tornar efetivo a relação entre Igreja e mundo, entre liturgia e serviço, entre comunidade e o movimento popular... (ver artigo de Sebastião Armando Gameleira Soares-www3.est.edu.br/pubicacoes/estudos-teologicos/.../diaconia.soc. extraído em 05 de Nov 2012 às 22h 30.

[2]Dado que o diácono permanente é simultaneamente pai e esposo, exerce uma profissão civil e se consagra à comunidade eclesial pelo sacramento da Ordem, sua vocação abrange vários aspectos. Na verdade, são três grandes dimensões: familiar, profissional e eclesial. Embora com desafios próprios, estas não deixam de contribuir positivamente para a realização da vocação diaconal. 
[3] Percebemos na Diaconia de Cristo e da Igreja o cerne e razão de ser do Diácono Permanente, abrindo novas perpectivas pastorais, pois “todo ministério profético, sacerdotal e pastoral não é um previlégio, pois é sacramento de sua diaconia para todos. [...] É, sobretudo, característica daqueles que são constituídos pastores do povo de Deus” (LG n. 24). Paulo usa o termo “diaconia”, quando descreve o ministério dos responsáveis pela comunidade. (1Cor 3,5; 12,5; 16,15; 2 cor 3,6; 8,4,9,22,11,23).




Estudo sobre a Oração de São Francisco de Assis, fundamentado na Bíblia Sagrada:

Faze de mim um instrumento da Tua Paz
“O fruto do Espírito é amor, alegria, paz, longanimidade, bondade, fidelidade” (Gl 5,22).
Onde há ódio, faze que eu leve o Amor
“Eu porém vos digo: Amai os vossos inimigos, fazei o bem aos que vos odeiam”  (Lc 6,27).
Onde há ofensa, que eu leve o Perdão
“Se perdoardes aos homens os seus delitos, também o vosso Pai celeste vos perdoará”  (Mt 6,14).
Onde há discórdia, que eu leve a União
“O fruto da luz consiste em toda bondade, justiça e verdade”  (Ef 5,9).
Onde há dúvidas, que eu leve a Fé
“Pela graça, fostes salvos, por meio da fé, e isso não vem de vós, é dom de Deus”  (Ef 2,8).
Onde há erros, que eu leve a Verdade
“Se permanecerdes na minha palavra, sereis verdadeiramente meus discípulos e conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”  (Jo 8,31).
Onde há desespero, que eu leve a Esperança
“E quando eu me for e vos tiver preparado um lugar, virei novamente e vos levarei comigo, a fim de que, onde estiver, estejais vós também”  (Jo 14,3).
Onde há tristeza, que eu leve a Alegria
“Ficai sempre alegres, orai sem cessar. Por tudo dai graças, pois esta é a vontade de Deus a vosso respeito, em Cristo Jesus”  (1 Ts 5,16).
Onde há trevas, que eu leve a Luz
“Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade situada sobre um monte. Nem se acende uma lâmpada e se coloca debaixo do alqueire, mas no candelabro, e assim ela brilha para todos os que estão em casa. Brilhe do mesmo modo a vossa luz diante dos homens para que, vendo as vossas boas obras, eles glorifiquem vosso Pai que está nos céus”  (Mt 5,14-16).
Ó Mestre! Faze que eu procure menos ser consolado, do que consolar
“A finalidade da minha carta era evitar que, ao chegar, eu experimentasse tristeza da parte daqueles que me deveriam proporcionar alegria. Estou convencido, no que vos diz respeito, de que a minha alegria é também a de todos vós. Por isto, foi em grande tribulação e com o coração angustiado que vos escrevi em meio a muitas lágrimas, não para vos entristecer, mas para que conheçais o amor transbordante que tenho para convosco”  (2 Cor 13,3-4).
Ser compreendido, do que compreender
“Para que sejam confortados os seus corações, unidos no amor, e para que eles cheguem à riqueza da plenitude do entendimento e compreensão do mistério de Deus no qual se acham escondidos todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento”  (Cl 2,2-3).
Ser amado, do que amar...
“Não devais nada a ninguém, a não ser o amor mútuo, pois quem ama o outro cumpriu a Lei    (Rm 13, 8-10)
                          Porquanto:
 É dando, que se recebe
“A alma que abençoa prosperará e o que rega será também regado”  (Pr 11,25).
 É perdoando, que se é perdoado
“E perdoa-nos as nossas dívidas como também nós perdoamos aos nossos devedores”  (Mt 6,12).
 É morrendo, que se vive para a vida eterna.
“Se, pois, ressuscitastes com Cristo, procurai as coisas do alto, onde Cristo está sentado à direita de Deus. Pensai nas coisas do alto e não nas da terra, pois morrestes e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus: quando Cristo, que é a vossa vida, se manifestar, então vós também com ele sereis manifestados em glória”  (Cl 3,1-4).
                                                   Rio de Janeiro, abril de 2013
                                                Diácono Juan Gómez Hernández
                            “Viverei a ventura da graça, cada dia da vida”.  Salmo 22.
Vinicius diácono.

Você conhece o  Diácono Juan Gómez Hernández? Caso positivo, transmita meus cumprimentos fraternais a ele. Deveríamos  incentivar e divulgar as produções de nossos irmãos no diaconato. Quem  sabe eu abro uma página nos diáconos de Uberlândia para isso.
um abraço
Fernando Leite, diácono 


 Fernando 
Paz!
O diácono Juan é um dos meus melhores amigos. Agradeço a Deus tê-lo me dado quase no fim da vida. Foi ordenado em 28-11-1998 durante um dos meus períodos de coordenador.
É de origem espanhola, veio para o Brasil ainda jovem (e até hoje, aos 82 anos ainda fala portunhol...). Casado com a Maria Lúcia há 56 anos (hoje - 27/4) musicista, violinista etc., com dois filhos e também foi coordenador Presidente da CADIPERJ. Foi diretor financeiro na antiga Mesbla.
Participa comigo do programa Vox Ecclesiae na Rádio Catedral nestes últimos anos para onde escreve belos artigos em correto português e lê em espanhol...:-)
(tem faltado  nestes últimos por motivo de saúde e recebe minhas broncas...por isso, já que sinto falta dele assim como os ouvintes).
É um homem justo e santo, que me elogia quando acha que deve e me corrige quando erro (o que é maioria). O verdadeiro AMIGO.
Fico feliz pelo elogio que você fez a ele e me envaidece já que amo este bom diácono.
Vou repassar seu e-mail para ele.
Abraço fraterno 
Vinicius 



A luz de Jesus é uma luz humilde, mansa, que não se impõe
Papa Francisco na homilia em Santa Marta convida a pedir discernimento para distinguir quando a luz vem de Deus ou quando é uma luz artificial, feita pelo inimigo


CIDADE DO VATICANO, 03 de Setembro de 2013 (Zenit.org) - “A luz que nos oferece o mundo é uma luz artificial, talvez forte, até mais forte como aquela de Jesus, assim como um fogo de artifício, como um flash de uma fotografia. Ao contrário a luz de Jesus é uma luz mansa, uma luz tranquila, é uma luz de paz, é como a luz da noite de Natal: sem pretensões.”
A identidade cristã é uma identidade da luz e não das trevas – comentouo Papa referindo-se à primeira leiturade hoje,da carta de São Paulo aosTessalonicenses.“Muitas vezes o demônio aparece travestido de anjo da luz - destaca a notícia publicada pela Rádio Vaticana. "Quantos acreditam de viver na luz e afinal vivem nas trevas, porque não querem ver a luz de Jesus que é uma luz humilde, mansa, que não se impõe, uma luz com a força da humildade e da mansidão que nos ajuda a olhar sem medo a Cruz de Cristo”- prosseguiu Francisco.
“No entanto, se nos deixarmos enganar e aceitamos uma luz que nos faz ser orgulhosos e cheios de soberba essa é a luz do diabo. E para distinguir uma luz da outra? Basta saber aonde está a humildade, a mansidão, o amor e a cruz, é aí que está Jesus, a verdadeira luz - disse o papa. 
“Jesus não precisa de um exército para expulsar os demônios, nem precisa da soberba, nem da força, nem do orgulho. Que palavra é esta que comanda com autoridade e potência aos espíritos impuros e esses desaparecem? Esta é uma palavra humilde, mansa, com tanto amor; é uma palavra que nos acompanha nos momentos de cruz. Peçamos ao Senhor que nos dê hoje a graça da sua luz e nos ensine a distinguir quando a luz é e vem Dele ou quando é uma luz artificial, feita pelo inimigo para nos enganar”. 

CNBB promove a 5ª Semana Social Brasileira

O Estado que temos e o Estado que queremos

BRASíLIA, 02 de Setembro de 2013 (Zenit.org, Cnbb.org) - A Comissão Episcopal Pastoral para o Serviço da Caridade, da Justiça e Paz da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), em parceria com movimentos sociais, promove em Brasília (DF) de 2 e 5 de setembro de 2013, o seminário que marca o encerramento da 5ª Semana Social Brasileira (SSB). O evento será realizado no Centro Cultural de Brasília e terá como tema “O Estado que temos e o Estado que queremos”. A abertura, na tarde desta segunda-feira, 2 de setembro, às 15 horas, contará com a presença do presidente da CNBB, cardeal Raymundo Damasceno Assis.
A SSB é uma mobilização da sociedade a partir das comunidades eclesiais, dos movimentos sociais, das pastorais e dos organismos para uma reflexão crítica das estruturas do Estado. Nesta edição, a Semana propõe um reforço aos mecanismos de controle do Estado, mediante a ampliação e universalização da democracia participativa e direta, para além da democracia representativa.
A mobilização é realizada no Brasil desde o final da década de 1990. A temática desta edição foi motivada pelas constantes denúncias de corrupção de agentes do Estado brasileiro. Em março de 2010, a CNBB, como uma forma de contribuir com o debate crítico sobre tal situação, publicou o documento “Por uma reforma do Estado com participação”. Desde então, as pastorais sociais decidiram promover a 5ª SSB para aprofundar o debate sobre o Estado. Em abril de 2011, a Assembleia Geral dos Bispos do Brasil aprovou, por unanimidade, a realização da 5ª SSB.
Mais informações: www.semanasocialbrasileira.org.br 



Papa Francisco: A língua e as fofocas: armas cotidianas que matam os irmãos         

Na primeira missa em Santa Marta depois das férias, o papa Francisco adverte contra a inveja que o diabo semeia no coração para destruir comunidades e famílias

Por Salvatore Cernuzio

ROMA, 02 de Setembro de 2013 (Zenit.org) - A reflexão do papa partiu do evangelho do dia, em que Lucas narra o encontro de Jesus com os habitantes de Nazaré, seus conterrâneos. Eles, disse o papa, escutam com admiração as palavras do Messias, mas não estão convencidos delas a fundo, porque esperam algo diferente dele: "Queriam um milagre, queriam ver o show" para acreditar. É por isso que Cristo os acusa de não terem fé. “E eles se irritam. Eles se levantam e empurram Jesus até a montanha para jogá-lo lá de cima, para matá-lo”.

“Vejam como a coisa mudou”, observa Bergoglio. “Eles começaram com beleza, com admiração, e quase terminaram com um crime, querendo matar Jesus”. Tudo por inveja. Esta "não é uma coisa que aconteceu há 2.000 anos", mas que "acontece todos os dias em nossos corações, em nossas comunidades. Quando dizem, numa comunidade, ‘ah, que boa pessoa essa que veio para cá’, falam bem dela no primeiro dia, no segundo nem tanto e no terceiro já começam a fofoca e no fim a expulsam".

Portanto, "aqueles que numa comunidade falam mal dos irmãos, dos membros da comunidade", devem saber que "desejam matar" o seu irmão, do mesmo modo que os habitantes de Nazaré queriam matar Jesus, disse o Santo Padre. E, ecoando as palavras do apóstolo João, no capítulo III da sua primeira carta, Francisco prosseguiu: "Quem odeia o seu irmão no seu coração, é um assassino".

"Estamos acostumados a falar, a fofocar", comentou Francisco, acrescentando: "Mas quantas vezes as nossas comunidades, a nossa família, são um inferno por causa desse crime de matar o irmão, a irmã, com a língua!". Toda uma comunidade, uma família, pode ser "destruída" por essa inveja "que semeia o diabo no coração e faz um falar mal do outro", advertiu Bergoglio. "A língua e a fofoca podem aniquilar o outro tanto quanto uma arma. Nestes dias, em que falamos tanto da paz e vemos as vítimas das armas, temos que nos preocupar também com essas armas de todos os dias".

"Cada comunidade tem de viver com o Senhor e ser como o céu". Para isto, para que "a paz esteja numa comunidade, numa família, num país, no mundo, temos que estar com o Senhor". Porque "onde está o Senhor não há inveja, não há crime, ódio, ciúme. Há fraternidade".

Como exortação final, o papa pediu que todos roguem a Deus a graça de "nunca matar o próximo com a língua, de estar com o Senhor como estaremos no céu".


 





“GUERRA CHAMA GUERRA! A HUMANIDADE GRITA PELA PAZ”.   - PAPA CONVOCA DIA DE ORAÇÃO E JEJUM PELA SÍRIA

Cidade do Vaticano (RV) – O Papa convidou este domingo os fiéis de todas as Igrejas e religiões, as pessoas que não creem e todos os homens e mulheres de boa vontade a praticarem o jejum e a oração no dia 07 de setembro, em favor da Síria. Visivelmente preocupado, Francisco dedicou inteiramente seu encontro de domingo à situação no país médio-oriental, onde a guerra civil já matou mais de 100 mil pessoas em três anos. Foi a primeira vez que o Papa não fez alguma menção à liturgia do dia antes de rezar a oração mariana do Angelus no Vaticano.
A multidão que lotava a Praça São Pedro ouviu as palavras do Pontífice com atenção e aplaudiu a decisão de Francisco de promover o “Dia de oração e jejum pela Síria”:
Decidi convocar toda a Igreja, no dia 07 de setembro, vigília da Natividade de Maria, Rainha da Paz, para um dia de oração e jejum pela paz na Síria, no Oriente Médio e no mundo inteiro. Convido a unir-se a esta iniciativa, do modo que considerarem mais oportuno, os irmãos cristãos não-católicos, os fiéis de outras religiões e todos os homens de boa vontade”.
Logo ao chegar ao balcão, depois do tradicional “Bom dia” dirigido ao público, Francisco disse que queria interpretar o grito que “se eleva de todos os cantos e povos da terra, do coração de cada um e da única família, que é a humanidade: o grito da paz”.
“Nunca mais a guerra! A paz é um dom precioso demais; deve ser promovido e tutelado”.
Evocando as “terríveis imagens” vistas nos últimos dias na Síria, o Papa disse estar angustiado pelos “dramáticos eventos que ainda podem acontecer” e fez um apelo por negociações e contra o uso de armas, condenando a utilização de gases químicos:
“Pensemos em quantas crianças não poderão ver a luz do futuro! Com firmeza especial, condeno o uso de armas químicas. Existe o juízo de Deus e também o juízo da História sobre as nossas ações, e a estes ninguém pode se subtrair! O uso da violência nunca gera paz. Guerra chama guerra, violência chama violência! Com toda a minha força, peço aos envolvidos neste conflito que ouçam as suas consciências, que não se fechem em seus interesses, mas que vejam o próximo como seu irmão, que empreendam com coragem e decisão o caminho do encontro e das negociações, superando cegas contraposições. Exorto com igual firmeza a Comunidade Internacional a fazer todo esforço para promover e não protelar iniciativas claras pela paz, baseadas no diálogo, pelo bem de todo o povo sírio.
Francisco pediu ainda que não se poupem esforços para garantir assistência humanitária aos afetados por este terrível conflito, especialmente aos desalojados no país e aos inúmeros refugiados nos países vizinhos. E que aos agentes humanitários seja assegurada a possibilidade de prestar a ajuda necessária.
O compromisso pela Paz proposto pelo Papa se estende a todos, pois “a paz é um bem que supera qualquer barreira, porque é um bem de toda a humanidade”.
“Repito em alta voz: não é a cultura do atrito, a cultura do conflito que constrói a convivência nos povos e entre os povos, mas a cultura do encontro, a cultura do diálogo: esta é a única via para a paz. Que o grito de paz se eleve e chegue aos corações de todos, para que deponham as armas e se deixem guiar pelo anseio de paz”.
“E nós, o que podemos fazer pela paz no mundo? Como dizia Papa João XXIII, todos têm o dever de recompor as relações de convivência na justiça e no amor”. E no espírito da “corrente de empenho pela paz para unir os homens e mulheres de boa vontade”, marcou encontro:
“Aqui, de 19h até meia-noite, vamos nos reunir em oração e em penitência para invocar de Deus este grande dom para a amada nação síria e para todas as situações de conflito e de violência no mundo. A humanidade precisa ver gestos de paz e ouvir palavras de esperança e de paz!”
Papa Bergoglio terminou com uma oração a Maria, para que nos ajude a responder à violência, ao conflito e à guerra com a força do diálogo, da reconciliação e do amor. E pediu às Igrejas particulares que promovam iniciativas semelhantes de reflexão, oração e sensibilização para a situação na Síria. (CM)
Texto proveniente do site da Rádio Vaticano da página:



Papa Francisco:   "Fé e violência são incompatíveis!"

Palavras do Papa Francisco no Angelus de hoje: Seguir Jesus comporta renunciar ao mal, ao egoísmo e escolher o bem, a verdade, a justiça, também quando isso requer sacrifício e renúncia aos próprios interesses. E isso sim, divide; o sabemos, divide também os vínculos mais estreitos. Mas cuidado: não é Jesus que divide! Ele coloca o critério: viver para si mesmos, ou viver para Deus e para os outros; fazer-se servir ou servir; obedecer ao próprio ego, ou obedecer a Deus. Eis em que sentido Jesus é "sinal de contradição" (Lc 2, 34). 

Portanto, esta palavra do Evangelho não autoriza o uso da força para difundir a fé. É exatamente o oposto: a verdadeira força do cristão é a força da verdade e do amor, que traz consigo a renúncia a toda violência. Fé e violência são incompatíveis! Fé e violência são incompatíveis! Pelo contrário, fé e fortaleza caminham juntas. O cristão não é violento, mas é forte. E com que fortaleza? Aquela da mansidão, a força da mansidão, a força do amor.
Queridos amigos, até mesmo entre os parentes de Jesus havia alguns que em um certo ponto não compartilhavam o seu modo de viver e pregar, é o que nos diz o Evangelho (cf. Mc 3, 20-21). Mas sua mãe sempre o seguiu fielmente, tendo fixo o olhar do seu coração em Jesus, o Filho do Altíssimo, e no seu mistério. E, finalmente, graças à fé de Maria, os familiares de Jesus entraram na primeira comunidade cristã (cf. At 1,14). Pedimos a Maria que nos ajude também a manter o olhar bem fixo em Jesus e a seguí-Lo sempre, mesmo quando custa.
Tradução Thácio Siqueira



Papa Francisco: "Precisamos edificar, criar, construir, uma cultura do encontro"

O Santo Padre enviou uma vídeo-mensagem para os fiéis reunidos no santuário de São Cayetano em Buenos Aires

Por Redacao
ROMA, 07 de Agosto de 2013 (Zenit.org) - ...Como arcebispo de Buenos Aires, o então cardeal Bergoglio presidia a celebração na festa de São Caetano e, ao finalizar a missa, percorria em sentido contrário a fila dos fieis para falar com eles, escutar as suas histórias e abençoar as crianças. A mensagem do Papa será transmitida ciclicamente na televisão católica de Buenos Aires Estas são as palavras do Santo Padre na mensagem:
***
Boa tarde!
Como todos os anos, depois de percorrer a fila, falo com você. Desta vez percorri a fila com o coração. Estou um pouco distante e não posso compartilhar com vocês este momento tão lindo. Agora que vocês estão caminhando rumo à imagem de São Caetano. Para quê? Para encontrar-se com ele, para encontrar-se com Jesus. Mas hoje, o lema desta peregrinação, lema eleito por vocês, selecionado entre tantas possibilidades, hoje o lema fala de outro encontro, e diz: “Com Jesus e São Caetano, vamos ao encontro dos mais necessitados”. Fala do encontro das pessoas que precisam mais, daqueles que precisam da nossa mão, que precisam que lhes olhemos com carinho, que compartilhemos a sua dor ou suas ansiedades, seus problemas. Mas o importante não é olhá-los à distância, ou ajudá-los à distância. Não, não! É ir ao encontro. Isso é o cristão! Isso o que ensina Jesus: ir ao encontro dos mais necessitados. Como Jesus que ia sempre ao encontro das pessoas. Ele ia encontrá-los. Sair ao encontro dos mais necessitados. 
Às vezes eu pergunto a alguém:
- Você dá esmola?
Me dizem: "Sim, padre".
- "E quando dá esmola, olha para os olhos das pessoas a quem dá esmola?"
- "Ah,  não sei, não percebi."
- "Então não o encontrou. Jogou-lhe a esmola e foi embora. Quando você dê esmola, toca a mão ou joga-lhe a moeda?"
- "Não, jogo-lhe a moeda"
"E você não o tocou, e se não o tocou, não se encontrou com ele".
O que Jesus nos ensina é primeiro encontrar-nos, e no encontro, ajudar. Precisamos saber encontrar-nos. Precisamos edificar, criar, construir, uma cultura do encontro. Tantos desencontros, problemas na família, sempre! Problemas no bairro, problemas no trabalho, problemas em todas partes. E os desencontros não ajudam. A cultura do encontro. Sair para encontrar-nos. E o lema diz, encontrar-nos com os mais necessitados, ou seja, com aqueles que precisam mais do que eu. Com aqueles que estão passando um mal momento, pior que o que eu estou passando. Sempre existe alguém em pior situação do que eu, hein?, Sempre! Há sempre alguém. Então, eu acho que estou tendo um momento difícil, venho à fila para encontrar-me com São Caetano e com Jesus, e depois saio para encontrar-me com os demais, porque sempre há alguém pior do que eu. É com esses que nós temos que nos encontrar.
Obrigado por escutar-me, obrigado por ter vindo aqui hoje, muito obrigado por tudo o que vocês tem no coração. Jesus os ama! San Caetano os ama! Somente pede-lhes uma coisa: que se encontrem! Que vão e procurem e encontrem o que mais precisa! Mas não sozinhos. Com Jesus, com São Caetano! Vou convencer o outro a fazer-se católico? Não, não, não! Você vai encontrá-lo, é seu irmão! Isso basta! E vai ajudá-lo, o resto é Jesus que o faz, o Espírito Santo que o faz. Lembre-se bem: Com São Caetano, os necessitados, vamos ao encontro dos mais necessitados. Com Jesus, os necessitados, os que mais necessitam, vamos ao encontro dos que mais necessitam. E tomara que Jesus vá marcando-lhe o caminho para que você se encontre com quem mais necessita.
Quando o seu coração se encontra com aquele que mais necessita, começará a aumentar, aumentar, aumentar! Porque o encontro multiplica a capacidade do amor. O encontro com outro, aumenta o coração. Anime-se! “Não sei como fazer sozinho”. Não, não, não! Com Jesus e com São Caetano! Que Deus lhes abençoe e que termine bem o dia de São Caetano. E por favor, não se esqueça de rezar por mim. Obrigado.
Tradução Thácio Siqueira



Deixar de lado o comodismo de fazer psicologia usando receitas prontas

Análise do livro "Experiência Elementar em Psicologia: aprendendo a reconhecer", de Miguel Mahfoud

Por Maria Izabel de Aviz
BRASíLIA, 05 de Agosto de 2013 (Zenit.org) - Miguel Mahfoud, no seu livro “Experiência Elementar em Psicologia: aprendendo a reconhecer”, publicado pela Editora Universa da Universidade Católica de Brasília/DF em 2012, resgata e mostra para nós psicólogos – e em especial para nós psicólogos psicoterapeutas – qual postura terapêutica diante da pessoa humana atendida nos permite ver e entender a ajuda ou o atendimento psicológico que ela nos mostra ter necessidade. Ele com simplicidade e profundidade, numa atitude generosa, nos toma pela mão e nos abre os horizontes da pessoa humana. Convida-nos a ficar atentos e identificar a experiência humana nos aspectos que a definem, tendo o essencial diante dos nossos olhos, enquanto nos relacionamos com a pessoa que estamos atendendo no nosso agir psicológico. Propõe-nos ficarmos atentos à própria experiência, identificarmos sua dinâmica e tirar consequências do fato que a nossa humanidade seja assim. Incita-nos a cuidar da experiência humana em todos os seus aspectos: físicos, psicológicos, sociais, culturais, históricos, transcendentes, espirituais, etc. Convida-nos acima de tudo a deixarmos de lado o comodismo de fazer psicologia usando as receitas prontas que nos são transmitidas nas medidas da maioria dos nossos métodos terapêuticos, porque o paradigma que orienta a psicologia dos nossos dias mudou: agora vale a pessoa humana em todas as suas dimensões e plenitude.
A “experiência elementar” em psicologia que ele nos mostra neste livro, compreende a pessoa humana, entende a sua intencionalidade, se coloca junto para captar o significado que está escondido na pessoa atendida; aciona no psicólogo experiências pessoais de níveis e significados mais profundos que provocam uma abertura na pessoa que está sendo atendida por ele ajudando-a a entrar em contato com a sua própria experiência elementar e reconstruir a compreensão e a comunicação interpessoal. Ambos, psicólogo e pessoa atendida seguem os mesmos passos da vivência da pessoa, fazendo parte.
Miguel Mahfoud nos mostra também neste livro que o psicólogo – ao focalizar e refletir sobre a irresistível inquietação humana de buscar respostas cada vez mais satisfatórias para as necessidades da pessoa humana – compreende a sua própria experiência elementar e as exigências originárias que a descrevem, ou seja, compreende a estrutura una e única da pessoa humana. Passa então a perceber que a pessoa humana não pode evitar que as exigências elementares surjam como desejos e produzam inquietação, e que a experiência elementar identifica o ponto de encontro entre a livre subjetividade da pessoa e uma dimensão objetiva.
Miguel Mahfoud nos convida a acompanhá-lo na arriscada tarefa de aplicar, a uma área de saber específica como a psicologia, o pensamento da antropologia de Luigi Giussani, se propondo junto, “aprender a reconhecer o essencial da experiência para enxergar o dinamismo humano em ato e identificar consequências para o trabalho psicológico, para vencer os reducionismos típicos da psicologia que, ocupando-se dos tantos possíveis aspectos da experiência humana, deixou de ser psicologia da pessoa”. (MAHFOUD, 2012, p. 31).
Para nos ajudar a enxergar o dinamismo humano em ato, ele nos sugere um caminho, uma direção, que nos tomará por inteiro na relação com a pessoa atendida, na busca para designar o ímpeto original que está na base de todo gesto ou posicionamento humano, pelo qual a pessoa humana pode reconhecer suas exigências fundamentais. Ele nos propõe começar pelo ato humano – que deixará claro para nós qual o elemento originário do sujeito do ato – no campo da intersubjetividade e da história da pessoa atendida, que nos explicitam o quê do original do humano pode ser modulado. Aqui, Miguel Mahfoud, nos mostra uma possibilidade de superação do moderno dualismo sujeito-mundo, porque a tomada de posição é pessoal e nunca por processos mecânicos. Nos mostra que a realidade física e a história são campos de construção do mundo-da-vida e de explicitação do original no sujeito de atos no mundo. Depois, Miguel Mahfoud, nos alerta para os cuidados com a linguagem e também para a possibilidade de liberdade na aplicação de critérios de juízos críticos por parte do sujeito da ação frente a qualquer fenômeno que se mostre; isto porque a experiência elementar permite a crítica em relação à própria cultura e à própria história pessoal e social.
A experiência elementar permite a compreensão de si mesmo por parte do sujeito da ação, apreende a subjetividade pessoal, única e irrepetível, revisa os conceitos de experiência e de pessoa, acentua o caráter teleológico de cada ação, de cada experiência e de cada vivência de desejo na pessoa humana. O mesmo caráter teleológico insere cada experiência pessoal numa relação eu-tu, numa cultura e numa história como condição para a realização humana do próprio sujeito.
Para a psicologia, Miguel Mahfoud mostra que a experiência elementar abre um campo importante de revisão dos conceitos de pessoa e de experiência, permitindo uma releitura histórico cultural quanto às compreensões dos processos de percepção de si mesmo característicos de cada cultura ou momento histórico, tematizando de modo original o lugar das funções psicológicas na apreensão da personalidade. Com o conceito de experiência elementar, ele recoloca no âmago da psicologia, a centralidade do sujeito experiente e de sua relação com o mundo. Permite na simplicidade e amplitude do conceito a consideração de diversas concepções de experiência e de pessoa, reconduzindo-as a elementos fundantes identificáveis e possibilitando a convivência com diversidades teóricas.
A nós psicólogos, Miguel Mahfoud mostra que a experiência elementar possibilita colocar em foco a origem da diversidade, em novo ponto de elaboração entre relativismo e convivência multicultural, que permite a retomada, como experiência, no sujeito em ação, da unidade entre justiça, verdade e beleza com a força de evidência do seu valor de bem e nos mostra e evidencia a inevitável participação da subjetividade na constituição de um conhecimento que se quer objetivo.
Com a minha experiência de psicoterapeuta nas suas exigências inegociáveis de verdade, de justiça, de beleza, de amor e de realização, agradeço a Miguel Mahfoud esse presente tão preciso e precioso também para a psicopatologia.
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Referência
MAHFOUD, Miguel. Experiência elementar em psicologia: aprendendo a reconhecer. Brasília: Universa; Belo Horizonte: Artesã, 2012.



A ENCÍCLICA OCULTA DE FRANCISCO NO RIO DE JANEIRO

IHU – 07 de agosto de 2013
O Papa Francisco aproveitou a sua viagem ao Brasil para fazer dois discursos maiores aos bispos da América Latina, embora tenham chamado menos a atenção da mídia do que as mensagens aos jovens ou as visitas de cunho mais social. Dois textos fortes que não param de provocar ondas.
A reportagem é de Jean Mercier e publicada pela revista francesa La Vie, 30-07-2013. A tradução é de André Langer.
Oficialmente, a primeira encíclica do Papa Francisco intitula-se Lumen Fidei, e foi publicada no começo de julho passado. Mas ela foi escrita principalmente por Bento XVI; Francisco contentou-se em lhe acrescentar uma espécie de posfácio. Na realidade, o papa trabalhava em outros textos, aqueles que iria pronunciar na Jornada Mundial da Juventude (JMJ) e, especialmente, em dois discursos fundamentais, endereçados aos bispos, que ficaram um pouco perdidos no meio da massa de palavras endereçadas aos jovens durante a JMJ...
No sábado, 27 de julho, aos bispos brasileiros, o Papa Francisco abordou questões difíceis e exigentes do domínio da pastoral, em um texto muito forte. Na manhã seguinte, ele ampliou seu propósito através de uma alocução aos bispos vindos de toda a América Latina. O conjunto desses dois discursos constitui uma espécie de encíclica “oficiosa”, verdadeiro programa para o pontificado, cujo fio condutor é uma autocrítica severa e o apelo à conversão da instituição. O veredicto é claro, mesmo sob a forma de eufemismo: “Estamos um pouco atrasados no que se refere à Conversão Pastoral”.
1. Quebrar o tabu em relação às mulheres e o cisma silencioso dos decepcionados com a Igreja
Como nenhum Papa antes dele, Francisco se confronta com a dolorosa questão dos católicos que abandonaram a Igreja, fenômeno atestado na América Latina, mas que é conhecido de todos os países, especialmente os europeus, nos últimos 50 anos. Ele evoca assim “o mistério difícil das pessoas que abandonaram a Igreja” e se deixaram seduzir por outras propostas.
Esta questão, considerada tabu durante muito tempo, é a ocasião para uma severa autocrítica: “Talvez a Igreja lhes apareça demasiado frágil, talvez demasiado longe das suas necessidades, talvez demasiado pobre para dar resposta às suas inquietações, talvez demasiado fria para com elas, talvez demasiado autorreferencial, talvez prisioneira da própria linguagem rígida, talvez lhes pareça que o mundo fez da Igreja uma relíquia do passado, insuficiente para as novas questões; talvez a Igreja tenha respostas para a infância do homem, mas não para a sua idade adulta”.
O Papa acusa a Igreja de ser de tal maneira exigente em seus “padrões” que desencoraja o conjunto das pessoas: “muitos buscaram atalhos, porque se apresenta demasiado alta a ‘medida’ da Grande Igreja. Também existem aqueles que reconhecem o ideal do homem e de vida proposto pela Igreja, mas não têm a audácia de abraçá-lo. Pensam que este ideal seja grande demais para eles, esteja fora das suas possibilidades; a meta a alcançar é inatingível”.
Uma Igreja chata, rígida, fria, centrada no seu umbigo! Nunca Bento XVI e João Paulo II fizeram semelhante autocrítica. Bergoglio não tem medo de dizer a verdade ao pensar em todos esses que se afastaram dela: “Perante esta situação, o que fazer? Necessitamos de uma Igreja que não tenha medo de entrar na noite deles. Precisamos de uma Igreja capaz de encontrá-los no seu caminho. Precisamos de uma Igreja capaz de inserir-se na sua conversa. Precisamos de uma Igreja que saiba dialogar com aqueles discípulos, que, fugindo de Jerusalém, vagam sem meta, sozinhos, com o seu próprio desencanto, com a desilusão de um cristianismo considerado hoje um terreno estéril, infecundo, incapaz de gerar sentido. (...) Hoje, precisamos de uma Igreja capaz de fazer companhia, de ir para além da simples escuta”.
O Papa não hesita em tocar em outro assunto tabu na instituição: o lugar das mulheres: “Não reduzamos o empenho das mulheres na Igreja; antes, pelo contrário, promovamos o seu papel ativo na comunidade eclesial. Se a Igreja perde as mulheres, na sua dimensão global e real, ela corre o risco da esterilidade”. Embora a menção seja lapidar, é a primeira vez que um Papa reconhece que a Igreja perdeu parte da sua credibilidade em relação às mulheres.
A solução passa, segundo o Papa, pelo exercício da maternidade da Igreja, isto é, pelo exercício da misericórdia. “Ela gera, amamenta, faz crescer, corrige, alimenta, conduz pela mão... Por isso, faz falta uma Igreja capaz de redescobrir as entranhas maternas da misericórdia. Sem a misericórdia, temos hoje poucas possibilidades de nos inserir em um mundo de ‘feridos’, que têm necessidade de compreensão, de perdão, de amor”. Nesse campo, há progressos a realizar: “Num hospital de campanha a emergência é curar as feridas”.
A outra dimensão é a empatia afetiva e a proximidade: “Eu gostaria que hoje nos perguntássemos todos: Somos ainda uma Igreja capaz de aquecer o coração?”.
2. A reforma da Igreja a partir da missão, e não da burocracia ou da ideologia
Verdadeiramente, o Papa defende “toda uma dinâmica de reforma das estruturas eclesiais” que se tornaram obsoletas. Mas, cuidado! A reforma deve ser feita a partir de um critério específico: a missão, e não a sofisticação administrativa... A ‘mudança das estruturas’ (das caducas para as novas) não é “fruto de um estudo de organização do sistema funcional eclesiástico. (...) O que derruba as estruturas caducas, o que leva a mudar os corações dos cristãos é justamente a missionariedade”.
Encontramos aqui, na alocução do Papa Francisco aos bispos latino-americanos, uma reflexão de fundo que já é aquela de alguns bispos europeus, que apelam a uma verdadeira conversão pastoral, e que o Papa apresenta sob a forma de um verdadeiro exame de consciência. O Papa exorta a uma revolução pastoral mais que administrativa. O Papa denuncia o funcionalismo que “olha para a eficácia”, que se deixa fascinar pelas estatísticas e “reduz a realidade da Igreja à estrutura de uma ONG”.
A partir daí, o Papa Francisco define as “tentações do discípulo missionário”, situando, como bom jesuíta, o desafio sob a perspectiva do discernimento, e, portanto, do combate espiritual contra “o espírito mau” que leva à “ideologização” da mensagem evangélica”. Ele lista quatro desvios, agrupando dois a dois os extremos, progressistas e conservadores:
A redução socialista, “uma pretensão interpretativa com base em uma hermenêutica de acordo com as ciências sociais”. Ela recobre os campos mais variados: do liberalismo de mercado às categorias marxistas;
A ideologização psicológica. Trata-se de uma aproximação “elitista” que reduz o encontro com Cristo a uma dinâmica de autoconhecimento, sem transcendência;
A proposta gnóstica, dos reformistas inspirados no “Iluminismo”. O Papa explicou que ele recebia, desde o começo do pontificado, cartas de fiéis, pedindo pelo “casamento dos sacerdotes e a ordenação das boas irmãs”, mas que a reforma necessária da Igreja, segundo ele, não se situa neste nível.
A proposta pelagiana, aqueles católicos que procuram “uma restauração de condutas e formas superadas” ou uma “segurança” doutrinal e disciplinar.
3. Dar vida à colegialidade com os leigos e a descentralização em relação a Roma
Francisco recorda a importante valorização dos leigos na missão: “Nós, Pastores Bispos e Presbíteros, temos consciência e convicção da missão dos fiéis e lhes damos a liberdade para irem discernindo, de acordo com o seu caminho de discípulos, a missão que o Senhor lhes confia? Apoiamo-los e acompanhamos, superando qualquer tentação de manipulação ou indevida submissão? Estamos sempre abertos para nos deixarmos interpelar pela busca do bem da Igreja e pela sua Missão no mundo?”. O Papa também pediu aos bispos para confiar no “talento” de seu rebanho “para encontrar novas rotas”. Ao diabo a autocracia: “O bispo deve guiar, o que não é o mesmo que dominar”.
Ecoando o que vem dizendo desde a sua eleição, o Papa denuncia o clericalismo: “Na maioria dos casos, trata-se de uma cumplicidade pecadora: o pároco clericaliza e o leigo lhe pede, por favor, que o clericalize, porque, no fundo, lhe resulta mais cômodo”.
Como solução, o Papa recorda a importância dos conselhos: “Tanto estes como os Conselhos paroquiais de Pastoral e de Assuntos Econômicos são espaços reais para a participação laical na consulta, organização e planejamento pastoral? O bom funcionamento dos Conselhos é determinante. Acho que estamos muito atrasados nisso”.
Ansiosamente aguardado sobre o tema da colegialidade entre bispos, Francisco reabilita a vitalidade local, em detrimento de uma abordagem centrada em Roma. Rompendo com a visão de seus predecessores, que desafiaram a autonomia das estruturas nacionais, o Papa Francisco valoriza as “Conferências Episcopais” como “um espaço vital”: “Faz falta, pois, uma progressiva valorização do elemento local e regional. Não é suficiente a burocracia central, mas é preciso fazer crescer a colegialidade e a solidariedade; será uma verdadeira riqueza para todos”.
Esta visão confirma a atitude de Francisco em sua vontade de realinhar o papado como serviço da unidade. Ele se considera primeiro como bispo, em vez de Papa, como ele lembrou várias vezes no Rio, seja aos jovens, seja aos bispos: “Eu gostaria de falar de bispo para bispo”, confidencia aos seus interlocutores do CELAM.
Não é mera coincidência se o Papa aborda, em sua “encíclica oculta”, questões de método de trabalho. Ele lembrou que o encontro dos bispos latino-americanos (CELAM), em Aparecida, em 2007, não foi construído a partir do método romano usado em outros encontros do CELAM, e em Sínodos Romanos, ou seja, o método do Instrumentum laboris. Com este jargão se denomina o documento que define o tom dos debates, cujo conteúdo tem a tendência de bloquear os debates subsequentes. O Papa implora por intercâmbios a partir de uma consulta às bases, sem esquemas pré-mastigados pela burocracia eclesial. Isto já foi uma exigência dos Padres do Concílio Vaticano II, em sua abertura.
4. Retomar o diálogo com o mundo atual
Sem rodeios, o Papa voltou aos fundamentos do Vaticano II, citando a famosa fórmula introdutória da Gaudium et Spes: “As alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje, sobretudo dos pobres e de todos os que sofrem, são também as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo”.
Atento aos sinais dos tempos, o Papa evoca a questão da adaptação às “questões existenciais do homem de hoje, especialmente das novas gerações, prestando atenção à sua linguagem”, e leva em conta a existência de universos culturais extremamente diferentes; “Em uma mesma cidade, existem vários imaginários coletivos que configuram ‘diferentes cidades’”. O Papa insiste na consideração das “tribos”, que se reúnem por afinidades, das megalópoles: “Se continuarmos apenas com os parâmetros da ‘cultura de sempre’, fundamentalmente uma cultura de base rural, o resultado acabará anulando a força do Espírito Santo. Deus está em toda a parte: há que saber descobri-lo para poder anunciá-lo no idioma dessa cultura; e cada realidade, cada idioma tem um ritmo diferente”. Encontramos aqui a paixão jesuíta pela inculturação.
De acordo com o Papa Francisco, a missão é uma tensão permanente: “Não existe o discipulado missionário estático. O discípulo missionário não pode possuir-se a si mesmo; a sua imanência está em tensão para a transcendência do discipulado e para a transcendência da missão. Não admite a autorreferencialidade: ou refere-se a Jesus Cristo ou refere-se às pessoas a quem deve levar o anúncio dele. Sujeito que se transcende. Sujeito projetado para o encontro: o encontro com o Mestre (que nos unge discípulos) e o encontro com os homens que esperam o anúncio. (...) No anúncio evangélico, falar de ‘periferias existenciais’ descentraliza e, habitualmente, temos medo de sair do centro. O discípulo-missionário é um ‘descentrado’: o centro é Jesus Cristo, que convoca e envia. O discípulo é enviado para as periferias existenciais”.
Para além da sua crítica sobre o medo “de deixar o centro”, o Papa questiona uma visão centrada no umbigo da Igreja católica: “Quando a Igreja se erige em ‘centro’, se funcionaliza e, pouco a pouco, se transforma em uma ONG. Então, a Igreja pretende ter luz própria e deixa de ser aquele ‘mysterium lunae’ de que nos falavam os Santos Padres. Torna-se cada vez mais autorreferencial, e se enfraquece a sua necessidade de ser missionária. De ‘Instituição’ se transforma em ‘Obra’. Deixa de ser Esposa, para acabar sendo Administradora; de Servidora se transforma em ‘Controladora’. Aparecida quer uma Igreja Esposa, Mãe, Servidora, mais facilitadora da fé que controladora da fé”. A Igreja não é uma aduana, já disse em outra ocasião.
5. Aprender uma cultura da pobreza, da ternura e do encontro
Encontramos aqui as manias de Jorge Mario Bergoglio, que cutuca as “pastorais ‘distantes’, pastorais disciplinares que privilegiam os princípios, as condutas, os procedimentos organizacionais... obviamente sem proximidade, sem ternura, nem carinho. Ignora-se a ‘revolução da ternura’, que provocou a encarnação do Verbo. Há pastorais estruturadas com tal dose de distância que são incapazes de atingir o encontro: encontro com Jesus Cristo, encontro com os irmãos. Deste tipo de pastoral podemos, no máximo, esperar uma dimensão de proselitismo, mas nunca levam a alcançar a inserção nem a pertença eclesiais”.
Neste contexto, a conversão pastoral cabe ao próprio bispo, que deve ser um modelo: “Os Bispos devem ser Pastores, próximos das pessoas, pais e irmãos, com grande mansidão: pacientes e misericordiosos. Homens que amem a pobreza, quer a pobreza interior como liberdade diante do Senhor, quer a pobreza exterior como simplicidade e austeridade de vida. Homens que não tenham ‘psicologia de príncipes’. Homens que não sejam ambiciosos e que sejam esposos de uma Igreja sem viver na expectativa de outra”. O Papa mencionou claramente o carreirismo daqueles que buscam uma “promoção” para dioceses de maior prestígio.



Papa Francisco deixou marcas profundas na sua passagem no Rio de Janeiro

Cardeal Odilo Pedro Scherer comenta a visita do Pontífice

SãO PAULO, 06 de Agosto de 2013 (Zenit.org) - Em nota publicada em O São Paulo, edição de 31 de julho, o Cardeal Odilo Pedro Scherer, arcebispo de São Paulo, comentou sobre “as marcas profundas” deixadas pelo papa Francisco na sua passagem no Rio de Janeiro para a Jornada Mundial da Juventude (JMJ).
Dom Odilo resumiu a visita do Papa em três pontos: Os jovens, os pobres e a Igreja.
O cardeal destacou que o Papa dirigiu-se aos jovens com uma “linguagem direta e fácil, buscando e conseguindo a atenção deles de maneira extraordinária” . “E os jovens corresponderam com entusiasmo, enchendo as ruas do Rio e a orla de Copacabana de alegria e fé. Espetáculo bonito de se ver! Tantos jovens serenos e sedentos de Deus mostraram que a mensagem da Igreja continua, sim, a lhes interessar, e a Igreja tem algo importante para lhes dizer”.
Lembrou a exortação do Papa aos jovens para serem “protagonistas das mudanças sociais e construtores de um mundo melhor para todos; a não se contentarem em ser cristãos “de sacada”, mas a descerem para o meio das realidades, para se envolver e comprometer”.
Chamou a atenção para a palavra solidariedade, uma das palavras mais usadas pelo Papa Francisco “que foi ao encontro das situações de exclusão e sofrimento e teve atitudes e palavras de solidariedade e carinho para com os pobres e os que sofrem”.
Sobre a Igreja Dom Odilo citou que nos encontros com os bispos do Brasil e com os diversos responsáveis pelo departamentos do Conselho Episcopal Latino-Americano, na Missa celebrada com os bispos e padres na catedral do Rio, o Papa recomendou, “com palavras claras e incisivas, que se volte para “as periferias”, as muitas periferias em que vive o homem de hoje”.
O Papa Francisco “deu belos exemplos sobre como a Igreja pode ser próxima das pessoas e missionária e como dirigir-se com franqueza, simplicidade e solicitude amorosa a todas as pessoas” – conclui a nota-. 



Protagonistas de um novo mundo

Num espaço em que se falavam todas as línguas, a linguagem do amor prevaleceu. A única ameaça que havia era o grande amor do povo para com o Santo PadrePor Dom Orani Tempesta,O.Cist.(Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ)


RIO DE JANEIRO, 05 de Agosto de 2013 (Zenit.org) - Os olhares do mundo se dirigiram para o Rio de Janeiro durante os dias da Jornada Mundial da Juventude! Evidentemente que a mídia em geral enfocou principalmente, como não poderia deixar de ser, a presença, os gestos e as palavras do Papa Francisco em sua primeira viagem pastoral, e justamente à “sua” América Latina. Realmente, foram de “lavar a alma” aqueles belos momentos. Muitos artigos ainda serão publicados sobre cada gesto, sobre cada frase ou cada possível omissão de palavra na frase, ou ainda sobre os momentos escolhidos para que o primeiro peregrino da Jornada estivesse em contato com os jovens presentes no Rio de Janeiro, e, através das mídias, com o mundo todo. Nunca saberemos quantos milhões de pessoas foram atingidas naqueles dias e que foram convidadas para a construção de um mundo mais justo e humano.
Porém, a Jornada teve muitos outros olhares. Os encontros menores, os países presentes, a primeira viagem de muitos jovens fora de sua pátria, a experiência das paróquias, dos padres, das famílias acolhedoras! E o que dizer da feira vocacional, o encontro de grupos nacionais em grandes momentos, a presença das relíquias de santos e beatos, as mostras culturais, os shows variados pela cidade?
E a presença de jovens que embelezaram todos os cantos durante mais de uma semana levou também à admiração e simpatia os habitantes dessa cidade. Já tinham dado um grande passo: abriram suas casas e seus corações ao irmão que veio de longe! Nisso, as pesquisas foram unânimes: a alegria dos que foram acolhidos pela generosidade e fraternidade dos cariocas! Os que para cá vieram experimentaram que foram acolhidos como irmãos! Isso aconteceu tanto nas residências como nas paróquias. Todos se esmeraram. Até mesmo para resolver problemas surgidos de última hora, como falta de vistos de entrada, perda de passaportes ou de outros documentos, dificuldades de alojamento para quem não tinha feito inscrição, acolhimento em dias não previstos, alimentação a mais fornecida com carinho para esses jovens que fizeram essa longa peregrinação.
...
Esses jovens são responsáveis por um mundo mais justo e humano! Estão dispostos a ir às ruas, como pediu o Papa, também para testemunhar que um mundo novo, sem violência, sem guerras, sem divisões – é possível. Vieram de todos os tipos de regime de governo e sabem o que é cada situação, ou de exclusão ou de ditadura. Sabem também de sua responsabilidade no mundo de hoje e de amanhã. Essa experiência de troca universal que houve aqui no Rio de Janeiro permanecerá em seus corações e, tenho certeza de que já os entusiasmou para viverem ainda mais sua vocação e sua missão.
...
Teremos ainda muitas reflexões a fazer, pois melhor que ninguém cada um que viveu aqueles momentos terá muito a contribuir para o presente e o futuro. Agradeço a Deus que se mostrou fiel em tudo o que aconteceu, peço-Lhe para que todos os jovens que para cá vieram se tornem protagonistas em seus ambientes, e exorto a todos dessa querida arquidiocese a estarmos ainda mais unidos para discernir os caminhos que o Senhor nos apontou naqueles abençoados dias.
Aceitem o meu abraço de coração agradecido a todos, e minhas orações na intenção do presente e futuro do mundo que aqui esteve reunido durante uma semana.


Papa Francisco: "Arrisquem-se! Não tenham medo de arriscar-se. Se vocês não se arriscarem, já estarão errados"

Dom Alberto Taveira Correa, arcebispo de Belém do Pará narra o seu encontro com o Papa Francisco durante a JMJ e reflete sobre os seus frutos
Por Dom Alberto Taveira Corrêa
BELéM DO PARá, 01 de Agosto de 2013 (Zenit.org) - Vivemos na Igreja um tempo especial da graça de Deus, a ser guardado “de cor”, quer dizer, no coração! Foram dois anos de missão popular, com a qual dois sinais, a Cruz da Jornada Mundial da Juventude e o Ícone de Nossa Senhora, percorreram todos os recantos do Brasil. Foi dito e cantado, repetido e acolhido no coração o “Bote Fé”, que repercutiu magnificamente, conduzindo jovens e adultos a uma resposta mais decidida ao Senhor, que chama a todos. Ouvimos, cantado em muitos tons, “no peito eu levo uma Cruz, em meu coração o que disse Jesus”. ....
Na Vigília celebrada na Praia de Copacabana, pareceu-me entender que o primeiro risco estava na palavra forte: “começar por mim”, com a coragem de descortinar novos campos para evangelização e chegar às periferias geográficas e existenciais, de modo especial a humanidade chagada que clama por aquele que é a única esperança, Jesus Cristo.
Risco é aceitar ser diferente para melhor, na estrada da santidade, sem nivelar nossa vida por baixo! Risco é anunciar a verdade, primeiro a cada um de nós e depois testemunhá-la na coerência do testemunho. Risco é dizer à juventude que vale a pena seguir o Evangelho e que o consumismo, o relativismo e o indiferentismo não conduzem à realização. Risco é anunciar aos que caem que Deus é misericordioso e espalhar o perdão por toda parte.
O risco se amplia, para não errarmos, indo às pessoas que se afastadas da Igreja ou assim se sentem. Queremos arriscar, sim, abrindo frentes de presença da Igreja, através das novas Paróquias e não fiquem espaços sem o anúncio do Evangelho, assim como a acolhida a todas as novas e eficazes formas de evangelização, suscitadas pelo Espírito Santo. Risco é a formação de Comunidades vivas, que darão muito trabalho aos atuais agentes de pastoral e todas as pessoas que se sentem chamadas a olharem ao seu redor, a fim de que ninguém passe em vão ao nosso lado. Arriscar-se é não ter medo do diálogo com quem é diferente e edificar pontes com todos.
Risco é assumir de verdade a organização da caridade, ouvindo e respondendo ao grito dos mais pobres. O horizonte de nossos riscos se amplia quando olhamos do outro lado de nossos rios, onde há uma população insular e de ribeirinhos, parte integrante da família dos filhos de Deus. A estes irmãos e irmãs chegue nossa presença!

Ao entregar ao Papa uma Imagem de Nossa Senhora de Nazaré, havia o desejo de responder, junto com a Virgem Maria, o sim corajoso! Não temos o direito de acomodar-nos! Se não nos arriscarmos, já estaremos errados! Para garantir o caminho a ser percorrido, temos uma certeza, vinda de Jesus: “Eis que estou convosco todos os dias, até o fim dos tempos” (Mt 28,20).
Papa Francisco: "sempre se pode colocar mais água no feijão"!
Visita do Papa Francisco à favela da Varginha

“A verdadeira riqueza não está nas coisas, mas no coração!”, como diz o ditado – disse o Papa – “sempre se pode colocar mais água no feijão”! destacando que o povo brasileiro sempre faz isso com amor e pode ensinar muito ao mundo.
 Solidariedade
Não é a cultura do egoísmo, não é a cultura do individualismo que constrói o mundo e o faz mais habitável, mas é a solidariedade, “a cultura da solidariedade”, afirmou o Papa.
“E o povo brasileiro, sobretudo as pessoas mais simples, pode dar para o mundo uma grande lição de solidariedade”, palavra incômoda –disse o papa – “Que parece um palavrão” – acrescentou falando a braccio. E lançou um apelo às autoridades, pedindo-lhes que “não se cansem de trabalhar por um mundo mais justo e mais solidário!”, pois é preciso “Ver no outro não um concorrente ou um número, mas um irmão”, destacou o Papa.
Fome de Felicidade
O Pontífice destacou a importância da ajuda social e da prioridade que a Igreja dá como “advogada da justiça”. “Certamente é necessário dar o pão a quem tem fome; é um ato de justiça. Mas existe também uma fome mais profunda, a fome de uma felicidade que só Deus pode saciar”, afirmou o Papa.
Destacou assim 5 pontos a ter em conta, cinco “pilares fundamentais que sustentam uma nação”: Vida, “que é dom de Deus”; família “fundamento da convivência e remédio contra a desagregação”; educação integral, que não é só “transmissão de informações”; saúde, que busque o bem integral; e segurança, “na convicção de que a violência só pode ser vencida a partir da mudança do coração humano”.
Diante dos constantes anti-testemunhos de corrupção que os jovens recebem a cada dia, o Papa quis dar um último conselho: “nunca desanimem, não percam a confiança, não deixem que se apague a esperança. A realidade pode mudar, o homem pode mudar”.
Por fim, o Papa concluiu com estas palavras e confiou tudo à Proteção de Nossa Senhora: “Vocês não estão sozinhos, a Igreja está com vocês, o Papa está com vocês”.


O MINISTÉRIO DIACONAL, DO PONTO DE VISTA DAS RELIGIOSAS
15/07/2013 – 2ª feira as 19h00min, na Par.N.Sra.das Dores.
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Muito obrigada pelo convite para estar e falar com os diáconos da diocese de Uberlândia!
O Diácono Antônio Marciano havia me pedido para refletir com o grupo sobre “o ministério diaconal, do ponto de vista das religiosas”. Estes temas que me interessam muito. Esta data foi difícil porque estou chegando de um Congresso de Teologia, indo para um Congresso Mundial das Universidades Católicas, em BH. E em seguida estarei viajando para a JMJ no Rio de Janeiro. Apesar disso, procurei atender ao seu convite.
EMENTA
Vocação, carisma e missão dos batizados. O seguimento de Jesus, o Verbo Encarnado. Diaconato e VRC. O Senhor que os diáconos servem é Cristo. A Vida Religiosa Consagrada no Mistério da Igreja. Teologia dos carismas. Diálogo e co-responsabilidade: um novo relacionamento com os leigos. Unidade de vida: Fé e aperfeiçoamento humano.
REFERENCIAL TEÓRICO
* Lumen Gentium (Vaticano II), Roma 1964.
* A Vida Fraterna em Comunidade (João Paulo II – Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica), Roma 1994.
* Tese de Dout. (Irmã Maura), Roma 2003.
RESUMO
Deus nos chamou à existência, adotou-nos como filhos e nos enviou a estabelecer no mundo o seu reino de justiça e amor, de fraternidade e paz. Nós somos seguidores de Jesus. No batismo somos chamados e enviados com uma vocação e uma missão na Igreja e no mundo. A Vida Religiosa Consagrada faz parte do Mistério da Igreja e é dotada de carismas para a missão no mundo. O Senhor a quem os diáconos servem é Cristo. E o que nos preparou em troca? São Paulo, numa visão, pode ver o que Deus preparou para os diáconos. Mas, não foi capaz de explicar. Apenas disse: “o que os olhos não viram, os ouvidos não ouviram e o coração do homem não percebeu, foi isso que Deus preparou para aqueles que o amam” (1ª Cor 2,9). Cremos que é algo tão belo que ninguém pode imaginar. Somos filhos de Deus. Um filho traz consigo as características de sua espécie. Portanto, um filho de Deus traz as características da divindade. Disso decorre o incentivo para os ministérios, para a unidade de vida a partir da fé, e do permanente aperfeiçoamento humano em busca da santidade individual, familiar e comunitária na Igreja e no mundo.
Palavras-chave: Ministério diaconal. Vida Religiosa. Teologia dos carismas.
EXPOSIÇÃO
 - O batismo devolve a vida divina perdida e torna “homens novos”.
- Incentivo para o ministério.
- O diálogo com o clero, com a família e com a vida em geral.
- A CONFHIC
- Abertura ao diálogo, com variadas correntes de pensamento
- Preparar cidadãos comprometidos com o pleno desenvolvimento e realização do ser humano e com a transformação da sociedade.
- A missão de todo batizado a partir de sua vocação profética, sacerdotal e real.
- A Igreja toda é ministerial.
- A Palavra de Deus como fundamento do serviço a todos, principalmente, aos novos pobres, órfãos e viúvas.
- Um esforço de autocompreensão em vista do diálogo com o mundo pessoal, familiar, eclesial, etc.
- O diaconato e a VRC baseiam-se e emergem de uma fé religiosa, resposta e compromisso humanos, que é informada pela revelação, autocomunicação de Deus. Nosso serviço é fruto de um efetivo e permanente engajamento nosso com a transcendência divina.
- A Vida Religiosa e o Diaconato não são apenas conhecimento e atividades apostólicas, mas é, sobretudo, sabedoria e experiência de Deus expressas por meio de gestos cristãos e atitudes de fé, esperança e caridade.
VRC e Diaconato constituem uma realidade viva e dinâmica que se reinventa constantemente na tentativa de atualizar esta experiência como estrutura de sentido existencial, na riqueza da diversidade e pluralidade da vida humana.
- Os religiosos e os diáconos são pessoas de fé inserida nos diversos contextos da comunidade humana e eclesial, são aqueles que, à luz da revelação, caminham com a humanidade em busca e na direção do sentido mais profundo do homem, do mundo, do Absoluto, que a tradição cristã identifica e reconhece como Deus. Uma caminhada dinâmica, dialogal, e em permanente aperfeiçoamento.
ESPAÇO PARA COMPLEMENTAÇÃO, ESCLARECIMENTOS, E PERGUNTAS.
ENCERRAMENTO
- Agradecimento.
Irmã Maura
(Franciscana Hospitaleira)
34-9245-9990
34-3083-1745
 
 
"Deus sempre quer a misericórdia e não a condenação"
Palavras do Papa Francisco antes de recitar o Angelus em Castel Gandolfo
ROMA, 14 de Julho de 2013 (Zenit.org) - Às 12 horas de hoje, na Praça da Liberdade em frente ao Palácio Apostólico de Castel Gandolfo, o Santo Padre Francisco rezou a oração do Angelus com os fiéis e peregrinos presentes. Estas foram as palavras do Papa:
“Queridos irmãos e irmãs, bom dia!
Hoje o nosso encontro dominical do Angelus vivemos aqui em Castel Gandolfo. Eu saúdo os habitantes desta linda cidadezinha! Gostaria de vos agradecer, sobretudo pelas vossas orações, e o mesmo faço com todos vocês peregrinos, que vieram em grande número aqui.
O Evangelho de hoje - estamos no capítulo 10 de Lucas - é a famosa parábola do Bom Samaritano. Quem era esse homem? Era alguém, que descia de Jerusalém em direção a Jericó na estrada que atravessa o deserto da Judéia. Há pouco, nesta estrada, um homem havia sido atacado por bandidos, roubado, espancado e deixado quase morto. Antes do samaritano, passaram um sacerdote e um levita, ou seja, duas pessoas envolvidas com o culto no Templo do Senhor. Eles vêem aquele pobre homem, mas seguem sem parar. Em vez disso, o samaritano, quando viu o homem, "teve compaixão" (Lc 10:33), diz o Evangelho. Ele aproximou-se e enfaixou as feridas, derramando um pouco de azeite e vinho, depois e colocou-o em seu próprio animal e levou-o para uma hospedaria, e pagou para ele o alojamento ... Quer dizer, cuidou dele: é o exemplo de amor ao próximo. Mas porque Jesus escolheu um samaritano como protagonista desta parábola? Por que os samaritanos eram desprezados pelos judeus, por causa de diferentes tradições religiosas; e Jesus faz ver que o coração daquele Samaritano é bom e generoso e que - ao contrário do sacerdote e do levita - ele coloca em prática a vontade de Deus, que quer a misericórdia e não o sacrifício (cf. Mc 12:33). Deus sempre quer a misericórdia e não a condenação. Quer a misericórdia do coração, porque Ele é misericordioso e sabe entender bem as nossas misérias, as nossas dificuldades e também os nossos pecados. Dá a todos nós este coração misericordioso! O samaritano faz exatamente isto: imita a misericórdia de Deus, a misericórdia para aqueles que tem necessidade.


Oração e trabalho
Por Dom Orani Tempesta, O.Cist.
RIO DE JANEIRO, 11 de Julho de 2013 (Zenit.org) - Neste dia 11 de julho, a Igreja do Brasil estará vivenciando o “Dia de Oração pela Jornada Mundial da Juventude Rio 2013” convocado pela Comissão Episcopal Pastoral para a Juventude da CNBB. Deve ser um dia dedicado à oração e intercessão. 
O dia escolhido, além de ter a proximidade do início da JMJ – 12 dias – que nos recordam os doze apóstolos, também é a data em que celebramos o dia de São Bento, o patrono da Europa, declarado em 1964 pelo Papa Paulo VI, reconhecendo a missão dos monges na civilização e cultura européias e por onde ela influenciou.
São Bento viveu entre 480 e 547 e foi um jovem inquieto na busca de um sentido para sua vida, seja enquanto se recolheu como eremita nos primeiros anos de sua experiência mística, ou quando começou a conduzir grupos de jovens que queriam uma experiência com Deus em uma vida de comunidade.
A época de São Bento a região de Roma tem uma história significativa, pois o ano 476 é colocado como a data da queda do império romano do ocidente (no oriente ele ficaria até o século XV como império bizantino). Essa queda trouxe muitas crises de valores e situações culturais, econômicas e religiosas. Foi uma época rica de iniciativas e de busca religiosa e cultural. As crises geralmente geram situações novas.
Por isso mesmo, São Bento foi o jovem do seu tempo com suas buscas e suas crises que encontrou em Cristo o caminho que não só o conduziu, mas também a uma numerosa multidão de homens e mulheres que seguem e que seguiram a Cristo segundo o seu carisma.
O Papa Pio XII, na carta Encíclia “Fulgens Radiatur” no XIV centenário da morte de São Bento, assim se refere: “quem pacientemente estudar a sua gloriosa vida e adentrar, à luz da história, o tempestuoso tempo em que viveu, há de sentir, indubitavelmente, a realidade da promessa que o Senhor deixou aos apóstolos e à sociedade que fundara: “Estarei convosco, todos os dias, até a consumação dos tempos”. Pois como diz ainda essa encíclica: “teve ocasião de ver, com imensa tristeza, o pulular das heresias, que arrastavam no vértice subsersivo do erro muitos dos espíritos mais belos; o rebaixamento dos costumes públicos e privados; o atoleiro sensual em que envolvia a mocidade galante e mundana de seu tempo, de tal modo que se podia dizer, verdade, da sociedade romana: “está morrendo e ri”. Então, “Bento estabeleceu na Igreja, com sua obra e vida, uma corrente perene de juventude, renovando a severidade dos costumes e robustecendo, de leis mais santas e vigorosas, a vida claustral”. E, é claro, isso influenciou os povos e regiões vizinhas aos mosteiros “unindo-os todos por laços de amor fraterno e caridade”.
E é justamente nesse dia de São Bento, um jovem que buscou fazer a vontade de Deus e cuja vida refulgiu na história, resplandecendo “como astro na cerração da noite”, que o Brasil reza pelos peregrinos, pelos jovens que estão participando da JMJ Rio 2013.
Também nós necessitamos de jovens corajosos como São Bento que, vivendo hoje as realidades da sociedade, sejam sinais transparantes de tempos novos: “protagonistas de um mundo novo”!
Convido a todos para que neste dia 11 de julho, Dia de São Bento, patriarca dos monges do Ocidente, que soube aproveitar as orientaçóes do passado e traduzi-las de modo novo para o seu presente, que todos nós nos coloquemos em oração por esse importante momento da história de nossa juventude.
Vamos clamar ao Senhor para que vivamos todos o caminho da santidade diante de situações tão diversificadas de hoje, muitas vezes eivadas de ódios e desprezos, mas que, longe de nos desanimar, nos colocam ainda mais entusiasmo nessa missão que o Senhor nos deu para empreender.
Fulgurante de luz, São Bento, interceda por todos nós!
† Orani João Tempesta, O. Cist.  Arcebispo de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ





"Adão, onde estás?

Nesta manhã quero, à luz da Palavra de Deus que escutamos, propor algumas palavras que sejam sobretudo uma provocação à consciência de todos, que a todos incitem a reflectir e mudar concretamente certas atitudes.
«Adão, onde estás?»: é a primeira pergunta que Deus faz ao homem depois do pecado. «Onde estás, Adão?». E Adão é um homem desorientado, que perdeu o seu lugar na criação, porque presume que vai tornar-se poderoso, poder dominar tudo, ser Deus. E quebra-se a harmonia, o homem erra; e o mesmo se passa na relação com o outro, que já não é o irmão a amar, mas simplesmente o outro que perturba a minha vida, o meu bem-estar. E Deus coloca a segunda pergunta: «Caim, onde está o teu irmão?» O sonho de ser poderoso, ser grande como Deus ou, melhor, ser Deus, leva a uma cadeia de erros que é cadeia de morte: leva a derramar o sangue do irmão!
Estas duas perguntas de Deus ressoam, também hoje, com toda a sua força! Muitos de nós – e neste número me incluo também eu – estamos desorientados, já não estamos atentos ao mundo em que vivemos, não cuidamos nem guardamos aquilo que Deus criou para todos, e já não somos capazes sequer de nos guardar uns com os outros. E, quando esta desorientação atinge as dimensões do mundo, chega-se a tragédias como aquela a que assistimos.
«Onde está o teu irmão? A voz do seu sangue clama até Mim», diz o Senhor Deus. Esta não é uma pergunta posta a outrem; é uma pergunta posta a mim, a ti, a cada um de nós. Estes nossos irmãos e irmãs procuravam sair de situações difíceis, para encontrarem um pouco de serenidade e de paz; procuravam um lugar melhor para si e suas famílias, mas encontraram a morte. Quantas vezes outros que procuram o mesmo não encontram compreensão, não encontram acolhimento, não encontram solidariedade! E as suas vozes sobem até Deus! Uma vez mais vos agradeço, habitantes de Lampedusa, pela solidariedade. Recentemente falei com um destes irmãos. Antes de chegar aqui, passaram pelas mãos dos traficantes, daqueles que exploram a pobreza dos outros, daquelas pessoas para quem a pobreza dos outros é uma fonte de lucro. Quanto sofreram! E alguns não conseguiram chegar.
«Onde está o teu irmão?» Quem é o responsável por este sangue? Na literatura espanhola, há uma comédia de Félix Lope de Vega, que conta como os habitantes da cidade de Fuente Ovejuna matam o Governador, porque é um tirano, mas fazem-no de modo que não se saiba quem realizou a execução. E, quando o juiz do rei pergunta «quem matou o Governador», todos respondem: «Fuente Ovejuna, senhor». Todos e ninguém! Também hoje assoma intensamente esta pergunta: Quem é o responsável pelo sangue destes irmãos e irmãs? Ninguém! Todos nós respondemos assim: não sou eu, não tenho nada a ver com isso; serão outros, eu não certamente. Mas Deus pergunta a cada um de nós: «Onde está o sangue do teu irmão que clama até Mim?» Hoje ninguém no mundo se sente responsável por isso; perdemos o sentido da responsabilidade fraterna; caímos na atitude hipócrita do sacerdote e do levita de que falava Jesus na parábola do Bom Samaritano: ao vermos o irmão quase morto na beira da estrada, talvez pensemos «coitado» e prosseguimos o nosso caminho, não é dever nosso; e isto basta para nos tranquilizarmos, para sentirmos a consciência em ordem. A cultura do bem-estar, que nos leva a pensar em nós mesmos, torna-nos insensíveis aos gritos dos outros, faz-nos viver como se fôssemos bolas de sabão: estas são bonitas mas não são nada, são pura ilusão do fútil, do provisório. Esta cultura do bem-estar leva à indiferença a respeito dos outros; antes, leva à globalização da indiferença. Neste mundo da globalização, caímos na globalização da indiferença. Habituamo-nos ao sofrimento do outro, não nos diz respeito, não nos interessa, não é responsabilidade nossa!
Reaparece a figura do «Inominado» de Alexandre Manzoni. A globalização da indiferença torna-nos a todos «inominados», responsáveis sem nome nem rosto.
«Adão, onde estás?» e «onde está o teu irmão?» são as duas perguntas que Deus coloca no início da história da humanidade e dirige também a todos os homens do nosso tempo, incluindo nós próprios. Mas eu queria que nos puséssemos uma terceira pergunta: «Quem de nós chorou por este facto e por factos como este?» Quem chorou pela morte destes irmãos e irmãs? Quem chorou por estas pessoas que vinham no barco? Pelas mães jovens que traziam os seus filhos? Por estes homens cujo desejo era conseguir qualquer coisa para sustentar as próprias famílias? Somos uma sociedade que esqueceu a experiência de chorar, de «padecer com»: a globalização da indiferença tirou-nos a capacidade de chorar! No Evangelho, ouvimos o brado, o choro, o grande lamento: «Raquel chora os seus filhos (...), porque já não existem». Herodes semeou morte para defender o seu bem-estar, a sua própria bola de sabão. E isto continua a repetir-se... Peçamos ao Senhor que apague também o que resta de Herodes no nosso coração; peçamos ao Senhor a graça de chorar pela nossa indiferença, de chorar pela crueldade que há no mundo, em nós, incluindo aqueles que, no anonimato, tomam decisões socioeconómicas que abrem a estrada aos dramas como este. «Quem chorou?» Quem chorou hoje no mundo?
Senhor, nesta Liturgia, que é uma liturgia de penitência, pedimos perdão pela indiferença por tantos irmãos e irmãs; pedimo-Vos perdão, Pai, por quem se acomodou,  e se fechou no seu próprio bem-estar que leva à anestesia do coração; pedimo-Vos perdão por aqueles que, com as suas decisões a nível mundial, criaram situações que conduzem a estes dramas. Perdão, Senhor!
Senhor, fazei que hoje ouçamos também as tuas perguntas: «Adão, onde estás?» «Onde está o sangue do teu irmão?».   (papa Francisco na Ilha de Lampeduza)
 
 
Beijar as feridas dos pobres e dos necessitados para encontrar o Deus vivo
Homilia do Papa Francisco: Só existe uma forma de realmente conhecer a Cristo - beijar as suas feridas nas pessoas que sofrem      Por Salvatore Cernuzio
ROMA, 03 de Julho de 2013 (Zenit.org) - São Tomé "foi um teimoso", mas "Cristo quis justamente um teimoso" para afirmar plenamente a sua divindade. O papa Francisco, na missa de hoje na Casa Santa Marta, lança nova luz sobre a figura do apóstolo cuja festa litúrgica é celebrada hoje e que se tornou conhecido na história como "o incrédulo".
Partindo do seu gesto de querer "tocar nas chagas de Cristo para acreditar", o Santo Padre deu hoje mais uma indicação a quem quer seguir o caminho que leva até Deus: beijar as feridas de Jesus em nossos irmãos em necessidade.
Comentando o evangelho do dia, que fala da aparição de Jesus aos apóstolos depois da ressurreição, o papa destacou a ausência de Tomé. Um fato não casual: Cristo, disse o papa, "quis que ele esperasse uma semana". Ele "sabe por que faz as coisas" e "dá para cada um de nós o tempo que acha melhor. Para Tomé, Ele deu uma semana".
Quando o apóstolo vê Jesus se revelando com o seu corpo "limpo, belíssimo e cheio de luz", mas ainda coberto de chagas, é "convidado a colocar o dedo na ferida dos pregos, a colocar a mão em seu lado trespassado". Tomé, fazendo este gesto, "não disse ‘É verdade: o Senhor ressuscitou’, mas foi ainda mais longe", disse o papa. Tomé afirmou: "Deus!" e o adorou, tornando-se "o primeiro dos discípulos a fazer a confissão da divindade de Cristo após a ressurreição".
Isso explica "a intenção do Senhor ao fazê-lo esperar", disse Bergoglio: "levar a sua descrença não apenas à afirmação da ressurreição, mas à afirmação da sua divindade". Porque há somente um caminho "para o encontro com Jesus-Deus: as suas feridas. Não há outro".
"Na história da Igreja", prosseguiu Francisco, "houve alguns enganos no caminho rumo a Deus". Alguns, disse ele, "acreditaram que o Deus vivo, o Deus dos cristãos, pode ser encontrado no caminho da meditação, indo ‘mais alto’ na meditação. Isso é perigoso", alertou: “muitos se perderam nessa estrada, porque, mesmo que até possam ter chegado ao conhecimento de Deus, nunca chegaram ao de Jesus Cristo, Filho de Deus, segunda Pessoa da Santíssima Trindade". É como "o caminho dos gnósticos", disse o pontífice, que "são bons, que trabalham", mas que não seguem o "caminho certo", e sim outro caminho "muito complicado", que "não leva a bom porto".
Há outros, disse o Santo Padre, que "pensaram que, para chegar até Deus, devemos nos mortificar, ser austeros, e escolheram o caminho da penitência e do jejum". Nem estes, no entanto, "chegaram até o Deus vivo, até Jesus Cristo Deus vivo". Eles "são os pelagianos, que acreditam que podem chegar lá com o seu próprio esforço", e que, portanto, erram completamente o caminho indicado por Jesus Cristo para encontrá-lo, isto é, "as suas chagas".
O problema é entender como e onde estão essas chagas de Cristo. O papa Francisco respondeu a esta pergunta afirmando: "Nós encontramos as feridas de Jesus fazendo as obras de misericórdia, ao corpo e à alma, e eu destaco ‘ao corpo’, dos nossos irmãos e irmãs que sofrem, que passam fome, que têm sede, que estão nus, que são humilhados, que são escravos, que estão presos, que estão no hospital".

"Essas são as chagas de Jesus hoje", reiterou, "e Jesus nos pede um ato de fé nele através destas chagas". É muito bom criar uma fundação para ajudar os necessitados, "mas se ficarmos só nesse âmbito, seremos apenas filantrópicos. Temos que tocar nas chagas de Jesus, acariciar as feridas de Jesus, cuidar das feridas de Jesus com ternura, temos que beijar as chagas de Jesus, e isso literalmente". Como São Francisco, que, depois de abraçar o leproso, "viu a sua vida mudar".



Alguns esclarecimentos sobre o papel dos diáconos na liturgia
Responde o pe. Edward McNamara, LC, professor de teologia e diretor espiritual
Por Pe. Edward McNamara, L.C.
ROMA, 28 de Junho de 2013 (Zenit.org) - Temos recebido várias perguntas sobre o papel do diácono na celebração da eucaristia. É um tema coberto de modo exaustivo pela Introdução ao Missal Romano, em seus números 171 a 186. Por esta razão, vamos nos concentrar em algumas perguntas específicas que foram feitas por diáconos e recebidas pela nossa redação. 
Pergunta 1: O diácono também eleva o cálice ou a patena junto com o celebrante no momento da doxologia final da oração eucarística? 
Esta pergunta é respondida com clareza pelo Ordenamento Geral do Missal Romano (OGMR), no nº 180:
180. Durante a doxologia final da oração eucarística, o diácono, ao lado do sacerdote, eleva o cálice, enquanto o sacerdote eleva a patena com a hóstia, até que o povo tenha respondido com a aclamação: Amém.
Observe-se que o diácono eleva o cálice em silêncio e não participa do canto ou da recitação da doxologia. 
Pergunta 2: Após a bênção final do celebrante, no fim da missa, quando o diácono diz ao povo: "Ide em paz ...", ele pronuncia essas palavras abrindo os braços como quando o padre diz "O Senhor esteja convosco"? Ou deve dizê-las de mãos juntas?
Relativamente a esta questão, o OGRM afirma especificamente nos números 184 e 185 que o diácono o faz com as mãos juntas:
184. Terminada a oração depois da comunhão, o diácono faz ao povo eventuais breves avisos, a não ser que o sacerdote prefira fazê-los por si próprio.
185. Quando se usa a fórmula de bênção solene ou a oração sobre o povo, o diácono diz: Inclinai-vos para receber a bênção (Inclinate vos ad benedictionem). Depois da bênção dada pelo sacerdote, o diácono despede o povo, dizendo, de mãos juntas, voltado para o povo: Ide em paz e o Senhor vos acompanhe (Ite, missa est). 
Também com as mãos juntas, o diácono saúda o povo antes de ler o evangelho, dizendo: "O Senhor esteja convosco", e mantém as mãos juntas quando faz o convite ao abraço da paz.
Em outras palavras, a regra geral é que o diácono nunca faz o gesto de abrir os braços e depois juntar as mãos durante a missa.
A explicação é muito simples: o gesto de abrir os braços e juntar as mãos quando se saúda a assembleia durante a missa é considerado um ato presidencial e, portanto, é reservado ao celebrante.
Além disso, o sinal da paz e a despedida no final da missa não são saudações, mas “ordens” para a assembleia.
O "Senhor esteja convosco" antes do Evangelho é um caso especial, pois é, de fato, uma saudação; mas, uma vez que a leitura do Evangelho não é, tradicionalmente, um ato presidencial no rito latino, deve ser pronunciado com as mãos juntas.
Note-se ainda que, quando um padre celebra sem o diácono, ele não abre os braços nos momentos citados acima.
A situação é diferente quando um diácono preside uma assembleia, como, por exemplo, para o ofício divino ou para o serviço da comunhão, e saúda a assembleia estendendo e depois juntando as mãos da mesma forma que o sacerdote. 
Pergunta 3: O diácono pode dar a bênção eucarística? 
Considerando que o diácono é um ministro ordinário do culto eucarístico, na ausência do sacerdote ele pode realizar praticamente todos os ritos previstos para o culto eucarístico fora da missa.
Portanto, quando nenhum sacerdote está presente ou disponível, o diácono pode, sim, dar a bênção. Ao fazê-lo, ele usa as mesmas vestes do sacerdote.
No entanto, se um sacerdote está disponível, o diácono assiste o sacerdote na forma descrita nos livros: expor e repor o Santíssimo Sacramento, apresentar ao sacerdote o ostensório para a benção e depois recolocá-lo no altar.
Por “indisponibilidade” do sacerdote não se entende necessariamente uma ausência total, mas também algum impedimento razoável. Por exemplo: se o padre está ouvindo confissões e há muitos fieis esperando para confessar-se, o diácono, presidindo as devoções eucarísticas, pode dar a bênção.


Ser cristãos sem Cristo
Na homilia na Casa Santa Marta, o papa nos convida a não ser "cristãos só de nome", mas a construir a vida sobre a "rocha" que é Cristo, o único que dá segurança.   Por Salvatore Cernuzio
ROMA, 27 de Junho de 2013 (Zenit.org) - "Ao longo da história da Igreja, tem havido duas classes de cristãos: os cristãos de nome –aqueles do ‘Senhor, Senhor, Senhor’- e os cristãos de ação, de verdade". O papa Francisco partiu desta clara distinção para desenvolver a sua reflexão na missa de hoje, concelebrada com outros bispos e com o cardeal arcebispo de Aparecida, dom Raimundo Damasceno.
Como faz toda manhã, o Santo Padre deu hoje mais algumas pinceladas no desenho do rosto do verdadeiro cristão. Infelizmente, disse ele hoje, não há somente um tipo de cristãos, mas até mesmo cristãos com várias caras. Há os cristãos “de superfície”; há os muito "rígidos" e, portanto, muito "tristes"; há os "alegres", mas sem a verdadeira alegria de Cristo, e, pior ainda, há os que "se mascaram de cristãos". O denominador comum entre todos eles é o fato de não se fundamentarem na “rocha” da Palavra de Cristo, conforme relatava o evangelho do dia, escrito por Mateus: eles seguem "um cristianismo de nome, um cristianismo sem Jesus, um cristianismo sem Cristo", observou o papa....
"Ser cristãos sem Cristo" é algo que "aconteceu e está acontecendo na Igreja hoje", ...“Há muitos cristãosassim”, disse o Santo Padre. Mas também é errado chamá-los de cristãos, porque eles são apenas máscaras: "Eles não sabem quem é nosso Senhor, não sabem o que é a rocha, não têm a liberdade dos cristãos. E, para falar de um modo simples, eles não têm a verdadeira alegria". No meio desse leque que abrange desde os supostamente “alegres” até aqueles que vivem perpetuamente de luto, esses crentes "não sabem o que é a felicidade cristã, não sabem aproveitar a vida que Jesus nos dá, porque não sabem falar com Jesus. Eles não se fundamentam em Jesus, com aquela firmeza que a presença de Jesus nos dá", constatou Bergoglio.
E não apenas não têm alegria genuína, acrescentou o papa, como sequer têm liberdade: "Uns são escravos da superficialidade, de uma vida difusa, e outros são escravos da rigidez, não são livres. O Espírito Santo não tem lugar na vida deles. É o Espírito que nos dá a liberdade". Nosso Senhor, portanto, concluiu o papa, "nos convida hoje a construir a nossa vida cristã com base nele, a rocha, aquele que nos dá a liberdade, aquele que nos envia o Espírito, que nos impele a caminhar com felicidade, pela sua estrada, nas suas propostas".


A infalibilidade do papa
A infalibilidade do papa está intimamente ligada à virtude da humildade. Por Edson Sampel
SãO PAULO, 27 de Junho de 2013 (Zenit.org) - O fato de o papa ser infalível constitui um dogma de fé. Com efeito, sem a denominada inerrância do sumo pontífice, como saberíamos certas coisas fundamentais para nossa religião? Jesus não erigiria uma Igreja e a deixaria sem norte.
Desde a fundação da Igreja católica, houve 13 definições ex cathedra, isto é, sentenças solenes, através das quais os papas dispuseram sobre questões de fé ou de moral. A propósito, é bom que se diga: a infalibilidade do papa se circunscreve aos assuntos relativos ao credo ou  aos costumes. Se, por exemplo, Francisco disser que existe vida no planeta Marte, tal assertiva não obriga os cristãos. É apenas uma opinião do bispo de Roma. No entanto, quando Pio IX, no século XIX, declarou solenemente que nossa Senhora foi concebida sem a mancha do pecado original, ensinou de forma infalível e este ensinamento tem de ser crido com fé divina e católica, ou seja, como um item da revelação de Deus.
Um ponto importante acerca do carisma da infalibilidade é que o papa não “cria” um novo dado de fé. Retomemos o exemplo citado acima, da imaculada conceição. O modo peculiar, maravilhoso e miraculoso como se deu a concepção de santa Maria encontra-se indiretamente relatado quer na tradição sagrada quer na escritura sagrada. O papa apenas referendou uma verdade objeto da revelação divina.

Francisco: "Nunca vi um caminhão de mudança atrás de um cortejo fúnebre"
Papa propõe uma reflexão na missa diária sobre não acumular riquezas na terra
Por Redacao
CIDADE DO VATICANO, 21 de Junho de 2013 (Zenit.org) - Pedir a Deus a graça de um coração que saiba amar e que não se deixe desviar por tesouros inúteis: esta é a substância da homilia do papa Francisco na Casa Santa Marta...
A luta pelo único tesouro que podemos levar conosco depois desta vida é a razão de ser de um cristão. É a razão de ser que Jesus explica aos discípulos, na passagem de hoje do evangelho de Mateus: "Onde estiver o teu tesouro, ali estará também teu coração". A questão, explica o papa, é não confundir as riquezas. Há “tesouros arriscados” que seduzem, “mas que devemos abandonar”: aqueles acumulados durante a vida e que a morte destrói. Francisco observa com um toque de ironia: "Nunca vi um caminhão de mudança atrás de um cortejo fúnebre". Mas há um tesouro que "podemos levar conosco", um tesouro que ninguém pode nos roubar e que “não é o que você vem guardando para si", mas sim "o que você dá para os outros".

"O tesouro que damos aos outros é o tesouro que nós levamos. E esse vai ser o nosso mérito, entre aspas, mas é um ‘nosso mérito’ de Jesus Cristo em nós! E é isso o que nós temos que levar. E é aquilo que nosso Senhor nos deixa levar. O amor, a caridade, o serviço, a paciência, a bondade, a ternura são lindos tesouros: são os tesouros que nós levamos. Os outros, não"....



"A unidade é sempre maior que os conflitos" (papa Francisco)
CIDADE DO VATICANO, 19 de Junho de 2013 (Zenit.org)
Queridos irmãos e irmãs, bom dia!
Hoje concentro-me sobre outra expressão com a qual o Concílio Vaticano II indica a natureza da Igreja: aquela do corpo; o Concílio diz que a Igreja é o Corpo de Cristo (cfr Lumen gentium, 7).
....Todos unidos, todos unidos com as nossas diferenças, mas unidos, sempre: este é o caminho de Jesus. A unidade é superior aos conflitos. A unidade é uma graça que devemos pedir ao Senhor para que nos liberte das tentações das divisões, das lutas entre nós, dos egoísmos, das fofocas. Quanto mal fazem as fofocas, quanto mal! Nunca fofocar sobre os outros, nunca! Quantos danos causam à Igreja as divisões entre os cristãos, o partidarismo, os interesses mesquinhos!
As divisões entre nós, mas também as divisões entre as comunidades: cristãos evangélicos, cristãos ortodoxos, cristãos católicos, mas por que divisão? Devemos procurar levar a unidade. Vou contar para vocês uma coisa: hoje, antes de sair de casa, estive quarenta minutos, mais ou menos, meia hora, com um Pastor evangélico e rezamos juntos, e buscamos a unidade. Mas devemos rezar entre nós católicos e também com os outros cristãos, rezar para que o Senhor nos doe a unidade, unidade entre nós. Mas como teremos a unidade entre os cristãos se não somos capazes de tê-la entre nós católicos? De tê-la na família? Quantas famílias lutam e se dividem! Busquem a unidade, a unidade que faz a Igreja. A unidade vem de Jesus Cristo. Ele nos envia o Espírito Santo para fazer a unidade.

Sejam homens de fronteira!
O papa Francisco pede que os redatores da Civiltà Cattolica "construam pontes" para colaborar com o "bem comum", mantendo o olhar "bem fixo em Cristo"

Por Luca Marcolivio
ROMA, 14 de Junho de 2013 (Zenit.org) - Para a Civiltà Cattolica, foi um momento histórico: nesta manhã, na Sala dos Papas do Palácio Apostólico Vaticano, os redatores da histórica revista dos jesuítas se encontraram pela primeira vez com um papa da sua própria congregação.
...
O papa Francesco expôs aos irmãos a sua usual tríade de conceitos em estilo inaciano. Em primeiro lugar, ele falou de "diálogo".
...A vocação da Civiltà Cattolica –e  da Companhia de Jesus em geral– não é, porém, a de "construir muros, e sim pontes", ou "estabelecer um diálogo com todos os homens, inclusive com aqueles que não compartilham a fé cristã" ou até a perseguem.
"Diálogo significa estar convencidos de que o outro tem algo bom a dizer; abrir espaço para o seu ponto de vista, para a sua opinião, para as suas propostas, sem cair, é claro, no relativismo", disse o papa. Para dialogar, é necessário "baixar a guarda e abrir as portas", acrescentou.
Francisco pediu aos escritores da Civiltà Cattolica que continuem o "diálogo com as instituições culturais, sociais e políticas", para que, juntos, todos cooperem para o "bem comum". A civilização católica, acrescentou ele, é "a civilização do amor, da misericórdia e da fé".
A segunda palavra-chave é "discernimento", ou a capacidade de "reunir e expressar as expectativas, os desejos, as alegrias e os dramas do nosso tempo, e de oferecer os elementos para uma leitura da realidade à luz do Evangelho".
...
A terceira palavra-chave mencionada pelo papa é "fronteira". Entrando no vivo debate cultural contemporâneo, a Civiltà Cattolica é chamada a contribuir para curar o "drama" da "ruptura entre o evangelho e a cultura".
Na esteira das palavras do papa emérito Bento XVI, que enfatizou a presença ativa dos jesuítas "nos campos mais difíceis", "nas encruzilhadas das ideologias" e "nas trincheiras sociais", Francisco recomendou aos seus irmãos da Civiltà Cattolica “ser homens de fronteira, com aquela capacidade que vem de Deus (cf. 2 Cor 3,6)”.
Sublinhando as mudanças no layout e o lançamento da nova versão digital da Civiltà Cattolica, o Santo Padre acrescentou: "Essas também são fronteiras em que vocês são chamados a trabalhar. Sigam em frente nessa estrada".


 O que quer dizer povo de Deus?

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!
Hoje gostaria de concentrar-me brevemente sobre um dos termos com o qual o Concílio Vaticano II definiu a Igreja, aquele do “Povo de Deus” (cfr. Const. Dog. Lumen Gentium, 9; Catecismo da Igreja Católica, 782). E o faço com algumas perguntas, sobre as quais cada um poderá refletir.
1. O que significa dizer ser “Povo de Deus”? Antes de tudo quer dizer que Deus não pertence propriamente a algum povo; porque Ele nos chama, convoca-nos, convida-nos a fazer parte do seu povo, e este convite é dirigido a todos, sem distinção, porque a misericórdia de Deus “quer a salvação para todos” (1 Tm 2, 4). Jesus não diz aos Apóstolos e a nós para formarmos um grupo exclusivo, um grupo de elite. Jesus diz: ide e fazei discípulos todos os povos (cfr Mt 28, 19). São Paulo afirma que no povo de Deus, na Igreja, “não há judeu nem grego… pois todos vós sois um em Cristo Jesus” (Gal 3, 28). Gostaria de dizer também a quem se sente distante de Deus e da Igreja, a quem está temeroso ou indiferente, a quem pensa não poder mais mudar: o Senhor chama também você a fazer parte do seu povo e o faz com grande respeito e amor! Ele nos convida a fazer parte deste povo, povo de Deus.
2. Como tornar-se membros deste povo? Não é através do nascimento físico, mas através de um novo nascimento. No Evangelho, Jesus diz a Nicodemos que é preciso nascer do alto, da água e do Espírito para entrar no Reino de Deus (cfr Jo 3, 3-5). É através do Batismo que nós somos introduzidos neste povo, através da fé em Cristo, dom de Deus que deve ser alimentado e crescer em toda a nossa vida. Perguntamo-nos: como faço crescer a fé que recebi no Batismo? Como faço crescer esta fé que eu recebi e que o povo de Deus possui?
3. Outra pergunta. Qual é a lei do Povo de Deus? É a lei do amor, amor a Deus e amor ao próximo segundo o mandamento novo que nos deixou o Senhor (cfr Jo 13, 34). Um amor, porém, que não é estéril sentimentalismo ou algo vago, mas que é o reconhecer Deus como único Senhor da vida e, ao mesmo tempo, acolher o outro como verdadeiro irmão, superando divisões, rivalidades, incompreensões, egoísmos; as duas coisas andam juntas. Quanto caminho temos ainda a percorrer para viver concretamente esta nova lei, aquela do Espírito Santo que age em nós, aquela da caridade, do amor! Quando nós olhamos para os jornais ou para a televisão tantas guerras entre cristãos, mas como pode acontecer isso? Dentro do povo de Deus, quantas guerras! Nos bairros, nos locais de trabalho, quantas guerras por inveja, ciúmes! Mesmo na própria família, quantas guerras internas! Nós precisamos pedir ao Senhor que nos faça entender bem esta lei do amor. Quanto é belo amar-nos uns aos outros como verdadeiros irmãos. Como é belo! Façamos uma coisa hoje. Talvez todos tenhamos simpatias e antipatias; talvez tantos de nós estamos um pouco irritados com alguém; então digamos ao Senhor: Senhor, eu estou irritado com esta pessoa ou com esta; eu rezo ao Senhor por ele e por ela. Rezar por aqueles com os quais estamos irritados é um belo passo nesta lei do amor. Vamos fazer isso? Façamos isso hoje!
4. Que missão tem este povo? Aquela de levar ao mundo a esperança e a salvação de Deus: ser sinal do amor de Deus que chama todos à amizade com Ele; ser fermento que faz fermentar a massa, sal que dá o sabor e que preserva da corrupção, ser uma luz que ilumina. Ao nosso redor, basta abrir um jornal – como disse – e vemos que a presença do mal existe, o Diabo age. Mas gostaria de dizer em voz alta: Deus é mais forte! Vocês acreditam nisso: que Deus é mais forte? Mas o digamos juntos, digamos juntos todos: Deus é mais forte! E sabem por que é mais forte? Porque Ele é o Senhor, o único Senhor. E gostaria de acrescentar que a realidade às vezes escura, marcada pelo mal, pode mudar, se nós primeiro levamos a luz do Evangelho sobretudo com a nossa vida. Se em um estádio, pensemos aqui em Roma no Olímpico, ou naquele de São Lourenço em Buenos Aires, em uma noite escura, uma pessoa acende uma luz, será apenas uma entrevista, mas se os outros setenta mil expectadores acendem cada um a própria luz, o estádio se ilumina.  Façamos que a nossa vida seja uma luz de Cristo; juntos levaremos a luz do Evangelho a toda a realidade.
5. Qual é a finalidade deste povo? A finalidade é o Reino de Deus, iniciado na terra pelo próprio Deus e que deve ser ampliado até a conclusão, até a segunda vinda de Cristo, vida nossa (cfr Lumen gentium, 9). A finalidade então é a comunhão plena com o Senhor, a familiaridade com o Senhor, entrar na sua própria vida divina, onde viveremos a alegria do seu amor sem medidas, uma alegria plena.
Queridos irmãos e irmãs, ser Igreja, ser Povo de Deus, segundo o grande desígnio do amor do Pai, quer dizer ser o fermento de Deus nesta nossa humanidade, quer dizer anunciar e levar a salvação de Deus neste nosso mundo, que muitas vezes está perdido, necessitado de ter respostas que encorajem, que dêem esperança, que dêem novo vigor no caminho. A Igreja seja lugar da misericórdia e da esperança de Deus, onde cada um possa sentir-se acolhido, amado, perdoado, encorajado a viver segundo a vida boa do Evangelho. E para fazer o outro sentir-se acolhido, amado, perdoado, encorajado, a Igreja deve estar com as portas abertas, para que todos possam entrar. E nós devemos sair destas portas e anunciar o Evangelho.    

Catequese do Papa Francisco: Povo de Deus – 12/06/2013 


Papa Francisco: quem se aproxima da Igreja deve encontrar portas abertas e não fiscais da fé

Rádio Vaticano
Na missa da manhã do último sábado, 25, na Capela da Casa de Santa Marta o Papa Francisco refletiu na sua homilia, através do Evangelho do dia, sobre a abertura e disponibilidade que devemos ter enquanto crentes, em particular os sacerdotes, enquanto facilitadores da fé. No Evangelho Cristo chama a atenção dos discípulos para o fato de estes estarem a afastar as crianças que as pessoas levavam para o Senhor as abençoar. Jesus tocava em todos, a todos recebia e abraçava. E o Santo Padre até contou uma pequena história:
“Recordo que uma vez, saindo da cidade de Salta, no dia da Festa do Padroeiro, estava uma senhora que pedia a um padre uma bênção. Este disse-lhe que ela já tinha estado na missa e, então, explicou-lhe toda a teologia da bênção existente na missa. Ela respondeu: Ah, muito obrigado. O padre foi-se embora e ela dirigiu-se logo a outro padre para lhe pedir uma bênção, pois, ela tinha outra necessidade a de ser tocada pelo Senhor. Esta é a fé que encontramos sempre e esta fé é suscitada pelo Espírito Santo. Nós devemos facilitá-la, fazê-la crescer, ajudá-la a crescer.”
O Papa citou depois o episódio do cego de Jericó que gritava por Jesus. E as pessoas não queriam que ele gritasse, pois ia contra o as normas, as regras, enfim o protocolo. E recordou que quantas vezes quando numa paróquia as pessoas são acolhidas friamente, mesmo por leigos. Em muitos casos, quase tecnicamente, sem que suscite a quem acolhe uma reação de alegria perante um irmão na fé que ali se apresenta para celebrar um batismo, um matrimônio ou fazer uma inscrição na catequese. Apropriamo-nos um pouco do Senhor e os outros que sigam as nossas regras… O Santo Padre para terminar deu outro exemplo:
“ Pensai numa mãe-solteira que vai à Igreja, à paróquia e diz ao secretário: Quero batizar o meu menino. E quem a acolhe diz-lhe: Não tu não podes porque não estás casada. Atentemos que esta rapariga que teve a coragem de continuar com uma gravidez o que é que encontra? Uma porta fechada. Isto não é zelo! Afasta as pessoas do Senhor! Não abre as portas! E assim quando nós seguimos este caminho e esta atitude, não estamos o bem às pessoas, ao Povo de Deus. Jesus instituiu 7 sacramentos e nós com esta atitude instituímos o oitavo: o sacramento da alfândega pastoral.”
Fonte: CND - diácono Pedro Fávaro Júnior - Jundiaí/SP


Ecologia humana e ecologia ambiental caminham juntas
Catequese do Papa Francisco durante a Audiência Geral de hoje
CIDADE DO VATICANO, 05 de Junho de 2013 (Zenit.org) - A Audiência Geral desta manhã começou às 10h30 na praça de São Pedro, onde o Santo Padre Francisco encontrou-se com grupos de peregrinos e fieis provenientes da Itália e de outros países. No seu discurso, o Papa centrou a sua meditação no tema "Cultivar e cuidar da Criação", devido à presente Jornada Mundial do Meio Ambiente. A seguir o discurso do Papa: 
Queridos irmãos e irmãs, bom dia!
Hoje gostaria de concentrar-me sobre a questão do ambiente, como já tive oportunidade de fazer em diversas ocasiões. Também sugerido pelo Dia Mundial do Ambiente, promovido pelas Nações Unidas, que lança um forte apelo à necessidade de eliminar os desperdícios e a destruição de alimentos.
Quando falamos de ambiente, da criação, o meu pensamento vai às primeiras páginas da Bíblia, ao Livro de Gênesis, onde se afirma que Deus colocou o homem e a mulher na terra para que a cultivassem e a protegessem (cfr 2, 15). E me surgem as questões: O que quer dizer cultivar e cuidar da terra? Nós estamos realmente cultivando e cuidando da criação? Ou será que estamos explorando-a e negligenciando-a? O verbo “cultivar” me traz à mente o cuidado que o agricultor tem com a sua terra para que dê fruto e esse seja partilhado: quanta atenção, paixão e dedicação! Cultivar e cuidar da criação é uma indicação de Deus dada não somente no início da história, mas a cada um de nós; é parte do seu projeto; quer dizer fazer o mundo crescer com responsabilidade, transformá-lo para que seja um jardim, um lugar habitável para todos. Bento XVI recordou tantas vezes que esta tarefa confiada a nós por Deus Criador requer captar o ritmo e a lógica da criação. Nós, em vez disso, somos muitas vezes guiados pela soberba do dominar, do possuir, do manipular, do explorar; não a “protegemos”, não a respeitamos, não a consideramos como um dom gratuito com o qual ter cuidado. Estamos perdendo a atitude de admiração, de contemplação, de escuta da criação; e assim não conseguimos mais ler aquilo que Bento XVI chama de “o ritmo da história de amor de Deus com o homem”. Porque isto acontece? Porque pensamos e vivemos de modo horizontal, estamos nos afastando de Deus, não lemos os seus sinais.
Mas o “cultivar e cuidar” não compreende somente a relação entre nós e o ambiente, entre o homem e a criação, diz respeito também às relações humanas. Os Papas falaram de ecologia humana, estritamente ligada à ecologia ambiental. Nós estamos vivendo um momento de crises; vemos isso no ambiente, mas, sobretudo, no homem. A pessoa humana está em perigo: isto é certo, a pessoa humana hoje está em perigo, eis a urgência da ecologia humana! E o perigo é grave porque a causa do problema não é superficial, mas profunda: não é somente uma questão de economia, mas de ética e de antropologia. A Igreja destacou isso muitas vezes; e muitos dizem: sim, é certo, é verdade… mas o sistema continua como antes, porque aquilo que domina são as dinâmicas de uma economia e de uma finança carentes de ética. Aquilo que comanda hoje não é o homem, é o dinheiro, o dinheiro, o dinheiro comanda. E Deus nosso Pai deu a tarefa de cuidar da terra não ao dinheiro, mas a nós: aos homens e mulheres, nós temos esta tarefa! Em vez disso, homens e mulheres sacrificam-se aos ídolos do lucro e do consumo: é a “cultura do descartável”. Se um computador quebra é uma tragédia, mas a pobreza, as necessidades, os dramas de tantas pessoas acabam por entrar na normalidade. Se em uma noite de inverno, aqui próximo na rua Ottaviano, por exemplo, morre uma pessoa, isto não é notícia. Se em tantas partes do mundo há crianças que não têm o que comer, isto não é notícia, parece normal. Não pode ser assim! No entanto essas coisas entram na normalidade: que algumas pessoas sem teto morram de frio pelas ruas não é notícia. Ao contrário, a queda de dez pontos na bolsa de valores de uma cidade constitui uma tragédia. Um que morre não é uma notícia, mas se caem dez pontos na bolsa é uma tragédia! Assim as pessoas são descartadas, como se fossem resíduos.
Esta “cultura do descartável” tende a se transformar mentalidade comum, que contagia todos. A vida humana, a pessoa não são mais consideradas como valor primário a respeitar e cuidar, especialmente se é pobre ou deficiente, se não serve ainda – como o nascituro – ou não serve mais – como o idoso. Esta cultura do descartável nos tornou insensíveis também com relação ao lixo e ao desperdício de alimento, o que é ainda mais deplorável quando em cada parte do mundo, infelizmente, muitas pessoas e famílias sofrem fome e desnutrição. Um dia os nossos avós estiveram muito atentos para não jogar nada de comida fora. O consumismo nos induziu a acostumar-nos ao supérfluo e ao desperdício cotidiano de comida, ao qual às vezes não somos mais capazes de dar o justo valor, que vai muito além de meros parâmetros econômicos. Recordemos bem, porém, que a comida que se joga fora é como se estivesse sendo roubada da mesa de quem é pobre, de quem tem fome! Convido todos a refletir sobre o problema da perda e do desperdício de alimento para identificar vias que, abordando seriamente tal problemática, sejam veículo de solidariedade e de partilha com os mais necessitados.
Há poucos dias, na festa de Corpus Christi, lemos a passagem do milagre dos pães: Jesus dá de comer à multidão com cinco pães e dois peixes. E a conclusão do trecho é importante: “E todos os que comeram ficaram fartos. Do que sobrou recolheram ainda doze cestos de pedaços” (Lc 9, 17). Jesus pede aos discípulos que nada seja perdido: nada desperdiçado! E tem este fato das doze cestas: por que doze? O que significa? Doze é o número das tribos de Israel, representa simbolicamente todo o povo. E isto nos diz que quando a comida vem partilhada de modo igualitário, com solidariedade, ninguém é privado do necessário, cada comunidade pode satisfazer as necessidades dos mais pobres. Ecologia humana e ecologia ambiental caminham juntas.
Gostaria então que levássemos todos a sério o compromisso de respeitar e cuidar da criação, de estar atento a cada pessoa, de combater a cultura do lixo e do descartável, para promover uma cultura da solidariedade e do encontro. Obrigado.
Tradução: Jéssica Marçal/ Canção Nova

Preservar a criação, não desperdiçar comida, respeitar a pessoa
Audiência geral: o papa denuncia a "cultura do desperdício", na qual "é o dinheiro que manda", e apela por todas as pessoas e pela Terra que nos foi presenteada por Deus
Por Salvatore Cernuzio
CIDADE DO VATICANO, 05 de Junho de 2013 (Zenit.org) - O papa Francisco cita São Francisco. Tal como o seu homônimo de Assis, o Santo Padre lançou durante a audiência geral de hoje um forte apelo à humanidade no Dia Mundial do Meio Ambiente, promovido pela Organização das Nações Unidas, em prol do cuidado da criação e do fim do desperdício e da destruição de alimentos.   .....
O próprio verbo "cultivar", destacou Bergoglio, "chama a atenção para o cuidado que o agricultor tem pela sua terra, para que ela dê frutos e os frutos sejam compartilhados". "Quanta atenção, paixão e dedicação", exclamou o Santo Padre. Mas nós estamos fazendo o mesmo? "Estamos mesmo cultivando e tomando conta da criação?" Ou "só estamos explorando e negligenciando?".
A tendência nossa, de cidadãos do mundo, é a de nos deixar guiar muitas vezes "pela arrogância de dominar, de possuir, manipular, explorar", observou o papa. O resultado é que não cuidamos da terra que Deus nos deu, "não a respeitamos, não a consideramos um dom gratuito a ser preservado. Estamos perdendo a atitude da admiração, da contemplação, de escutar a criação, e não conseguimos ler o que Bento XVI chama de ‘ritmo da história de amor de Deus com o homem’".
Esta "poluição" na relação entre o homem e a criação se propaga na relação entre o homem e o próprio homem. Porque "cultivar e tomar conta não inclui apenas a relação entre nós e o meio ambiente, mas também as relações humanas". Mais de um papa já falou, aliás, de "ecologia humana, intimamente ligada à ecologia ambiental".
O momento de crise que atravessamos, disse Francisco, "é visível no ambiente, mas acima de tudo é visível no homem", numa sociedade em que "a pessoa humana está em perigo". É urgente, portanto, uma “ecologia humana”, de acordo com o Sucessor de Pedro, porque a causa da crise "não é apenas uma questão de economia, mas de ética e de antropologia".    .....
É a chamada "cultura do descartável", na qual, disse o papa, "se numa noite de inverno morre uma pessoa aqui na Via Ottaviano, isso não é notícia. Se em tantas partes do mundo há crianças que não têm nada para comer, isso não é notícia. Parece normal". Mas o mundo não pode continuar assim, insistiu ele, [não pode continuar] “considerando normal que moradores de rua morram de frio, ao mesmo tempo em que acha uma tragédia se a bolsa de valores de algumas cidades cair 10 pontos".
Devido a essa "cultura" contaminante, "nós, as pessoas, somos descartados, como se fôssemos sobras", observou o papa com veemência. "A vida humana, a pessoa humana, não é mais percebida como valor primário a ser respeitado e protegido, especialmente se é pobre ou deficiente, ou se ‘ainda não é útil’, como o nascituro, ou se ‘não serve mais’, como os idosos".
Não só isto: "Essa cultura do descartável nos tornou insensíveis até mesmo ao desperdício de alimentos, que são ainda esbanjados enquanto, em todas as partes do mundo, muitos indivíduos e famílias inteiras passam fome e sofrem desnutrição". Os "nossos avós eram muito cuidadosos para não jogar nada fora dos restos de comida", lembrou o papa; hoje, porém, o consumismo "nos acostumou ao supérfluo e ao desperdício diário de alimentos, de comida que, às vezes, não somos mais capazes de valorizar devidamente e que vai muito além de meros parâmetros econômicos". Temos que nos lembrar de que "o alimento que é jogado fora é como se fosse roubado da mesa dos pobres, dos famintos".
A exortação de Bergoglio não é apenas fruto de uma alma que sempre foi sensível à pobreza, mas é a tradução prática de um ensinamento que o próprio Jesus nos deixou. Conforme o relato do milagre da multiplicação dos pães, lido na Festa de Corpus Christi, "Jesus pede aos discípulos que não deixem nada ser desperdiçado: nenhum desperdício", reitera o papa. Esta passagem, explicou ele, "nos diz que quando o alimento é compartilhado de forma justa, solidária, ninguém fica privado e cada comunidade pode satisfazer as necessidades dos mais pobres".
"A ecologia humana e a ecologia ambiental caminham juntas", é a conclusão do pontífice. "Eu gostaria, por isso, que todos nós levássemos a sério o compromisso de respeitar e de preservar a criação de Deus, de estar sempre atentos a cada pessoa, de combater a cultura do desperdício e do descartável, para promover uma cultura da solidariedade e do encontro".
 
 
Abordar o sofrimento de maneira humana, não acadêmica
Pedido do papa Francisco na missa desta quarta-feira
Por Redacao
CIDADE DO VATICANO, 05 de Junho de 2013 (Zenit.org) - Lamentar-se dos próprios sofrimentos diante de Deus não é pecado, mas sim uma oração do coração que chega até o Senhor: esta foi a ideia principal do papa na missa matutina desta quarta-feira, na Casa Santa Marta.
Estavam presentes alguns membros da Congregação para o Culto Divino e para a Disciplina dos Sacramentos, bem como funcionários da Biblioteca Apostólica Vaticana. Concelebraram, entre outros, o cardeal Antonio Cañizares Llovera, presidente do dicastério da liturgia.
A oração de quem sofre
A história de Tobias e Sara, narrada na primeira leitura do dia, foi o tema central da homilia do papa: duas pessoas justas que vivem situações dramáticas. O primeiro é cego, mas realiza boas obras mesmo correndo riscos para a própria vida; a segunda se casa com sete homens que morrem antes da sua noite de núpcias. Ambos, em sua dor profunda, oram a Deus para que Ele os deixe morrer. “Trata-se de pessoas em situações extremas”, observa o papa, “situações que são próprias do mais baixo da existência, e que procuram uma saída”. Eles se queixam, mas “não blasfemam”.
"E queixar-se diante de Deus não é pecado. Um presbítero que eu conheço disse uma vez a uma mulher que se queixava perante Deus: 'Mas, senhora, essa é uma forma de oração. Continue!'. Nosso Senhor ouve, escuta os nossos lamentos. Pensemos nos grandes, em Jó, quando, no capítulo III, ele afirma: 'Maldito seja o dia em que vim ao mundo'. E Jeremias, no capítulo XX: 'Maldito o dia ...'. Eles se queixam e até pronunciam uma maldição, não contra o Senhor, mas contra essa situação, não é? Isto é humano".
Casos humanos, não acadêmicos
Há muitas pessoas que vivem casos limites, destacou o papa: crianças desnutridas, refugiados, doentes terminais. No evangelho do dia, aparecem os saduceus que apresentam a Jesus o caso limite de uma mulher, viúva de sete homens. Eles não tratavam do assunto com o coração: "Os saduceus estavam falando daquela mulher como se ela fosse um laboratório... Era um caso de estudo de moral. Nós, quando pensamos nas pessoas que sofrem muito, pensamos como se elas fossem um caso de moral a ser discutido, puras ideias: 'mas nesse caso... ou naquele caso'...". Ou será que pensamos com o coração, com a nossa carne também? Eu não gosto quando essas situações são tratadas só de maneira acadêmica e não humana, às vezes como estatísticas... E só. Na Igreja há muitas pessoas nesta situação".
Nestes casos, insistiu o papa, temos que fazer o que Jesus nos manda: orar. "Oremos por eles. Eles têm que entrar no meu coração, têm que se tornar um vivo interesse para mim: o meu irmão está sofrendo, a minha irmã está sofrendo. Eis aqui o mistério da comunhão dos santos: orar ao Senhor: 'Mas, Senhor, olha para aquele ali: ele está chorando, está sofrendo'. Orar, permitam-me dizer, “com a carne”: que a nossa carne ore. Não com meras ideias, mas orar com o coração".
E as orações de Tobias e Sara, que, apesar de terem pedido para morrer, se dirigiram ao Senhor, nos dão esperança, já que eles são acolhidos por Deus à sua maneira. Deus não os faz morrer, mas cura Tobias e dá finalmente um marido a Sara: "A oração sempre chega até a glória de Deus, sempre, quando é uma oração do coração. Mas quando se trata de um caso de moral, como aquele que os saduceus estavam abordando, ela nunca chega, porque nunca passa de nós mesmos: não nos importa. É só um jogo intelectual".
Francisco convidou os participantes na missa a rezar por aqueles que vivem situações dramáticas e sofrem muito, por aqueles que, como Jesus na cruz, clamam: "Pai, Pai, por que me abandonaste?". “Oremos”, concluiu, “para que a nossa oração chegue até Deus e traga um pouco de esperança para todos nós”.
 
 
Quem se esquece do amor de Deus e se torna adorador de si mesmo é corrupto
Homilia na Casa Santa Marta: papa Francisco pede "a graça de nos sentirmos todos os pecadores"
Por Luca Marcolivio
CIDADE DO VATICANO, 03 de Junho de 2013 (Zenit.org) - A corrupção como oposição à santidade foi o tema da homilia do papa Francisco na missa desta manhã na Casa Santa Marta. O papa concelebrou com o cardeal Angelo Amato, prefeito da Congregação para as Causas dos Santos. Participaram da celebração alguns colaboradores da mesma congregação.
Partindo do evangelho do dia (Mc 12,1-12), o Santo Padre explicou que existem "três modelos de cristãos na Igreja: os pecadores, os corruptos e os santos". Quanto aos pecadores, "não é necessário falar muito, porque todos nós somos" e, "caso algum de nós não se sinta pecador, que vá fazer uma visita ao médico espiritual", acrescentou, com seu estilo bem humorado.
O papa se concentrou especialmente na categoria dos “corruptos” ou “corrompidos”, exemplificada no evangelho do dia pelos vinhateiros perversos que queriam "apossar-se da vinha e que tinham perdido o relacionamento com o Senhor da vinha".
O Senhor da vinha é uma metáfora para Deus, que "nos chamou com amor e nos protege, mas também nos deu a liberdade", observou Francisco. Os vinhateiros da parábola são pessoas que "se sentiram fortes, autônomas sem Deus": esta atitude, explicou o pontífice, é sinônimo de corrupção.
Os corrompidos são aqueles que “eram pecadores como todos nós", mas "deram um passo a mais" e "se consolidaram no pecado", como se não tivessem mais "necessidade de Deus". Não sendo capazes de realmente negar a Deus, eles "fazem um deus especial: eles próprios são o seu deus".
Nas comunidades cristãs, a corrupção também existe e se manifesta, por exemplo, nas atitudes sectárias daqueles que parecem acolher os outros, mas na verdade pensam somente nos interesses do seu pequeno grupo.
Judas é o fundador “da raça dos cristãos degenerados: de pecador miserável, ele terminou como corrompido”. Os corruptos, acrescentou o papa, são "grande desmemoriados": eles se esqueceram do amor de Deus, tornando-se "adoradores de si mesmos".
"Quanto mal fazem os corruptos nas comunidades cristãs! Que o Senhor nos livre de deslizar para essa estrada de corrupção".
Lembrando o cinquentenário da morte do beato João XXIII, "modelo de santidade", o papa Francisco aproveitou para lembrar quem são os santos: aqueles que "vão buscar o aluguel" da vinha, que "sabem o que os aguarda, mas cumprem o seu dever".
Os santos, também, são "aqueles que obedecem ao Senhor, que adoram o Senhor, que não perderam a memória do amor com que o Senhor fez a vinha". Assim como os corrompidos prejudicam a Igreja, os santos a beneficiam. E ao passo que os corruptos são descritos pelo apóstolo João como "o anticristo", como aqueles que "estão no meio de nós, mas não são dos nossos", os santos são, por outro lado, como uma luz na presença de Deus e curvam-se diante dele em adoração.
A exortação final do Santo Padre foi um pedido a Deus: "a graça de nos sentirmos pecadores", não em abstrato, mas pelos nossos pecados concretos e específicos, juntamente com a "graça de não nos tornarmos corruptos: pecadores, mas corruptos não".


A solidariedade não é esmola social, e sim um valor
O papa Francisco se dirigiu na audiência do último sábado, 25 de maio, aos participantes da conferência internacional organizada pela Fundação Centesimus Annus Pro Pontifice
CIDADE DO VATICANO, 27 de Maio de 2013 (Zenit.org) -
Estou muito feliz de encontrá-los por ocasião da conferência internacional da Fundação Centesimus Annus Pro Pontifice, cujo tema foi "Repensando a solidariedade em prol do emprego: os desafios do século XXI". Saúdo cordialmente cada um de vocês e agradeço, em particular, ao seu presidente, o dr. Domingo Sugranyes, pelas suas amáveis ​​palavras.
A Fundação Centesimus Annus foi fundada pelo beato João Paulo II, há vinte anos, e traz o nome da encíclica que ele assinou no centenário da Rerum Novarum. Sua esfera de reflexão e ação é, portanto, a da Doutrina Social da Igreja, com a qual contribuíram em muitos aspectos os papas do século passado e Bento XVI, em particular com a encíclica Caritas in Veritate, mas também com discursos memoráveis.
Eu gostaria de começar agradecendo a vocês pelos seus esforços em aprofundar e difundir o conhecimento da doutrina social, com os seus cursos e publicações. Acho que é muito bonito e importante este seu serviço ao magistério social, como leigos que vivem na sociedade, no mundo da economia e do trabalho.
É justamente a tratar do trabalho que se orienta esta sua convenção, na perspectiva da solidariedade, que é um valor fundamental da doutrina social, conforme fomos lembrados pelo beato João Paulo II.
Ele, em 1981, dez anos antes da Centesimus Annus, escreveu a encíclica Laborem Exercens, inteiramente dedicada ao trabalho humano.
O que significa “repensar a solidariedade?”. Certamente, não significa pôr em discussão o magistério recente, que, aliás, demonstra cada vez mais a sua visão profunda e a sua atualidade. "Repensar" me parece, antes, que significa duas coisas: em primeiro lugar, combinar o magistério com o desenvolvimento sócio-econômico, que, por ser constante e rápido, apresenta sempre novos aspectos; em segundo lugar, "repensar" significa aprofundar, refletir mais, para fazer emergir toda a fecundidade de um valor –que é a solidariedade, neste caso–enraizado no Evangelho, ou seja, em Jesus Cristo, e que, como tal, contém potencialidades inesgotáveis.
A atual crise econômica e social aumenta a urgência desse "repensar" e sublinha ainda mais a verdade e a atualidade de afirmações do magistério social como a que lemos na Laborem Exercens: "Ao voltarmos o olhar para toda a família humana [...] não pode deixar de atingir-nos um fato desconcertante e de proporções imensas: enquanto, por um lado, conspícuos recursos da natureza permanecem inutilizados, há, por outro, legiões de desempregados e subempregados e multidões sem fim de famintos, fato este que, sem dúvida, testemunha que [...]algo não está funcionando" (nº 18).
É um fenômeno, o do desemprego, o da falta e da perda de trabalho, que vem se espalhando veloz por vastas áreas do ocidente e que estende de forma alarmante os limites da pobreza. E não há pior pobreza material, urge salientá-lo, que aquela que não permite ganhar o pão e que priva da dignidade do trabalho.
Esse "algo que não está funcionando" já não diz respeito apenas ao sul do mundo, mas ao planeta inteiro. Daí a necessidade de se "repensar a solidariedade" não mais como simples assistência aos mais pobres, mas como uma revisão global de todo o sistema, como busca de caminhos para reformá-lo e corrigi-lo de modo coerente com os direitos fundamentais do homem, de todos os homens.
Essa palavra, "solidariedade", que, como se fosse má palavra, não é bem vista pelo mundo econômico, precisa ter restaurada a sua bem merecida cidadania social. A solidariedade não é só mais uma atitude, não é uma esmola social, mas um valor social. E nos pede cidadania.
A atual crise não é apenas econômica e financeira. Ela está enraizada em uma crise ética e antropológica. Seguir os ídolos do poder, do lucro, do dinheiro, com prioridade sobre o valor da pessoa humana, tornou-se regra básica de funcionamento e critério decisivo de organização. Foi esquecido, e ainda se esquece, que, acima dos negócios, da lógica e dos parâmetros do mercado, está o ser humano e existe algo que é devido ao homem como homem, em virtude da sua dignidade profunda: oferecer-lhe a possibilidade de viver com dignidade e de participar ativamente do bem comum.
Bento XVI nos lembrou que toda atividade humana, inclusive a econômica, precisamente porque é humana, deve ser estruturada e institucionalizada de forma ética (cf. carta encíclica Caritas in veritate, 36). Nós devemos retornar à centralidade do homem, a uma visão mais ética das atividades e das relações humanas, sem medo de perder alguma coisa.
Queridos amigos, obrigado mais uma vez por este encontro e pelo trabalho que vocês desenvolvem. Asseguro a cada um, à fundação, a todos os seus entes queridos, um lugar na minha oração, e, de coração, os abençoo. Obrigado.
  
"A alegria nos torna livres"
Durante a missa em Santa Marta, papa Francisco lembra que é impossível anunciar o Evangelho se a pessoa está na tristeza ou desanimada
Por Luca Marcolivio
CIDADE DO VATICANO, 31 de Maio de 2013 (Zenit.org) -  A alegria é uma condição necessária para a proclamação do Cristo ressuscitado. Papa Francisco já manifestou este conceito em vários momentos desde o início do seu pontificado, e esta manhã o reiterou durante a homilia na Santa Marta.
O Papa concelebrou com o cardeal Jozef Tomko, o Arcebispo de Faridabad-Delhi, Kuriakose Bharanikulangara, e o Arcebispo de Belo Horizonte, Walmor Oliveira de Azevedo. Alguns funcionários participaram da missa, alguns dos Serviços Financeiros do Vaticano, acompanhados pelo diretor, Sabatino Napolitano, e alguns colaboradores da Guarda Suíça.
Papa Francisco observou como a palavra “alegria” aparece seja na Primeira Leitura de hoje (Sofonias 3, 14-17) que no Evangelho (Lc 1, 39-56): este último em especial mostra o encontro entre Maria e a sua prima Isabel, cujo filho “exulta de alegria” no ventre, ao ouvir as palavras da Mãe de Deus.
No entanto, a alegria não é algo tão óbvio na vida de tantos cristãos. "Não estamos mais acostumados a falar de alegria", e mais, “acredito que muitas vezes gostamos mais da reclamações”, destacou o Papa.
Neste sentido, o Santo Padre citou as palavras de seu predecessor Paulo VI que "dizia que não se pode levar adiante o Evangelho com cristãos tristes, desencorajados, desanimados”.
O autêntico “criador da alegria” é o Espírito Santo que “nos dá a verdadeira liberdade cristã”. Sem alegria, nós cristãos “não podemos nos tornar livres”, pelo contrário “nos tornamos escravos das nossas tristezas”, acrescentou. A tal ponto que muitos cristãos parecem “ir mais a uma procissão fúnebre” do que “louvar a Deus”.
O louvor a Deus, explicou depois o Papa, acontece quando se sai de si mesmo “gratuitamente, como é gratuita a graça que Ele nos dá”. Louvar a Deus, é algo maior do que um simples agradecimento e a eternidade consistirá precisamente no louvar a Ele: “E isso não será chato, será maravilhoso!. A alegria do louvor “nos faz livres”, acrescentou.
Modelo de alegria e de louvor a Deus é a Virgem Maria, que, não à toa, a Igreja chama “causa da nossa alegria”, porque “leva a maior alegria que é Jesus”, lembrou Francisco.
O Santo Padre concluiu sua homilia pedindo para "rezar a Nossa Senhora, para que trazendo Jesus nos dê a graça da alegria, da alegria da alegria”.
(Tradução Thácio Siqueira)


O Senhor sempre nos dá o que pedimos, mas ao modo divino
Homilia do Papa Francisco na casa Santa Marta
BRASíLIA, 29 de Maio de 2013 (Zenit.org) - “O Senhor nos dá a graça, mas ao seu modo divino”, disse o Santo Padre na homilia desta manhã na Casa Santa Marta, na qual estavam presentes funcionários do Governatorado Vaticano.
Lembrando um momento particular da sua vida, o Papa disse que certa vez passava por uma escuridão interior e precisava de uma Graça especial de Deus. Foi pregar exercícios espirituais a umas irmãs e, no último dia, veio uma irmã de 80 anos se confessar, “mas com os olhos claros, luminosos”. Depois da confissão deu-lhe como penitência pedir a Deus a graça que ele estava precisando, porque “se você pedir a Deus, com certeza Ele te dará”, disse à irmã. Ela, depois de um momento de silêncio, falou assim: “Com certeza que Deus te dará a Graça, mas não se engane, te dará essa Graça ao modo divino”.
“Isso me fez tanto bem. Escutar que o Senhor sempre nos dá o que lhe pedimos, mas ao modo divino. E o modo divino é esse até o final. O modo divino envolve a cruz, não por masoquismo: não, não! Por amor. Por amor até o final!”
A liturgia de hoje narra aquela cena de Jesus subindo a Jerusalém com os discípulos e anunciando-lhes a sua paixão, morte e ressurreição. E nesse caminho de fé, os discípulos quiseram ficar na metade do caminho discutindo entre si “como arrumar a Igreja, como arrumar a salvação”. João e Thiago até chegaram a pedir para sentar-se à direita e outro à esquerda, gerando mais discussão sobre quem era mais importante na Igreja. “A tentação dos discípulos – diz o Papa – é a mesma de Jesus no deserto quando o demônio lhe propôs outro caminho”. A tentação de fazer tudo rápido, milagres, até mesmo de ser “um paraquedista sem paraquedas”. É a tentação de Pedro, quando num determinado momento não aceita a paixão de Jesus.
“É a tentação de um cristianismo sem cruz. Um cristianismo à metade do caminho”, que “é a tentação do triunfalismo. Nós queremos o triunfo agora, sem ir à cruz, um triunfo mundano, um triunfo racional”.
“O triunfalismo na Igreja paralisa a Igreja. O triunfalismo nos cristãos paralisa os cristãos. É uma Igreja triunfalista, é uma Igreja à metade do caminho, uma Igreja que é feliz assim, bem organizada – bem organizada! – com todos os escritórios, tudo no lugar, tudo bonito, né? Eficiente. Mas uma Igreja que renega os mártires, porque não sabe que os mártires são necessários para a Igreja pelo caminho de cruz. Uma Igreja que somente pensa nos triunfos, nos sucessos, que não sabe aquela regra de Jesus: a norma do triunfo por meio da derrota, da derrota humana, da derrota da cruz. E essa é uma tentação que todos nós temos”.
Ao término da homilia o Papa fez essa oração:
“Peçamos ao Senhor a graça de não ser uma Igreja à metade do caminho, uma Igreja triunfalista, dos grandes sucessos, mas de ser uma Igreja humilde, que caminha com decisão, como Jesus. Avante, avante, avante. Coração aberto à vontade do Pai, como Jesus. Peçamos essa graça” (trad. Thácio Lincon Soares de Siqueira

 
 
A Igreja é a família na qual se ama e se é amado
Catequese do Papa Francisco durante a Audiência Geral de hoje
CIDADE DO VATICANO, 29 de Maio de 2013 (Zenit.org)
Queridos irmãos e irmãs, bom dia!
Quarta-feira passada destaquei o vínculo profundo entre o Espírito Santo e a Igreja. Hoje eu gostaria de começar algumas catequeses sobre o mistério da Igreja, mistério que todos nós vivemos e do qual fazemos parte. Gostaria de fazer com expressões bem presentes nos textos do Concílio Ecumênico Vaticano II.
Hoje, a primeira: a Igreja como Família de Deus
Nos últimos meses, mais de uma vez eu fiz referência à parábola do filho pródigo, ou melhor, do pai misericordioso (cf. Lc 15, 11-32). O filho mais novo sai da casa de seu pai, desperdiça tudo e decide voltar porque percebe que cometeu um erro, mas já não se considera digno de ser filho e pensa poder ser acolhido como servo. O pai, em vez disso, corre para encontrá-lo, abraça-o, e lhe restitui a dignidade de filho e faz festa. Esta parábola, como outras no Evangelho, mostra bem o desígnio de Deus para a humanidade.
Qual é este projeto de Deus? É fazer de todos nós uma única família de seus filhos, em que cada um o sinta próximo e se sinta amado por Ele, como na parábola evangélica, sinta o calor de ser família de Deus. Neste grande desígnio encontra a sua raíz a Igreja, que não é uma organização fundada por um acordo com algumas pessoas, mas - como nos lembrou várias vezes o Papa Bento XVI - é obra de Deus, nasceu deste plano de amor que se realiza progressivamente na história. A Igreja nasce do desejo de Deus de chamar todos os homens à comunhão com Ele, à sua amizade, e de fato a participar como filhos seus da sua mesma vida divina. A mesma palavra “Igreja”, do grego Ekklesia, significa “convocação”: Deus nos convoca, nos impele a sair do individualismo, da tendência a fechar-se em si mesmos e nos chama a fazer parte da sua família. E essa chamada tem a sua origem na mesma criação. Deus nos criou para que vivamos em uma relação de profunda amizade com Ele, e ainda quando o pecado quebrou esta relação com Ele, com os outros e com a criação, Deus não nos abandonou. Toda a história da salvação é a história de Deus que busca o homem, oferece-lhe o seu amor, acolhe-o. Chamou Abraão para ser pai de uma multidão, escolheu o povo de Israel para estabelecer uma aliança que envolva todas as nações, e enviou, na plenitude dos tempos, o seu Filho para que o seu plano de amor e de salvação se realize numa nova e eterna aliança com toda a humanidade. Quando lemos os Evangelhos, vemos que Jesus reúne em torno dele uma pequena comunidade que acolhe a sua palavra, segue-o, compartilha a sua jornada, se torna a sua família, e com esta comunidade Ele prepara e constrói a sua Igreja.
De onde nasce então a Igreja? Nasce do gesto supremo de amor na Cruz, do lado trespassado de Jesus, do qual jorram sangue e água, símbolo dos Sacramentos da Eucaristia e do Batismo. Na família de Deus, na Igreja, a seiva vital é o amor de Deus que se concretiza no amá-Lo e no amar os outros, todos, sem distinção e medida. A Igreja é a família na qual se ama e se é amado.
Quando se manifesta a Igreja? Comemoramos dois domingos atrás; manifesta-se quando o dom do Espírito Santo enche o coração dos Apóstolos e os empurra a sair e começar o caminho de anunciar o Evangelho, difundir o amor de Deus.
Ainda hoje tem gente que diz: "Cristo sim, Igreja não". Como aqueles que dizem "eu acredito em Deus, mas não nos sacerdotes". Mas é precisamente a Igreja que nos traz Cristo e que nos leva a Deus; a Igreja é a grande família dos filhos de Deus. Claro, tem também elementos humanos; naqueles que a compõem, Pastores e fieis, há falhas, imperfeições, pecados, também o Papa os tem e muitos, mas o bonito é que quando nos damos conta de sermos pecadores, encontramos a misericórdia de Deus, quem sempre perdoa. Não esqueçam: Deus sempre perdoa e nos recebe no seu amor de perdão e de misericórdia. Alguns dizem que o pecado é uma ofensa a Deus, mas também uma oportunidade de humilhação para dar-se conta de que existe algo mais bonito: a misericórdia de Deus. Pensemos nisso.
Perguntemo-nos hoje: o quanto eu amo a Igreja? Rezo por ela? Me sinto parte da família da Igreja? O que eu faço para que seja uma comunidade na qual cada um se sinta acolhido e compreendido, sinta a misericórdia e o amor de Deus que renova a vida? A fé é um dom e um ato que nos afeta pessoalmente, mas Deus nos chama a viver a nossa fé juntos, como família, como Igreja.
Peçamos ao Senhor, de maneira especial neste Ano da Fé, que as nossas comunidades, toda a Igreja, sejam cada vez mais verdadeiras famílias que vivem e transmitem o calor de Deus.

[Tradução do original Italiano por Thácio Siqueira]


Em missa, Papa defende batismo de filhos de mães solteiras

Quando era o arcebispo de Buenos Aires, Francisco incentivava padres e bispos a batizarem as crianças nascidas fora do casamento (fonte: Terra, 28maio2013)

Em missa na Capela da Casa Santa Marta, no Vaticano, o papa Francisco defendeu neste sábado o batismo de filhos de mães solteiras. "Somos muitas vezes controladores da fé, em vez de facilitadores", disse o Papa ao se referir a algum padre que se recusa a batizar uma criança filha de mãe solteira. "Essa mulher teve a coragem de continuar a gravidez. E o que encontra? Uma porta fechada?", questionou ele.
"Isso não é zelo, isso é distância de Deus. Quando fazemos este caminho com esta atitude não estamos ajudando o povo de Deus. Jesus instituiu sete sacramentos e, com este tipo de atitude, estamos criando um oitavo, o sacramento da alfândega pastoral", acrescentou.
Antes de ser Papa, quando era o arcebispo de Buenos Aires, Jorge Bergoglio incentivava padres e bispos a batizarem as crianças nascidas fora do casamento. O Pontífice citou durante a missa outro exemplo: um casal de noivos que queria marcar a data do casamento e foi alertado pelo sacerdote de que precisaria pagar enfeites, cantos. Francisco disse que, no caso, o casal encontrou "as portas da Igreja fechadas quase como sinal de impedimento para a união". Participaram da cerimônia cerca de 70 pessoas de diversas partes da Itália e de outros países.

Comunidade de comunidades: uma nova paróquia
Publicado o documento de estudos número 104 dirigido aos fieis de todo o Brasil
Por Pe. Rafael Fornasier
BRASíLIA, 24 de Maio de 2013 (Zenit.org) - “Com a finalidade de levar a Boa-nova de Jesus a todos os povos, como o exige a nova evangelização, todas as Paróquias e suas pequenas comunidades devem ser células vivas, lugares para promover o encontro pessoal e comunitário com Cristo, para experimentar a riqueza da liturgia, para proporcionar uma formação cristã inicial e permanente e para educar a todos os fiéis na fraternidade e na caridade, especialmente para com os pobres.”[1]
Nesta perspectiva da nova evangelização para a transmissão e a vivência da fé em nossos dias e em nosso país, a 51ª Assembleia da CNBB aprovou o documento de estudos sobre o tema Comunidade de comunidades: uma nova paróquia[2] para que seja um instrumento de trabalho para as nossas Igrejas particulares e suas diversas e variadas comunidades presentes em todo o Brasil. Isso com a finalidade de auxiliar na necessária e urgente reflexão e operacionalização da conversão pastoral de nossas paróquias.
As Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora no Brasil - 2011-2015 (DGAE) propõem à Igreja “evangelizar a partir de Jesus Cristo e na força do Espírito Santo, como Igreja discípula, missionária e profética, alimentada pela Palavra de Deus e pela Eucaristia, à luz da evangélica opção preferencial pelos pobres, para que todos tenham vida (cf. Jo 10, 10), rumo ao Reino definitivo.”[3]
Por isso, o texto presente deste documento busca enraizar, logo de início (I Capítulo), a experiência eclesial, que se concretiza em nossas comunidades, na Palavra de Deus que nos ilumina e nos orienta através das palavras, dos gestos e da vida do próprio Cristo e dos seus discípulos. É a Palavra de Deus que permite a todo cristão ver e julgar a realidade na qual está inserido e a qual é chamado a transformar com um novo ardor missionário através de um agir que contribua para que a paróquia em que vive seja, de fato, presença viva de Jesus Cristo, pela ação do Espírito Santo, em meio às pessoas e às famílias, em meios às casas e às cidades, como aquele que não se cansa de repetir: “Eis que estou convosco todos os dias, até o fim dos tempos” (Mt 28, 20).
No Capítulo II, busca-se compreender que, embora através de distintos modos de concretização da experiência cristã comunitária, a comunidade eclesial, ao longo da história, se consolidou, com maior ou menor êxito em certos períodos, através da escuta e da vivência da Palavra de Deus, transmitida e aprofundada através dos ensinamentos dos discípulos de Jesus. Esta realidade eclesial devia viver da comunhão fraterna e da caridade efetiva entre os membros de uma mesma comunidade ou realidade, sempre abertos a acolher o próximo; da Eucarística, vivida em todas as suas dimensões como fonte e ápice de toda a vida da Igreja; e da vida de perseverante oração. Estes elementos caracterizavam a comunidade paroquial como “Igreja Doméstica” (Domus Ecclesiae), que era chamada a zelar tanto pelo culto quanto pela comunhão, pelo serviço, pelo testemunho e pelo anúncio da Boa-nova. No entanto, fez-se e faz-se necessário hoje propor uma renovação de nossas paróquias segundo o Concílio Vaticano II e as Conferências Latino-Americanos, para que elas possam ser cada vez mais comunidade de comunidades, como afirma o Documento de Aparecida.
Para tanto, o Capítulo III nos apresenta desafios atuais e, por vezes, complexos, que se apresentam à nossas comunidades paróquias e que devem ser enfrentados pelos discípulos-missionários de Cristo neste momento de mudança de época. São desafios que podem também ser considerados oportunidades de transformação no âmbito da vida pessoal e familiar, da comunidade e da sociedade, e que devem provocar urgente conscientização e ação em vista de uma renovada experiência eclesial.
O último capítulo do documento delineia alguns traços fundamentais da identidade da comunidade cristã, apontando as suas bases para a efetiva experiência eclesial, marcada pelo agir de todos os batizados. Neste capítulo se recorda a necessária integração das diversas experiências de comunidade na comunhão paroquial e no compromisso com um planejamento conjunto de ação pastoral, em nível da Igreja particular ou local. Aponta-se ainda para a transformação das estruturas com o objetivo de aproximação e acolhimento mais humanizado das pessoas, membros ou não da comunidade; para a conversão e a articulação de todo o povo de Deus, ministros ordenados e leigos, através da responsabilidade concretamente partilhada; e para a adaptação às novas linguagens que caracterizam sobretudo as gerações mais jovens. Por fim, algumas proposições são avançadas no intuito de suscitar mais reflexão e aprofundamento em vista do exercício de uma caridade continuamente inventiva em nossas comunidades paroquiais.
Ao se concluir com algumas considerações, o presente documento convida a Igreja do Brasil a repensar sua vocação lá onde esta se concretiza no dia a dia das pessoas e comunidades, e propõe, para isso, que as paróquias, as Igrejas particulares e os Regionais da CNBB, assumam-no em suas assembleias ou organizem encontros, para recolherem contribuições na linha da reflexão, da operacionalização, das sugestões e da partilha de experiências quanto ao tema Comunidade de comunidades: uma nova paróquia. Tais contribuições vindas de nossas comunidades serão também importantes para as modificações que se fizerem necessárias ao atual documento, antes de submetê-lo, mais uma vez, à avaliação dos bispos do Brasil, e encaminhá-lo para votação final na 52ª Assembleia da CNBB, em 2014.
*Pe. Rafael Cerqueira Fornasier é sacerdote da Arquidiocese de Niterói, membro da Comunidade Emanuel, mestre em Antropologia Teológica e assessor da Comissão Episcopal Pastoral para Vida e Família da CNBB.
[1] CNBB, A Nova Evangelização para a Transmissão da Fé Cristã. Sínodo dos Bispos. XIII Assembleia Geral Ordinária. Homilias e Pronunciamentos do Papa Bento XVI. Mensagem ao Povo de Deus e Propostas dos Padres Sinodais. Brasília: Edições da CNBB, 2013, p. 75.
[2] Disponível nas Edições da CNBB e livrarias católicas, bem como no site da CNBB para download.
[3] DGAE, Objetivo Geral, p. 9.




Quem faz a harmonia na Igreja é o Espírito Santo
Homilia do Santo Padre Francisco na Solenidade de Pentecostes com os Movimentos Eclesiais
CIDADE DO VATICANO, 19 de Maio de 2013 (Zenit.org) -
SOLENIDADE DE PENTECOSTES
SANTA MISSA COM OS MOVIMENTOS ECLESIAIS
HOMILIA DO SANTO PADRE FRANCISCO
Praça de São Pedro
Domingo, 19 de Maio de 2013
Amados irmãos e irmãs,
Neste dia, contemplamos e revivemos na liturgia a efusão do Espírito Santo realizada por Cristo ressuscitado sobre a sua Igreja; um evento de graça que encheu o Cenáculo de Jerusalém para se estender ao mundo inteiro.
Então que aconteceu naquele dia tão distante de nós e, ao mesmo tempo, tão perto que alcança o íntimo do nosso coração? São Lucas dá-nos a resposta na passagem dos Actos dos Apóstolosque ouvimos (2, 1-11). O evangelista leva-nos a Jerusalém, ao andar superior da casa onde se reuniram os Apóstolos. A primeira coisa que chama a nossa atenção é o rombo improviso que vem do céu, «comparável ao de forte rajada de vento», e enche a casa; depois, as «línguas à maneira de fogo» que se iam dividindo e pousavam sobre cada um dos Apóstolos. Rombo e línguas de fogo são sinais claros e concretos, que tocam os Apóstolos não só externamente mas também no seu íntimo: na mente e no coração. Em consequência, «todos ficaram cheios do Espírito Santo», que esparge seu dinamismo irresistível com efeitos surpreendentes: «começaram a falar outras línguas, conforme o Espírito lhes inspirava que se exprimissem». Abre-se então diante de nós um cenário totalmente inesperado: acorre uma grande multidão e fica muito admirada, porque cada qual ouve os Apóstolos a falarem na própria língua. É uma coisa nova, experimentada por todos e que nunca tinha sucedido antes: «Ouvimo-los falar nas nossas línguas». E de que falam? «Das grandes obras de Deus».
À luz deste texto dos Actos, quereria reflectir sobre três palavras relacionadas com a acção do Espírito: novidade, harmonia e missão.
1. A novidade causa sempre um pouco de medo, porque nos sentimos mais seguros se temos tudo sob controle, se somos nós a construir, programar, projectar a nossa vida de acordo com os nossos esquemas, as nossas seguranças, os nossos gostos. E isto verifica-se também quando se trata de Deus. Muitas vezes seguimo-Lo e acolhemo-Lo, mas até um certo ponto; sentimos dificuldade em abandonar-nos a Ele com plena confiança, deixando que o Espírito Santo seja a alma, o guia da nossa vida, em todas as decisões; temos medo que Deus nos faça seguir novas estradas, faça sair do nosso horizonte frequentemente limitado, fechado, egoísta, para nos abrir aos seus horizontes. Mas, em toda a história da salvação, quando Deus Se revela traz novidade– Deus traz sempre novidade - , transforma e pede para confiar totalmente n’Ele: Noé construiu uma arca, no meio da zombaria dos demais, e salva-se; Abraão deixa a sua terra, tendo na mão apenas uma promessa; Moisés enfrenta o poder do Faraó e guia o povo para a liberdade; os Apóstolos, antes temerosos e trancados no Cenáculo, saem corajosamente para anunciar o Evangelho. Não se trata de seguir a novidade pela novidade, a busca de coisas novas para se vencer o tédio, como sucede muitas vezes no nosso tempo. A novidade que Deus traz à nossa vida é verdadeiramente o que nos realiza, o que nos dá a verdadeira alegria, a verdadeira serenidade, porque Deus nos ama e quer apenas o nosso bem. Perguntemo-nos hoje a nós mesmos: Permanecemos abertos às «surpresas de Deus»? Ou fechamo-nos, com medo, à novidade do Espírito Santo? Mostramo-nos corajosos para seguir as novas estradas que a novidade de Deus nos oferece, ou pomo-nos à defesa fechando-nos em estruturas caducas que perderam a capacidade de acolhimento? Far-nos-á bem pormo-nos estas perguntas durante todo o dia.
2. Segundo pensamento: à primeira vista o Espírito Santo parece criar desordem na Igreja, porque traz a diversidade dos carismas, dos dons. Mas não; sob a sua acção, tudo isso é uma grande riqueza, porque o Espírito Santo é o Espírito de unidade, que não significa uniformidade, mas a recondução do todo à harmonia. Quem faz a harmonia na Igreja é o Espírito Santo. Um dos Padres da Igreja usa uma expressão de que gosto muito: o Espírito Santo «ipse harmonia est – Ele próprio é a harmonia». Só Ele pode suscitar a diversidade, a pluralidade, a multiplicidade e, ao mesmo tempo, realizar a unidade. Também aqui, quando somos nós a querer fazer a diversidade fechando-nos nos nossos particularismos, nos nossos exclusivismos, trazemos a divisão; e quando somos nós a querer fazer a unidade segundo os nossos desígnios humanos, acabamos por trazer a uniformidade, a homogeneização. Se, pelo contrário, nos deixamos guiar pelo Espírito, a riqueza, a variedade, a diversidade nunca dão origem ao conflito, porque Ele nos impele a viver a variedade na comunhão da Igreja. O caminhar juntos na Igreja, guiados pelos Pastores – que para isso têm um carisma e ministério especial – é sinal da acção do Espírito Santo; uma característica fundamental para cada cristão, cada comunidade, cada movimento é a eclesialidade. É a Igreja que me traz Cristo e me leva a Cristo; os caminhos paralelos são muito perigosos! Quando alguém se aventura ultrapassando (proagon) a doutrina e a Comunidade eclesial – diz o apóstolo João na sua Segunda Carta - e deixa de permanecer nelas, não está unido ao Deus de Jesus Cristo (cf. 2 Jo 1, 9). Por isso perguntemo-nos: Estou aberto à harmonia do Espírito Santo, superando todo o exclusivismo? Deixo-me guiar por Ele, vivendo na Igreja e com a Igreja?
3. O último ponto. Diziam os teólogos antigos: a alma é uma espécie de barca à vela; o Espírito Santo é o vento que sopra na vela, impelindo-a para a frente; os impulsos e incentivos do vento são os dons do Espírito. Sem o seu incentivo, sem a sua graça, não vamos para a frente. O Espírito Santo faz-nos entrar no mistério do Deus vivo e salva-nos do perigo de uma Igreja gnóstica e de uma Igreja narcisista, fechada no seu recinto; impele-nos a abrir as portas e sair para anunciar e testemunhar a vida boa do Evangelho, para comunicar a alegria da fé, do encontro com Cristo. O Espírito Santo é a alma da missão. O sucedido em Jerusalém, há quase dois mil anos, não é um facto distante de nós, mas um facto que nos alcança e se torna experiência viva em cada um de nós. O Pentecostes do Cenáculo de Jerusalém é o início, um início que se prolonga. O Espírito Santo é o dom por excelência de Cristo ressuscitado aos seus Apóstolos, mas Ele quer que chegue a todos. Como ouvimos no Evangelho, Jesus diz: «Eu apelarei ao Pai e Ele vos dará outro Paráclito para que esteja sempre convosco» (Jo 14, 16). É o Espírito Paráclito, o «Consolador», que dá a coragem de levar o Evangelho pelas estradas do mundo! O Espírito Santo ergue o nosso olhar para o horizonte e impele-nos para as periferias da existência a fim de anunciar a vida de Jesus Cristo. Perguntemo-nos, se tendemos a fechar-nos em nós mesmos, no nosso grupo, ou se deixamos que o Espírito Santo nos abra à missão. Recordemos hoje estas três palavras: novidade, harmonia, missão.
A liturgia de hoje é uma grande súplica, que a Igreja com Jesus eleva ao Pai, para que renove a efusão do Espírito Santo. Cada um de nós, cada grupo, cada movimento, na harmonia da Igreja, se dirija ao Pai pedindo este dom. Também hoje, como no dia do seu nascimento, a Igreja invoca juntamente com Maria: «Veni Sancte Spiritus… – Vinde, Espírito Santo, enchei os corações dos vossos fiéis e acendei neles o fogo do vosso amor»! Amen.


O Espírito Santo é quem nos faz fugir da vaidade de achar-nos o prêmio Nobel da Santidade
Homilia do Papa Francisco na Casa Santa Marta
Por Redacao
CIDADE DO VATICANO, 13 de Maio de 2013 (Zenit.org) - Na primeira leitura da liturgia de hoje São Paulo se surpreendeu ao encontrar alguns discípulos que lhe disseram “Nem sequer ouvimos dizer que existe o Espírito Santo!”. Assim como no passado, ainda hoje “O Espírito Santo é um pouco o desconhecido da nossa fé”, disse o Papa Francisco na homilia dessa manhã na Casa Santa Marta.
“Hoje, muitos cristãos não sabem quem seja o Espírito Santo, como seja o Espírito Santo. E algumas vezes se escuta: ‘Mas, eu me viro bem com o Pai e com o Filho, porque rezo o Pai Nosso ao Pai, comungo com o Filho, mas com o Espírito Santo não sei o que fazer...’ Ou te dizem: ‘O Espírito Santo é a pomba, que nos dá sete presentes’. Mas assim o Espírito Santo está sempre no final e não encontra um bom lugar na nossa vida”.
Porém, o Espírito Santo é um “Deus ativo em nós” que “acorda a nossa memória”. O mesmo Jesus nos disse que o Espírito que o Pai enviará em seu nome “vos lembrará tudo o que vos disse”. Para um cristão, ficar sem memória é algo perigoso:
“Um cristão sem memória não é um verdadeiro cristão: é um homem ou uma mulher que, prisioneiros da conjuntura, do momento; não tem história. Tem, mas não sabe como interpretar a história. E é justo o Espírito que lhe ensina como ter a história. A memória da história ... quando na Carta aos Hebreus o autor diz: ‘Lembrai-vos dos vossos Pais na Fé’ – memória; ‘lembrai-vos dos primeiros dias da vossa fé, como fostes corajosos’ – memória. Memória da nossa vida, da nossa história, memória do momento que tivemos a graça de encontrar-nos com Jesus; memória de tudo o que Jesus nos disse”.
“Aquela memória que vem do coração, aquela é uma graça do Espírito”,  também a memória das misérias da própria vida:
“E quando vem um pouco a vaidade e a Pessoa se acha o prêmio Nobel da Santidade, também a memória nos faz bem: ‘Mas... lembre-se de onde te tirei: do final do rebanho. Estavas detrás, no rebanho’. A memória é uma graça grande, e quando um cristão não tem memória – é duro isso, mas é a verdade – não é cristão: é idólatra. Porque está na frente de um Deus que não tem caminho, não sabe fazer caminhos, e o nosso Deus nos acompanha, se mistura conosco, caminha conosco, nos salva, faz história conosco. Memória de tudo isso, e a vida se torna mais frutuosa, com esta graça da memória”.
O Papa Francisco nos convida então a pedir a graça da memória para não esquecermos do caminho já percorrido, para sermos cristãos que “não esquecem as graças da sua vida, não esquecem o perdão dos pecados, não esquecem que foram escravos e que o Senhor lhes salvou”.
Participaram da celebração nessa manhã, funcionários da Direção técnica, administrativa e geral da Rádio Vaticano e do Pontifício Conselho para a Pastoral dos Migrantes, com os dirigentes do Departamento, o presidente, Cardeal Antonio Maria Veglió, o secretário mons. Joseph Kalathiparambil e o sub-secretário padre Gabriele Bentoglio. Ao final o Santo Padre parabenizou mons. Peter Brian Wells, assessor dos Trabalho gerais da Secretaria de estado, pelo seu aniversário.



A felicidade é uma "virtude peregrina" que caminha com Jesus
Papa Francisco: a felicidade é uma graça para pedir a Deus, maior e mais profunda do que a simples alegria
Por Luca Marcolivio
CIDADE DO VATICANO, 10 de Maio de 2013 (Zenit.org) - A felicidade cristã, já presente em vários discursos dos dois primeiros meses do pontificado do papa Francisco, foi o foco da homilia do Santo Padre nesta manhã.
A costumeira missa na Casa Santa Marta foi concelebrada com o arcebispo de Mérida, Baltazar Enrique Cardozo, e com o abade primaz dos beneditinos, Notker Wolf. Também participaram da missa alguns funcionários da Rádio Vaticano, acompanhados pelo diretor, pe. Federico Lombardi.
"O cristão é um homem feliz, é uma mulher feliz", disse Francisco na homilia. A felicidade é diferente e maior que a alegria: "Alegrar-nos é bom", observou o papa, mas a felicidade é "algo mais profundo", que "não vem de razões conjunturais" nem "do momento" .
A alegria, quando se torna um estereótipo que queremos viver o tempo todo, "se transforma em superficialidade" ou até em “leviandade”, eliminando a "sabedoria cristã" e nos tornando um pouco "bobos" e "ingênuos" .
Já a felicidade é um "dom de Deus" que "nos enche por dentro". É uma "unção do Espírito" e reside na "certeza de que Jesus está conosco e com o Pai".
Mas como manter sempre essa felicidade, como “armazená-la”? Esta questão já nasce falha, argumentou o papa, porque “se quisermos manter a felicidade só para nós, ela vai acabar adoecendo e o nosso coração ficará murcho”. Não transmitiremos mais a felicidade, mas apenas uma "melancolia que não é saudável".
Existem, disse o papa com humor, muitos cristãos que têm uma "cara de pimenta no vinagre" que não condiz com quem vive uma "bela vida".
A felicidade, para ser tal, deve ser mantida em movimento: ela é uma "virtude peregrina", um presente que "caminha pela estrada da vida" juntamente com Jesus.
A felicidade, prosseguiu Francisco, é uma "virtude dos grandes", que são superiores às "pequenezas humanas", que não se envolvem nas "coisinhas da comunidade", mas que "olham sempre para o horizonte". O dom da felicidade leva à "virtude da magnanimidade", que nos impulsiona a "seguir sempre em frente", cheios do Espírito Santo.
Nos dias de hoje, de maneira especial, "a Igreja nos convida a pedir a graça da felicidade e da aspiração", que empurra a vida de cada cristão para frente: quanto maior é a aspiração, maior a felicidade.
A felicidade, reiterou o Santo Padre, está longe tanto da "tristeza" quanto do "mero contentamento": a alegria verdadeira e profunda é uma "graça a ser pedida".
Um motivo de felicidade para o dia de hoje, disse o papa na conclusão, foi a visita ao Vaticano de Tawadros II, patriarca de Alexandria, recebido em audiência pelo papa: "um irmão que vem visitar a Igreja de Roma", para trilhar conosco "um pedaço da estrada".




O verdadeiro cristão não faz proselitismo, mas dialoga com todos sem exclusões
Na missa em Santa Marta, Papa Francisco convida a seguir o modelo corajoso de São Paulo que foi construtor de pontes, e não de muros, para anunciar o Evangelho
CIDADE DO VATICANO, 08 de Maio de 2013 (Zenit.org) - A Igreja não cresce pelo proselitismo, mas pela pregação e testemunho. O cristão não levanta muros, mas constrói pontes. O anúncio do Evangelho é um diálogo, não uma condenação. São conceitos claros que o Papa Francisco expôs na reflexão da Missa de hoje na Casa Santa Marta, concelebrada com o card. Francisco Coccoplamerio e mons. Oscar Rizzato, na presença dos funcionários dos Serviços gerais do Governatorato, da Chancelaria do Tribunal vaticano e da Floreria.
Conceitos que lembram o verdadeiro significado de muitas palavras que nós, cristãos, muitas vezes damos por descontado. A partir do sentido da evangelização que – explicou o Papa – é um “anúncio”, não um modo para atrair grandes números para a Igreja. E implica um “falar com todos”, para proclamar aquela verdade que não se estuda “numa enciclopédia”, mas se recebe no encontro com Cristo.
Com este espírito, o apóstolo Paulo, falando aos gregos no Areópago – lembrou o Santo Padre – procurou “aproximar-se mais do coração” de quem o escutava: para procurar “o diálogo”, não para impor ideias. Por isso a história lembra-se dele como o Apóstolo dos gentios, e por isso – acrescentou o Papa – Paulo foi um verdadeiro “pontífice”, um “construtor de pontes” e não de “muros”.
A atitude “corajosa” do apóstolo é portanto um alerta para a atitude de cada crisão hoje. Afirmou Francisco: “Um cristão deve anunciar Jesus Cristo de tal modo que Jesus Cristo seja aceito, recebido, não rejeitado. E Paulo sabe que ele deve semear esta mensagem evangélica”. Ele é consciente de “que o anúncio de Jesus Cristo não é fácil”, mas ao mesmo tempo “sabe que não depende dele”, que “ele deve fazer todo o possível”, mas que “o anúncio de Jesus Cristo, o anúncio da verdade, depende do Espírito Santo”.
Explica-o bem o Evangelho da Liturgia de hoje, no qual Jesus diz: “Quando Ele vier, o Espírito da verdade, vos guiará a toda a verdade”. “Paulo – observou o Santo Padre – não fala aos atenienses: ‘Esta é a enciclopédia da verdade. Estudem isso e terão toda a verdade, a verdade!. Nâo! A verdade não entre numa enciclopédia. A verdade é um encontro; é um encontro com a Verdade Suma: Jesus, a grande verdade. Ninguém é dono da verdade. A verdade se recebe no encontro”.
Mas Paulo não inventa nada de novo, simplesmente "segue a atitude de Jesus." O apóstolo atuou dessa forma “porque é o modo” que Jesus agiu, que “falou com todos”: dos santos aos pecadores, dos humildes aos publicanos, dos que lhe seguiam aos que o repudiavam. “O cristão que quer levar o Evangelho deve ir por esta estrada: escutar a todos!” insistiu o Papa; especialmente agora que “é um bom tempo na vida da Igreja”.
Os tempos mudaram, de acordo com Bergoglio, e com ele também a sociedade e algumas visões da Igreja, a qual, tendo que encarar uma forte secularização e uma humanidade totalmente distante de Deus, não pode e não quer excluir a ninguém.
“Estes últimos 50 anos, 60 anos – afirmou o Papa – são momentos muito bons porque me lembro que, quando criança, escutava-se nas famílias católicas, na minha: ‘Não, não podemos ir na casa deles porque não estão casados na Igreja, hein!’. Era como uma exclusão. Não, não podia ir! Ou porque são socialistas ou ateus, não podemos ir”. “Havia uma espécie de defesa da fé, mas com os muros” continuou; agora “graças a Deus”, “não se fala mais aquilo, né? Não se fala! ", Porque “o Senhor fez pontes".
A Igreja – continuou o Pontífice, lembrando as palavras de Bento XVI – “não cresce no proselitismo”, mas “cresce por atração, pelo testemunho, pela pregação”. E Paulo “tinha justamente essa atitude: anuncia e não faz proselitismo”, em virtude do fato de que “não duvidava do seu Senhor”.
A conclusão do papa é portanto incisiva: "Os cristãos que têm medo de fazer pontes e preferem construir muros, são cristãos não seguros da própria fé, não seguros de Jesus Cristo”. A exortação é portanto que cada cristão siga o exemplo de Paulo e comece “a construir pontes e seguir em frente”.
"Quando a Igreja perde essa coragem apostólica - concluiu o Santo Padre – se torna uma Igreja firme, uma Igreja ordenada, bela, tudo bonito, mas sem fecundidade, porque perdeu a coragem de ir às periferias, aqui onde há tantas pessoas vítimas da idolatria, da mundanidade, do pensamento débil...”
Há portanto uma oração bem específica que deve ser dirigida hoje a São Paulo: que “nos dê esta coragem apostólica, este fervor espiritual, de estar seguros”. Pode nascer a dúvida, o medo: “Mas, Padre, nós podemos equivocar-nos”; Papa Francisco, no entanto, incentiva, "Vamos lá, se você estiver errado, levante-se e siga em frente: aquele é o caminho. Aqueles que não caminham por medo de errar, caem num erro maior”.




REVOLUÇÃO FRANCISCO: A FÉ ESTÁ DE NOVO NA MODA

IHU – Notícias – Terça, 07 de maio de 2013
A dois meses da eleição, o Papa Bergoglio ainda vive em um hotel. Porque a residência Santa Marta, no Vaticano, nada mais é do que isso. Um bom hotel de três estrelas, com o seu saguão de mármore, o balcão da recepção, algumas salas para reuniões e apartamentos de dois cômodos para prelados de passagem. Agora eles colocaram dois policiais diante do portão e dois guardas suíços, e tudo termina por aí.
A reportagem é de Marco Politi, publicada no jornal Il Fatto Quotidiano, 05-05-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
A recusa da pompa imperial fascina os fiéis, e o discurso direto do papa argentino está funcionando como um ímã. Na quarta-feira, 17 de abril, em Roma, verificou-se um engarrafamento gigante ao redor do Vaticano. Cerca de 760 ônibus dirigidos à audiência geral, descarregando dezenas de milhares de peregrinos. Nada menos do que 200 a mais em comparação à quarta-feira anterior. E quanto mais a estação traz o sol, mais as multidões se reúnem aos domingos e às quartas-feiras para assistir ao ‘Angelus e à Audiência Geral’.
O ímã Bergoglio também funciona no plano espiritual. Massimo Introvigne, presidente do centro de pesquisa Cesnur, defende que, nas paróquias, está se verificando um crescimento de fiéis que vão à missa e voltam ao confessionário. “Divulgamos um questionário através da técnica conhecida como cascata, que utiliza as redes sociais Facebook e Twitter,a partir de grupos particularmente frequentados por católicos”, explicou recentemente. E, “em uma amostra de 200 sacerdotes e religiosos – acrescenta –, 53% afirmaram ter verificado na própria comunidade um aumento de pessoas que se reaproximaram da Igreja ou que se confessam”.
Introvigne admite que o método ainda é “preliminar”, portanto imperfeito, mas o fato indiscutível é que esses fiéis declaram explicitamente que retomaram a prática religiosa após a eleição de Francisco e ouvindo a sua palavra.
Quase metade dos sacerdotes e religiosos interrogados declaram um aumento de frequência superior a 25% em comparação com antes. Particularmente, é definido como significativo o retorno à confissão. O próprio Introvigne admite que os resultados devem ser verificados com o passar do tempo e que as primeiras semanas são poucas para um julgamento conclusivo.
Em todo caso, a mudança de clima com relação ao papado é palpável. Nos últimos anos, o consenso por Ratzinger, até mesmo na Itália, tinha caído para menos de 50%. A imagem, a abordagem, a temperatura humana de Francisco causaram uma ótima impressão nas pessoas. Fiéis antigos se dizem ‘consolados’ desde a sua chegada, fiéis menos assíduos declaram-se ‘atraídos’ por ele, agnósticos e não crentes admitem que ‘esse papa me agrada, me interessa’.
Chama a atenção a sua mistura de simplicidade e autenticidade, que é acompanhada, porém, de uma capacidade de raciocinar e refletir colocando-se em sintonia com o público. As massas percebem isso.
Recentemente em São Pedro, uma católica da periferia de Roma, depois das primeiras aparições de Francisco, disse: “Com o seu ‘bom dia’, ele logo se coloca no nosso nível, o seu abraço aos paralíticos sem nenhuma hesitação e afetação expressa uma solidariedade imediata, o seu ‘bom almoço’ revela que se dá conta perfeitamente das necessidades cotidianas e do que representa para todos o alimento e o esforço para ganhá-lo”.
Há rumores de que Ratzinger se maravilhou junto a um círculo restrito sobre o porquê chama tanto a atenção a simplicidade de Francisco: “Eu também não fui sempre simples?”, teria dito. É verdade, Bento XVI foi e é de uma simplicidade ascética. Mas ele se esforçava para instaurar um contato espontâneo com a multidão e sempre pareceu cerebral – embora muitas vezes soubesse expressar verdades de fé de maneira cristalina. Ratzinger nunca teve aquele “cheiro de ovelhas” que Francisco considera essencial para um pastor. Por outro lado, ele também nunca teve uma verdadeira experiência pastoral de base. Sempre foi um quadro diretivo. Ele nunca se misturou realmente com a vida diocesana.
Por outro lado, se Wojtyla representava midiaticamente o papel do papa-imperador humano, Bergoglio é (e quer ser) algo diferente. O padre-bispo, que não está no trono, mas em meio à Igreja e aos fiéis. E assim, falando acima de tudo de misericórdia na relação com Deus, neste momento histórico particular, ele vai ao encontro de uma grande sede de proteção, de salvação, de ‘sentir-se compreendido’, de paternidade, que corresponde a uma necessidade generalizada em uma cristandade desorientada pela crise social, pelo terremoto econômico, pela desintegração das relações familiares e pela falta de sólidos pontos de referência ideais.
A revista Oggi relata que, em Nápoles, houve um aumento de 15-20% de presença nas missas dominicais. Principalmente entre os jovens entre os 20 e os 30 anos. É esse – das gerações mais jovens – o desafio que Bergoglio deverá enfrentar em seguida. Assim como até o fim do ano espera-se que ele enfrente os problemas da Cúria e do IOR.
Certamente, com o seu movimento calmo, ele está mostrando que também sabe resolver problemas totalmente novos. Francisco enfrentou a convivência com o pontífice emérito Bento XVI – iniciada há poucos dias – com um espírito familiar, acolhendo-o no Vaticano com afabilidade e sobriedade religiosa, quase como se fosse um parente que, de forma totalmente normal, deverá viver sob o seu teto.
Assim ele está desarmando qualquer contraposição de magistério. Pondo-se como irmão mais velho, a quem cabe a tarefa de orientar a casa, Francisco se faz protetor de Bento XVI e acaba, na origem, com qualquer polarização
 
 
 
Um bom cristão não se lamenta
Homilia do Papa Francisco na missa desta manhã na capela da Casa Santa Marta
Por Redacao
CIDADE DO VATICANO, 07 de Maio de 2013 (Zenit.org) - "Um bom cristão não se lamenta, mas enfrenta a dor com alegria em Cristo, mesmo no meio de tribulações". Este foi o tema principal da homilia do Papa Francisco na missa celebrada nesta manhã na capela da Casa Santa Marta, conforme divulgado pela Rádio Vaticana.
A missa foi concelebrada com os cardeais Ângelo Commastri e Jorge Mejía, na presença de outro grupo de trabalhadores da Fabrica de São Pedro.
O Papa Francisco refletindo a primeira leitura de hoje (At16,22-34) destacou a alegria de Paulo e Sila, chamados a enfrentar a prisão e persecuções para transmitir o Evangelho. Estavam alegres – disse – porque seguiam Cristo no caminho da sua Paixão.
A via da paciência “é o caminho que Jesus ensina aos cristãos”. Espírito de paciência “não quer dizer tristeza, não!” - afirmou o Papa - “quer dizer suportar sobre os ombros o peso das dificuldades, o peso das contradições, das tribulações”.
A palavra Hypomoné, explicou Francisco, exprime o conceito de “suportar a vida de todos os dias: as contradições, tribulações”, como “Jesus suportou-as com paciência”. Isto é “um processo de maturidade cristã, através do caminho da paciência”, que não se faz “de uma dia para outro, mas durante toda a vida”.
Muitos mártires sentiam-se felizes, como por exemplo os mártires de Nagazaki que se ajudavam mutuamente, “esperando o momento da morte”. Esta atitude do suportar – acrescentou – é a atitude normal do cristão, mas não é uma atitude masoquista. Antes pelo contrário, é uma atitude que os põe “no caminho de Jesus”.
As dificuldades são, muitas vezes, fonte de tentações. Por exemplo, a lamentação: “um cristão que se lamenta em continuação deixa de ser um bom cristão: é o senhor ou a senhora das lamentações, não é?”, prosseguiu Francisco.
A reação oposta: “o silêncio da suportação” é virtuosa. “Não é um silêncio triste, por vezes muito doloroso, mas não é triste” (...) “Este caminho da suportação permite-nos aprofundar a paz cristã, torna-nos fortes em Jesus” - explicou papa Francisco.
O Papa concluiu recordando que o Senhor nos convida a uma “renovada juventude pascal no caminho do amor, da paciência, do suportar as tribulações e de nos suportar uns aos outros. E devemos fazê-lo com caridade e amor, com a renovada juventude pascal do espírito”.


Não se pode entender a vida cristã sem o Espírito Santo
Palavras do Papa Francisco na homilia da missa diária celebrada na capela da Casa Santa Marta
Por Redacao
CIDADE DO VATICANO, 06 de Maio de 2013 (Zenit.org) - “O Espírito Santo é nosso amigo e companheiro de caminho e nos indica onde está Jesus”. Assim o papa Francisco iniciou a homilia desta manhã na capela da Casa Santa Marta. Segundo afirma a Radio Vaticana a homilia foi centrada no Espírito Santo, que “em Deus, na pessoa de Deus, dá testemunho de Jesus Cristo em nós”.
Participaram da missa presidida pelo Papa nesta segunda-feira, 06,alguns funcionários do Vaticano acompanhados pelo cardeal Angelo Comastri e pelo monsenhor Pablo Colino, prefeito da Capela Musical, que também concelebraram.
“Não se pode entender a vida cristã sem o Espírito Santo: não seria cristã. Seria uma vida religiosa, pagã, piedosa, que crê em Deus, mas sem a vitalidade que Jesus quer para seus discípulos. E o que dá a vitalidade é a presença do Espírito Santo em nós”-afirmou.
Sobre a primeira leitura o Papa comentou um belo episódio: o de Lídia, a mulher que ouvia Paulo e a quem o Senhor abriu o coração para que escutasse as palavras do Apóstolo.
“É isto que o Espírito Santo faz: abre nosso coração para conhecermos Jesus, nos prepara ao encontro, nos faz caminhar em seu caminho”-prosseguiu.
Francisco falou também da oração como “via para obtermos, em todos os momentos, a graça da fecundidade da Páscoa”: uma riqueza possível graças ao Espírito Santo.
O Papa Francisco destacou a importância do exame de consciência na vida de todo cristão como um “exercício que faz bem, pois tomamos consciência exatamente daquilo que o Senhor faz em nosso coração”.E questionou:“Temos o costume de nos perguntarmos, no final do dia: ‘O que fez hoje o Espírito Santo em mim? Que testemunho me deu? Como me falou? O que me sugeriu?”.
Ao final o Papa pediu “a graça de nos acostumarmos, de termos familiaridade com o Espírito Santo… è um amigo. È uma presença divina que nos ajuda a seguir avante em nossa vida de cristãos”- e concluiu -“Peçamos esta graça, hoje, para que tenhamos presente, em todo momento, a fecundidade da Páscoa”.


A Igreja do sim, a Igreja do não, e a harmonia do Espirito Santo
Na homilia de hoje, Papa Francisco destaca que quando nós não deixamos o Espirito Santo trabalhar, começam as divisões na Igreja
Por Salvatore Cernuzio

ROMA, 02 de Maio de 2013 (Zenit.org) - Houve num determinado período uma "Igreja do não" que discutia com a "Igreja do sim". Interveio então o Espírito Santo e trouxe harmonia entre as duas posições ... Papa Francisco é eficaz e original ao narrar, com seu estilo catequético, a disputa no interior da antiga igreja de Jerusalém ao anunciar o evangelho entre os pagãos.

Mais uma vez, o Santo Padre celebrou a santa missa para os funcionários do Vaticano, hoje, um grupo de funcionários dos museus, na Capela de Santa Marta. Na homilia da missa, concelebrada pelo Cardeal Albert Malcolm Ranjith Patabendige, o Papa centrou-se na ação da terceira pessoa da Trindade, o Espírito Santo, que, "por trás das cenas", faz o trabalho "pesado".

O Papa, para explicá-lo, voltou no tempo, para a Igreja que depois de Pentecostes deu seus primeiros passos para fora, para as "periferias da fé", para anunciar o Evangelho. Os discípulos de Jerusalém não tinham todos os objetivos claros, sobretudo, no que diz respeito ao acolhimento dos pagãos na Igreja.

Começaram a surgir, então, "muitas opiniões". O Papa explicou: diante de «uma Igreja do “Não, não se pode; não, não, deve-se, deve-se, deve-se”», contraposta à «Igreja do “Sim: mas... pensemos nisto, abramo-nos, há o Espírito que nos abre a porta”».

Portanto, «o Espírito Santo devia desempenhar a sua segunda função: realizar a harmonia destas posições, a harmonia da Igreja, entre eles em Jerusalém e entre eles e os pagãos.

“É um grande trabalho, que o Espírito Santo realiza desde sempre na história –comentou o Santo Padre -e quando não o deixamos trabalhar, começam as divisões na Igreja, as seitas, todas estas coisas, porque nos fechamos à verdade do Espírito».

Recordando as palavras de Tiago, o Justo, primeiro bispo de Jerusalém, Papa Francisco, em seguida, apontou a base da polêmica da Igreja primitiva. “Quando o serviço ao Senhor se torna um jugo muito pesado, as portas das comunidades cristãs fecham-se: ninguém quer vir ter com o Senhor”.

"Nós, no entanto, - continuou Francisco - acreditamos que através da graça do Senhor Jesus somos salvos. Primeiro, a alegria do carisma de proclamar a graça, depois, vemos o que fazer. Esta palavra, jugo, entra no meu coração, na minha mente ".

Levar hoje o jugo – destacou – significa permanecer no amor de Cristo, como Ele nos pede. Amor que " nos leva a ser fiéis ao Senhor" e a observar seus mandamentos: "porque eu amo o Senhor, não faço isso", disse o Papa.

Surge, portanto, uma "comunidade do sim," comunidade "de portas abertas", de amor. E “quando uma comunidade cristã vive no amor, confessa os seus pecados, adora o Senhor, perdoa as ofensas, pratica a caridade com os outros e é manifestação do amor, depois sente a obrigação da fidelidade ao Senhor de seguir os mandamentos. É uma comunidade do “sim” e os “nãos” são consequência deste “sim””.

Portanto - concluiu o Papa - precisamos pedir a Deus que “o Espírito Santo nos assista sempre para que nos tornemos uma comunidade do amor. Do amor a Jesus que nos amou muito”. Comunidade “do “sim” que leva a cumprir os mandamentos (…) E que nos livre da tentação de nos tornarmos talvez puritanos, no sentido etimológico do termo, de procurar uma pureza para-evangélica, uma comunidade do “não”.

Abril 2013
 
A Reforma Protestante: uma revolução dos leigos
O papel do leigo de animar e aperfeiçoar a ordem das realidades temporais com o espírito do evangelho
Por Edson Sampel
SãO PAULO, 18 de Abril de 2013 (Zenit.org) - Imagine como seria a cristandade atual se não houvesse ocorrido a assim chamada Reforma... Difícil de figurar tal hipótese, não é? Principalmente em tempos neoliberais, em que a religião é muita vez encarada como um capital simbólico ou um artigo de consumo. Impossível acreditar que o cristianismo ainda estivesse circunscrito à Igreja católica.
Vamos tentar pôr os pingos nos is. O termo “reforma” é completamente inadequado, pois, no século XVI, frei Lutero desencadeou uma autêntica “revolução” no cristianismo. Não entraremos no mérito das teses luteranas. Entretanto, percebe-se claramente a inidoneidade histórico-gramatical do vocábulo “reforma” para designar as mudanças estruturais propostas por frei Lutero e seus sequazes. O que é uma “reforma”? Ora, quando dizemos que faremos uma “reforma” na nossa casa, qualquer interlocutor compreenderá que não haverá transformações radicais no imóvel; dar-se-á uma demão de tinta nas paredes, trocar-se-ão os azulejos etc. Ora, a “Reforma” protestante implicou  uma “transformação radical” do cristianismo, o que caracteriza uma “revolução”. Um único exemplo é suficiente para demonstrar o caráter revolucionário do protestantismo:  dos sete sacramentos, a Reforma só admitiu um, o batismo.
Deflagrou a Reforma (revolução) um presbítero (padre): frei Martinho Lutero. Tudo começou com a afixação das famosas 95 teses na porta da Catedral de Witembergo, na Alemanha, no dia 31 de outubro de 1517. Nada obstante, os príncipes tedescos, leigos, assumiram imediatamente a indigitada revolução religiosa. Os motivos pelos quais assim procederam, se para confiscar as terras e bens da Igreja, não nos interessam neste momento. Importa constatar que a Reforma ou revolução só prosperou, porque os leigos, mormente os governantes, compraram a ideia de frei Lutero. Processo parecido se deu nos outros países onde a Reforma vingou; os leigos se tornaram pastores e, destarte, passaram a pregar o “cristianismo reformado”. Este fenômeno se estendeu até o presente. As denominações evangélicas hodiernas não dispõem propriamente de uma hierarquia eclesiástica, até porque a Reforma extinguiu o sacramento da ordem. Desta feita, não há diferença ontológica (sacramental) entre o evangélico simples fiel e o evangélico pastor.  Todo são tecnicamente leigos.
Nos nossos dias, a Igreja católica aguarda outra revolução por parte dos leigos! Espera que eles cumpram seu papel de animar e aperfeiçoar a ordem das realidades temporais com o espírito do evangelho, consoante reza o cânon 225, § 2. Esta é a missão batismal cometida aos leigos católicos. Os misteres intraeclesiais, como catequese e ministérios extraordinários, são deveras relevantes. Todavia, o que define a atuação eclesial do leigo é o estar no mundo, ou seja, a secularidade extraeclesial. Nas  instâncias da família, da profissão, da economia, da política etc., o leigo católico é chamado a evangelizar, na condição de autêntico membro da Igreja.
Para poder realizar tarefa tão nobre e cristã, o leigo não pode prescindir dos sacramentos, ministrados pelos componentes da hierarquia (padres e bispos). O sacramento da eucaristia é requisito sine qua non para o sucesso da empreitada dos leigos. O aludido sacramento constitui o centro da vida dos leigos e de todos os outros integrantes da Igreja.
Se os leigos católicos se compenetrarem da missão eclesial e batismal que lhes toca, decerto a sociedade política será mais justa e fraterna. Consoante explicou algures dom Dadeus Grings, arcebispo de Porto Alegre, quando se questiona sobre o que a Igreja realiza no campo de bem comum, deve-se devolver a pergunta aos leigos.
*Edson Luiz Sampel é Doutor em Direito Canônico pela  Pontifícia Universidade Lateranese, do Vaticano.




Assembleia Geral dos Bispos

Reflexões de Dom Walmor Oliveira de Azevedo, Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte
Por Dom Walmor Oliveira de Azevedo

BELO HORIZONTE, 18 de Abril de 2013 (Zenit.org) - A 51ª Assembleia Geral dos Bispos do Brasil reuniu mais de 400 participantes, entre bispos, padres, religiosos, leigos e assessores, no Santuário da Mãe Aparecida. Acontecimento anual de importância e significação, é oportunidade para a Igreja Católica no Brasil avaliar sua fidelidade ao mandato de seu Senhor, Cristo Ressuscitado: fazer de todos seus discípulos e discípulas. Também é momento para a Igreja Católica refletir a realidade, a partir de seu compromisso com a vida do povo, particularmente dos pobres.
Esse olhar que se dirige à vida sofrida do povo pediu de nós, bispos, um posicionamento de solidariedade e defesa dos irmãos e irmãs castigados pela maior seca que atinge a região do semiárido brasileiro nos últimos 40 anos. São mais de 10 milhões de pessoas, em 1.236 municípios, segundo dados da Secretaria da Defesa Civil do Ministério da Integração Nacional. A sociedade brasileira sabe que os bispos sempre estão atentos às consequências de ordem social, econômica, moral e ética provocadas pela seca. A Igreja Católica, recentemente, em cooperação também com vários movimentos sociais e sindicais, apresentou diretrizes para a convivência com o semiárido. Junto com a população atingida pela seca, a Igreja propõe e reivindica intervenções estruturais capazes de minimizar tal sofrimento.
Refletimos e avançamos também na preparação de um documento para manifestar nosso posicionamento no que se refere aos conflitos agrários. Em sua condição de servidora, a Igreja Católica coloca-se ao lado dos sem-terra, pessoas submetidas ao trabalho escravo, quilombolas e indígenas. Em comunhão com todos estes segmentos, questionamos o Projeto de Emenda Constitucional 215, que transfere do Poder Executivo ao Congresso Nacional a demarcação, titulação e homologação de terras indígenas e quilombolas.
Estes e outros assuntos que integraram a exigente pauta da 51ª Assembleia Geral consolidam ainda mais o compromisso da Igreja Católica com a vida do povo sofrido, em diálogo franco e direto com os construtores da sociedade. A partir desse princípio, nós, bispos de Minas Gerais, durante a Assembleia, manifestamos nossa preocupação relacionada à situação prisional de nosso Estado. Uma realidade grave e triste, quando se considera o número de apenados, o tratamento a eles oferecido em vista de sua recuperação, distanciamentos de suas famílias, com agravamentos sérios, além das dificuldades criadas para o serviço voluntário e de fé, prestado por nossos agentes da Pastoral Carcerária. Um trabalho humanitário que encontra obstáculos que precisam ser superados com a intervenção e atuação de quem pode fazê-lo. Também estamos atentos à tramitação do Projeto de Lei número 3.784\2013, da Assembleia Legislativa de Minas Gerais, que regulamenta o uso de espaços públicos para cerimônias religiosas.
Enquanto avaliamos nossos muitos trabalhos desenvolvidos em todo o Brasil, especialmente pelas comissões episcopais pastorais e organismos da CNBB, detalhamos o tema central da Assembleia neste ano:comunidadedecomunidades:umanovaparóquia. Todos os bispos estão empenhados para que cresça a rede de comunidades, sinal da nossa presença e serviço na vida do povo. Uma nova resposta que nasce do vigor espiritual radicado na simplicidade e na verdade do Evangelho.
Importante também é o caminho percorrido rumo à consolidação de um Diretório para a Comunicação na Igreja do Brasil, buscando qualificar sempre o diálogo com a sociedade civil e, também, atender a exigência de uma adequada política de comunicação no interior da Igreja. O objetivo é avançar na preservação da cultura cristã brasileira, resguardando sua consistência.
Os trabalhos realizados a partir da densa pauta da 51ª Assembleia Geral da CNBB foram marcados, sobretudo, por um clima de fraternidade evangélica, tempero determinante no caminho missionário. Rodeados pelo povo peregrino, sempre presente no Santuário da Mãe Aparecida, nós bispos da Igreja, em cooperação, vivemos uma Assembleia de riquezas neste caminho da fé.
Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte


Março 2013


E Cristo chorou sobre os palácios do Vaticano
13/03/2013

Andando pelas comunidades eclesiais de base constituídas de ribeirinhos da Amazônia, nos limites com o Acre, lá onde viceja uma Igreja pobre e libertadora, ouvi de um líder comunitário, bom conhecedor da leitura popular da Bíblia, a seguinte visão que ele pretende ter sido verdadeira.
Estava um dia a caminho do centro comunitário, quando se viu transportado, não sabe se em sonho ou em espírito, aos jardins do Vaticano. Viu de repente um Papa, encurvado pela idade, todo de branco, cercado pelos seus principais cardeais conselheiros. Faziam o costumeiro passeio após o almoço, andando pelos jardins floridos do Vaticano.
De repente, o Papa vislumbrou, a uns poucos metros de distância, a figura do Mestre. Este sempre aparece disfarçado seja como jardineiro para Maria Madalena seja como andarilho para os jovens de Emaús. Mas o sucessor de Pedro, afastando-se do grupo de cardeais, com fino tato, identificou logo o Ressuscitado. Ajoelhou-se e quis proferir a profissão de fé que fez Pedro ser pedra, pois sobre esta fé se constrói sempre a Igreja :”Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo”.
Nisso foi atalhado por Jesus. Olhando o palácio do Vaticano ao longe e o perfil dos prédios da Santa Sé, disse Jesus com voz entristecida: ”Não te bendigo, sucessor de Pedro, o pescador, porque tudo isso não foi inspirado por meu Pai que está nos céus mas pela carne e pelo sangue. Digo-te que não foi sobre estas pedras que edifiquei minha Igreja, porque temia que então as portas do inferno poderiam prevalecer contra ela”.
O Papa ficou perplexo e olhou o rosto do Senhor. Viu que caiam-lhe furtivamente duas lágrimas dos olhos. Lembrou-se de Pedro que o havia traído duas vezes e que, arrependido, chorara amargamente. Quis proferir algumas palavras, mas estas lhe morreram na garganta. Começou também ele, o Papa, a chorar. Nisso o Senhor desapareceu.
Os Cardeais ouviram as palavras do Mestre e se apressaram para amparar o Papa. Este logo lhes disse com grande severidade: ”Irmãos, o Senhor me abriu os olhos. Por isso, as coisas não podem ficar como estão. Temos que mudar e mudar em muitas coisas. Ajudem-me a realizar a vontade do Senhor”.
O Cardeal camerlengo, o mais ancião de todos, afirmou: ”Santidade, iremos, sim, fazer alguma coisa conforme a vontade do Mestre e segundo a tradição dos Apóstolos. Amanhã reuniremos todo o colégio cardinalício presente em Roma e, invocando o Espírito Santo, decidiremos como vamos proceder, consoante as palavras do Senhor”.
Todos se afastaram pesarosos, vindo-lhes à memória aquelas cenas do Novo Testamento que se referem a Jesus chorando sobre a cidade santa, que matava seus profetas e apedrejava os enviados de Deus e que se negava a reunir seus filhos e filhas como a galinha que recolhe os pintainhos debaixo de suas asas.
Um e outro entretanto, comentavam: ”irmãos, sejamos realistas e prudentes, pois nos toca viver neste mundo. Precisamos de edifícios para a Cúria e o Banco do Vaticano para recolher os óbulos dos fiéis e cobrir os nossos gastos. Podemos negar essas necessidades? Mas vejamos o que o Espírito nos inspirar”.
No dia seguinte, quando os cardeais se dirigiam à sala do consistório, graves e cabisbaixos, o secretário do Papa veio correndo e lhes comunicou quase aos gritos: ”O Papa morreu, o Papa morreu”.
Nove dias após, celebraram-se os funerais com toda a pompa e circunstância como manda a tradição. Vindos de todas as partes do mundo, os cardeais desfilavam com suas vestes vermelhas e luzidias, quais príncipes de tempos antigos. Depois sepultaram o Papa.
E ninguém mais se lembrou das palavras que o Mestre havia dito e que eles escutaram. E tudo continuou como antes nos palácios do Vaticano.
Post Scriptum: o Espírito Santo fala pelos sinais dos tempos. Um desses sinais são os escândalos ocorridos que exigem reformas para resgatar a credibilidade da Igreja. Será que os cardeais no Conclave saberão ler esse sinal e dizer como no primeiro Concílio em Jerusalém:”Pareceu bem a nós e ao Espírito Santo tomar tais e tais decisões”? Caso contrário o Mestre continuará chorando sobre as pedras do Vaticano.
Leonardo Boff, teólogo e escritor



FRANCISCO DE ASSIS E FRANCISCO DE ROMA

IHU – Domingo, 31 de março de 2013
“Francisco viveu a antítese do projeto imperial de Igreja. Ao evangelho do poder, apresentou o poder do evangelho: no despojamento total, na pobreza radical e na extrema simplicidade. Não se situou no quadro clerical nem monacal, mas como leigo se orientou pelo evangelho vivido ao pé da letra nas periferias das cidades, onde estão os pobres e hansenianos e no meio da natureza, vivendo uma irmandade cósmica com todos os seres”, escreve Leonardo Boff, teólogo, filósofo e escritor.
Eis o artigo.
Desde que assumiu o nome de Francisco, o bispo de Roma eleito e, por isso, Papa, faz-se inevitável a comparação entre os dois Franciscos, o de Assis e o de Roma. Ademais, o Francisco de Roma explicitamente se remeteu ao Francisco de Assis. Evidentemente não se trata de mimetismo, mas de constatar pontos de inspiração que nos indicarão o estilo que o Francisco de Roma quer conferir à direção da Igreja universal.

Há um ponto inegável comum: a crise da instituição eclesiástica. O jovem Francisco diz ter ouvido uma voz vinda do Crucifixo de São Damião que lhe dizia: “Francisco repara a minha Igreja porque está em ruinas”. Giotto o representou bem, mostrando Francisco suportando nos ombros o pesado edifício da Igreja.
Nós vivemos também grave crise por causa dos escândalos, internos à própria instituição eclesiástica. Ouviu-se o clamor universal (“a voz do povo é a voz de Deus”): “reparem a Igreja que se encontra em ruinas em sua moralidade e em sua credibilidade”. Foi então que se confiou a um cardeal da periferia do mundo, Bergoglio, de Buenos Aires, a missão de, como Papa, restaurar a Igreja à luz de Francisco de Assis.
No tempo de São Francisco de Assis triunfava o Papa Inocêncio III (1198-1216) que se apresentava como “representante de Cristo”. Com ele se alcançou o supremo grau de secularização da instituição eclesiástica com interesses explícitos de “dominium mundi”, da dominação do mundo. Efetivamente, por um momento, praticamente, toda a Europa até a Rússia estava submetida ao Papa. Vivia-se na maior pompa e glória. Em 1210, sob muitas dúvidas, Inocêncio III reconheceu o caminho de pobreza de Francisco de Assis. A crise era teológica: uma Igreja-Império temporal e sacral contradizia tudo o que Jesus queria.
Francisco viveu a antítese do projeto imperial de Igreja. Ao evangelho do poder, apresentou o poder do evangelho: no despojamento total, na pobreza radical e na extrema simplicidade. Não se situou no quadro clerical nem monacal, mas como leigo se orientou pelo evangelho vivido ao pé da letra nas periferias das cidades, onde estão os pobres e hansenianos e no meio da natureza, vivendo uma irmandade cósmica com todos os seres. Da periferia falou para o centro, pedindo conversão. Sem fazer uma crítica explícita, iniciou uma grande reforma a partir de baixo mas sem romper com Roma. Encontramo-nos face a um gênio cristão de sedutora humanidade e de fascinante ternura e cuidado pondo a descoberto o melhor de nossa humanidade.
Estimo que esta estratégia deve ter impressionado a Francisco de Roma. Há que reformar a Cúria e os hábitos clericais de todas as igrejas. Mas não se precisa criar uma ruptura que dilacerará o corpo da cristandade.
Outro ponto que seguramente terá inspirado a Francisco de Roma: a centralidade que Francisco de Assis conferiu aos pobres. Não organizou nenhuma obra para os pobres, mas viveu com os pobres e como os pobres. O Francisco de Roma, desde que o conhecemos, vive repetindo: o problema dos pobres não se resolve sem a participação dos pobres, não pela filantropia, mas pela justiça social. Esta diminui as desigualdades que castigam a América Latina e, em geral, o mundo inteiro.
O terceiro ponto de inspiração é de grande atualidade: como nos relacionar com a Mãe Terra e com os bens e serviços escassos. Na fala inaugural de sua entronização, Francisco de Roma usou mais de 08 vezes a palavra cuidado. É a ética do cuidado, como eu mesmo tenho insistido fortemente, a que vai salvar a vida humana e garantir a vitalidade dos ecossistemas. Francisco de Assis, patrono da ecologia, será o paradigma de uma relação respeitosa e fraterna para com todos os seres, não em cima mas ao pé da natureza.
Francisco de Assis entreteve com Clara uma relação de grande amizade e de verdadeiro amor. Exaltou a mulher e as virtudes considerando-as “damas”. Oxalá inspire a Francisco de Roma uma relação para com as mulheres, a maioria da Igreja, não só de respeito, mas de valorização de seu protagonismo, na tomada de decisões sobre os caminhos da fé e da espiritualidade no novo milênio.
Por fim, Francisco de Assis é, segundo o filósofo Max Scheler, o protótipo ocidental da razão cordial e emocional. É ela que nos faz sensíveis à paixão dos sofredores e aos gritos da Terra. Francisco de Roma, à diferença de Bento XVI, expressão da razão intelectual, é um claro exemplo da inteligência cordial que ama o povo, abraça as pessoas, beija as crianças e olha amorosamente para as multidões. Se a razão moderna não se amalgamar à sensibilidade do coração, dificilmente seremos levados a cuidar da Casa Comum, dos filhos e filhas deserdados e alimentar a convicção bem franciscana de que abraçando afetuosamente o mundo, estaremos abraçando a Deus.
Imagem: Papa Inocêncio III sonha com a basílica Lateranense salva e sustentada por São Francisco. Umbria, Assis, Basílica Papal de São Francisco – Basílica Superior – Fonte: Mondadori Portfolio /Antonio Quattrone.

 

 

PAPA INCLUI MULHER EM RITUAL DE LAVA-PÉS
Folha de saõ paulo – SEXTA-FEIRA, 29 DE MARÇO DE 2013 09H03
Em cerimônia tradicional da Quinta-Feira Santa em Roma, pontífice também incluiu muçulmanos pela primeira vez.
Em missa, Francisco pediu que sacerdotes busquem católicos nas periferias e tenham "cheiro de ovelha"
O papa Francisco rezou missa ontem em um centro de detenção para adolescentes de Roma onde lavou e beijou os pés de 12 reclusos – incluindo duas mulheres, um delas muçulmana, algo inédito para um pontífice.
A tradicional cerimônia de lava-pés remete à descrição da Bíblia da Última Ceia, quando Jesus Cristo lavou os pés de seus 12 apóstolos em ato que simboliza humildade e serviço ao próximo.
Antecessores de Francisco também realizavam o ritual, em geral com padres representando os apóstolos.
Como arcebispo de Buenos Aires, Jorge Bergoglio já havia incluído mulheres na cerimônia – na Argentina, ele costumava visitar hospitais e centros de detenção.
O gesto inédito de Francisco atraiu críticas e elogios.
O advogado canônico Edward Peters, assessor da mais alta corte do Vaticano, disse que a inclusão de mulheres está vetada e que a transgressão do papa era um ‘exemplo questionável’.
Já James Martin, padre jesuíta como o papa, autor de “O Guia Jesuíta”, viu um sinal de abertura e de que amor de Cristo é para todos.
Francisco protagonizou ainda outro ineditismo: foi a primeira vez que um papa celebrou a missa da Quinta-Feira Santa fora da basílica de São João de Latrão, em Roma, ou da Basílica de São Pedro.
O local da celebração foi a Casal del Marmo, na periferia de Roma, que abriga 46 jovens entre 14 e 21 anos que cometeram diversos crimes. Dentre eles, são oito italianos e 38 estrangeiros, a maioria do norte da África.
Não houve transmissão em vídeo – apenas por rádio – porque o grupo envolvia menores de idade.
Depois, o Vaticano divulgou um vídeo curto: sobre pés de homens negros, brancos e mulheres, o papa despeja a água do cálice, depois os enxuga com um pano de algodão e os beija.
“Esqueçam as irritações e as brigas. Ajudem uns aos outros. Isso é o que Jesus nos ensina. Ajudem-se sempre, assim se faz o bem”, disse o papa na homilia.
Ao comentar sobre a missa, Francisco disse que considera o lava-pés um carinho de Jesus. Entre nós quem está mais alto deve estar a serviço dos outros. É um dever como bispo e sacerdote.
Mais cedo, o papa havia rezado na Basílica de São Pedro missa para 1.600 religiosos, a quem pediu que evitem a tristeza e sirvam com paixão ‘aos oprimidos’.
CHEIRO DE OVELHA
O argentino Francisco, eleito papa em 13 de março, exortou o clero a “sair de si mesmo” e criticou os sacerdotes que acabam se tornando ‘intermediários’ ou apenas ‘gestores’ e que não atuam com o coração.
“Daí surge exatamente a insatisfação de alguns, que acabam ficando tristes e se tornam uma espécie de colecionadores de antiguidades ou até de novidades, em vez de serem pastores com ‘cheiro de ovelha’, pastores em meio ao seu rebanho, e pescadores de homens”, seguiu.
Como tem sido hábito, o papa fez mais um apelo a que os religiosos se dediquem aos pobres. Pediu aos sacerdotes que cheguem às “periferias, onde o povo fiel está mais exposto à invasão daqueles que querem saquear sua fé”.

 Um cristão não o pode jamais ser triste [Papa Francisco]

“ Os jovens devem dizer ao mundo: é bom seguir Jesus; é bom andar com Jesus; é boa a mensagem de Jesus; é bom sair de nós mesmos para levar Jesus às periferias do mundo e da existência”
1.  Jesus entra em Jerusalém. A multidão dos discípulos acompanha-O em festa, os mantos são estendidos diante d’Ele, fala-se dos prodígios que realizou, ergue-se um grito de louvor: «Bendito seja o Rei que vem em nome do Senhor! Paz no céu e glória nas alturas!» (Lc 19, 38). Multidão, festa, louvor, bênção, paz: respira-se um clima de alegria.
Jesus despertou tantas esperanças no coração, especialmente das pessoas humildes, simples, pobres, abandonadas, pessoas que não contam aos olhos do mundo. Soube compreender as misérias humanas, mostrou o rosto misericordioso de Deus e inclinou-Se para curar o corpo e a alma.
Assim é Jesus. Assim é o seu coração, que nos vê a todos, que vê as nossas enfermidades, os nossos pecados. Grande é o amor de Jesus! E entra em Jerusalém assim com este amor que nos vê a todos. É um espetáculo lindo: cheio de luz – a luz do amor de Jesus, do amor do seu coração –, de alegria, de festa.
No início da Missa, também nós o reproduzimos. Agitamos os nossos ramos de palmeira. Também nós acolhemos Jesus; também nós manifestamos a alegria de O acompanhar, de O sentir perto de nós, presente em nós e no nosso meio, como um amigo, como um irmão, mas também como rei, isto é, como farol luminoso da nossa vida. Jesus é Deus, mas desceu a caminhar connosco como nosso amigo, como nosso irmão; e aqui nos ilumina ao longo do caminho. E assim hoje O acolhemos.
E aqui temos a primeira palavra que vos queria dizer: alegria! Nunca sejais homens e mulheres tristes: um cristão não o pode ser jamais! Nunca vos deixeis invadir pelo desânimo! A nossa alegria não nasce do fato de possuirmos muitas coisas, mas de termos encontrado uma Pessoa: Jesus, que está no meio de nós; nasce do facto de sabermos que, com Ele, nunca estamos sozinhos, mesmo nos momentos difíceis, mesmo quando o caminho da vida é confrontado com problemas e obstáculos que parecem insuperáveis… e há tantos! E nestes momentos vem o inimigo, vem o diabo, muitas vezes disfarçado de anjo, e insidiosamente nos diz a sua palavra. Não o escuteis! Sigamos Jesus! Nós acompanhamos, seguimos Jesus, mas sobretudo sabemos que Ele nos acompanha e nos carrega aos seus ombros: aqui está a nossa alegria, a esperança que devemos levar a este nosso mundo. E, por favor, não deixeis que vos roubem a esperança! Não deixeis roubar a esperança… aquela que nos dá Jesus!
2. Segunda palavra. Para que entra Jesus em Jerusalém? Ou talvez melhor: Como entra Jesus em Jerusalém? A multidão aclama-O como Rei. E Ele não Se opõe, não a manda calar (cf. Lc 19, 39-40). Mas, que tipo de Rei seria Jesus? Vejamo-Lo… Monta um jumentinho, não tem uma corte como séquito, nem está rodeado de um exército como símbolo de força. Quem O acolhe são pessoas humildes, simples, que possuem um sentido para ver em Jesus algo mais; têm o sentido da fé que diz: Este é o Salvador. Jesus não entra na Cidade Santa, para receber as honras reservadas aos reis terrenos, a quem tem poder, a quem domina; entra para ser flagelado, insultado e ultrajado, como preanuncia Isaías na Primeira Leitura  (cf. Is 50, 6); entra para receber uma coroa de espinhos, uma cana, um manto de púrpura (a sua realeza será objecto de ludíbrio); entra para subir ao Calvário carregado com um madeiro. E aqui temos a segunda palavra: Cruz. Jesus entra em Jerusalém para morrer na Cruz. E é precisamente aqui que refulge o seu ser Rei segundo Deus: o seu trono real é o madeiro da Cruz! Vem-me à mente aquilo que Bento XVI dizia aos Cardeais: Vós sois príncipes, mas de um Rei crucificado. Tal é o trono de Jesus. Jesus toma-o sobre Si… Porquê a Cruz? Porque Jesus toma sobre Si o mal, a sujeira, o pecado do mundo, incluindo o nosso pecado, o pecado de todos nós, e lava-o; lava-o com o seu sangue, com a misericórdia, com o amor de Deus. Olhemos ao nosso redor… Tantas feridas infligidas pelo mal à humanidade: guerras, violências, conflitos económicos que atingem quem é mais fraco, sede de dinheiro, que depois ninguém pode levar consigo, terá de o deixar. A minha avó dizia-nos (éramos nós meninos): a mortalha não tem bolsos. Amor ao dinheiro, poder, corrupção, divisões, crimes contra a vida humana e contra a criação! E também – como bem o sabe e conhece cada um de nós - os nossos pecados pessoais: as faltas de amor e respeito para com Deus, com o próximo e com a criação inteira. E na cruz, Jesus sente todo o peso do mal e, com a força do amor de Deus, vence-o, derrota-o na sua ressurreição. Este é o bem que Jesus realiza por todos nós sobre o trono da Cruz. Abraçada com amor, a cruz de Cristo nunca leva à tristeza, mas à alegria, à alegria de sermos salvos e de realizarmos um bocadinho daquilo que Ele fez no dia da sua morte.
3. Hoje, nesta Praça, há tantos jovens. Desde há 28 anos que o Domingo de Ramos é a Jornada da Juventude! E aqui aparece a terceira palavra: jovens! Queridos jovens, vi-vos quando entráveis em procissão; imagino-vos fazendo festa ao redor de Jesus, agitando os ramos de oliveira; imagino-vos gritando o seu nome e expressando a vossa alegria por estardes com Ele! Vós tendes um parte importante na festa da fé! Vós trazeis-nos a alegria da fé e dizeis-nos que devemos viver a fé com um coração jovem, sempre: um coração jovem, mesmo aos setenta, oitenta anos! Coração jovem! Com Cristo, o coração nunca envelhece. Entretanto todos sabemos – e bem o sabeis vós – que o Rei que seguimos e nos acompanha, é muito especial: é um Rei que ama até à cruz e nos ensina a servir, a amar. E vós não tendes vergonha da sua Cruz; antes, abraçai-la, porque compreendestes que é no dom de si, no dom de si, no sair de si mesmo, que se alcança a verdadeira alegria e que com o amor de Deus Ele venceu o mal. Vós levais a Cruz peregrina por todos os continentes, pelas estradas do mundo. Levai-la, correspondendo ao convite de Jesus: «Ide e fazei discípulos entre as nações» (cf. Mt 28, 19), que é o tema da Jornada da Juventude deste ano. Levai-la para dizer a todos que, na cruz, Jesus abateu o muro da inimizade, que separa os homens e os povos, e trouxe a reconciliação e a paz. Queridos amigos, na esteira do Beato João Paulo II e de Bento XVI, também eu, desde hoje, me ponho a caminho convosco. Já estamos perto da próxima etapa desta grande peregrinação da Cruz. Olho com alegria para o próximo mês de Julho, no Rio de Janeiro. Vinde! Encontramo-nos naquela grande cidade do Brasil! Preparai-vos bem, sobretudo espiritualmente, nas vossas comunidades, para que o referido Encontro seja um sinal de fé para o mundo inteiro. Os jovens devem dizer ao mundo: é bom seguir Jesus; é bom andar com Jesus; é boa a mensagem de Jesus; é bom sair de nós mesmos para levar Jesus às periferias do mundo e da existência. Três palavras: alegria, cruz, jovens.
Peçamos a intercessão da Virgem Maria. Que Ela nos ensine a alegria do encontro com Cristo, o amor com que O devemos contemplar ao pé da cruz, o entusiasmo do coração jovem com que O devemos seguir nesta Semana Santa e por toda a nossa vida. Assim seja.

As principais causas de nulidade de um casamento
Se o casamento for inválido, a autoridade eclesiástica, vale dizer, a justiça canônica poderá declarar a nulidade
Por Edson Sampel
SãO PAULO, 04 de Abril de 2013 (Zenit.org) - Neste momento, gostaria de apresentar ao leitor um resumo de todas as principais causas de nulidade.
Sabemos que, por princípio, o casamento é indissolúvel (cf. Mc 10, 1-12). Sendo assim, nenhum poder humano, nem a Igreja, nem o papa, podem anular um matrimônio válido. Friso o adjetivo válido. Com efeito, se o casamento for inválido, a autoridade eclesiástica, vale dizer, a justiça canônica poderá declarar a nulidade.  
Eis as causas mais comuns de nulidade de um casamento celebrado na Igreja:
1)      Exclusão do bem da prole: um dos nubentes, ou ambos, não querem ter filhos.
2)      Exclusão do bem da fidelidade: não se admite a exclusividade de um único parceiro sexual.
3)      Exclusão total do matrimônio: não se deseja o casamento em si; quer-se apenas uma aparência de casamento, para que se possa atingir outro objetivo, como, por exemplo, o status social próspero.
4)      Exclusão da indissolubilidade: os parceiros, ou um deles, se casam, mas admitem a possibilidade de separação e rompimento do vínculo, se o casamento não der certo.
5)      Erro de qualidade direta e principalmente desejada: exemplo: o fato de a parceira ser uma exímia costureira é tudo para o nubente; casa-se com ela, visando à referida qualidade. Se esta qualidade não se implementa, o casamento é nulo.
6)      Violência ou medo: alguém constrange a outra pessoa a convolar o casamento, ou, então, surge o denominado temor reverencial (respeito excessivo pela vontade dos pais; ex.: uma  gravidez inesperada  faz com que o pai moralmente obrigue a filha a se casar, para não ficar desonrada).
7)      Falta de discrição de juízo: os cônjuges, ou um deles, não dispõem da maturidade mínima necessária para assumirem e porem em prática os encargos do matrimônio.
8)      Falta de forma canônica: não houve o devido respeito ao rito estabelecido pela Igreja na celebração do casamento. Ex.: o padre não solicitou a manifestação de vontade dos noivos.  
Não nos esqueçamos de que as anomalias ou vícios acima mencionados têm de estar presentes no exato momento em que ocorre o casamento, isto é, na celebração, diante da testemunha qualificada (geralmente um padre). Esta circunstância será adequadamente aferida num processo judicial eclesiástico.
Todo católico tem o direito líquido e certo de recorrer a um tribunal eclesiástico, mesmo que seja apenas para espancar dúvidas. Portanto, se você, querido leitor, percebeu que houve algum problema sério no seu primeiro casamento, procure o tribunal eclesiástico da sua região. Com certeza, você será muito bem atendido.
Para o casamento católico, a vontade é preponderante. Os noivos são os ministros do sacramento do matrimônio. Desta feita, se houver alguma deturpação do consentimento, máxime pelos oito motivos declinados neste artigo, o casamento é inválido.
Gostaria, também, de ressaltar que hoje em dia, infelizmente, as pessoas se casam totalmente despreparadas, do ponto de vista da maturidade e, muita vez, da afetividade. Por conseguinte, há bastantes sentenças que declaram a nulidade com embasamento no cânon 1095, n.º 2, ou seja, imaturidade grave de um ou dos dois cônjuges. Trata-se de pessoas que, embora queiram, não conseguem, não são capazes de viver a dois, de conviver sob o mesmo teto. Neste cânon igualmente se encaixa o casamento em virtude da gravidez. Os que querem resolver o problema da gravidez com o casamento nem sempre estão devidamente preparados para a vida a dois. O matrimônio não pode funcionar como tábua de salvação para a gravidez indesejada. Esta ocorrência é muito frequente nos processos canônicos.
O importante é que num tribunal eclesiástico, você abra seu coração. Sinta-se como se estivesse diante de um confessor. Os processos canônicos deste tipo correm em segredo de justiça.  É igualmente oportuno levar ao tribunal, depois de iniciado o processo, testemunhas que viram cenas pertinentes ao pedido de nulidade, ou ouviram confidências, reclamações etc. Este material todo será idoneamente analisado pelos juízes eclesiásticos, de maneira séria e justa.
Edson Luiz Sampel é Doutor em Direito Canônico pela Pontifícia Universidade Lateranense, do Vaticano e autor do livro “Quando é possível declarar a nulidade de um matrimônio?” (Editora Paulus).  




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MARÇO DE 2013




Com o papa Francisco, cada dia é uma surpresa


Estilo e métodos do novo papa causam saudável "turbulência" no Vaticano

Por Antonio Gaspari

ROMA, 22 de Março de 2013 (Zenit.org) - A sala de imprensa do Vaticano parecia vazia durante o dia de hoje. A maioria das equipes de TV e dos jornalistas de todas as partes do mundo já partiram de Roma. Depois de um mês de surpresas, da renúncia do papa Bento XVI até a eleição do novo papa Francisco, parece prevalecer agora um grande desejo de normalidade.

Mas o papa Francisco é extremamente dinâmico e seu pontificado promete mudanças diárias, capazes de causar surpresas contínuas.

Ontem, o Santo Padre pediu que fosse reduzido o espaço do apartamento papal, grande demais para as suas necessidades. "Aqui cabem 300 pessoas", teria dito ele.

Em linha com a sobriedade e a obra de serviço do "servo dos servos", Francisco recebeu os representantes das Igrejas irmãs sentado em uma cadeira simples, depois de mandar retirar o trono.

Ele continua a usar sapatos pretos, que teriam recebido de uma viúva como lembrança do marido falecido. Para a cerimônia de Quinta-feira Santa, que prevê o lava-pés realizado pelo papa, Francisco celebrará a missa no presídio do Instituto Penitencial para Menores de Casal di Marmo. O sucessor de Pedro lavará os pés dos jovens detidos. Visitar as prisões e lavar os pés dos prisioneiros é uma prática que o cardeal Bergoglio já adotava na Quinta-Feira Santaem Buenos Aires.

O mundo inteiro quer saber quem é o papa Francisco na intimidade. Seu testemunho humano e espiritual é impressionante, de um autêntico apóstolo de Cristo. Neste contexto, é interessante descobrir, por exemplo, quais são os filmes, livros e obras de arte preferidos do novo papa.

À já conhecida paixão pelo futebol e pelo tango, juntam-se às preferências do Santo Padre o filme A Festa de Babette, vencedor do Oscar de melhor filme estrangeiro em 1987. Escrito e dirigido por Gabriel Axel, o filme se baseia na história homônima de Karen Blixen.

Na literatura, o papa Francesco é um apaixonado apreciador da Divina Comédia, de Dante Alighieri, seu poeta favorito. Quando ensinava literatura, dedicava especial intensidade às aulas sobre a Divina Comédia. Outro livro muito querido de Francisco é Os Noivos, de Alessandro Manzoni. De origens italianas, o papa parece conhecer bem a história e a literatura da Itália. Francisco tem especial apreço também por Johann Christian Friedrich Hölderlin, poeta alemão considerado entre os maiores da literatura mundial. Em várias ocasiões, Bergoglio expressou ainda seu entusiasmo por Fiódor Dostoiévski, John Ronald Reuel Tolkien e Jorge Luis Borges.

O pontífice é um grande amante e conhecedor da música. Embora goste não apenas da música clássica, seu autor preferido é Ludwig Van Beethoven.

Quanto às artes plásticas, a pintura preferida pelo papa é a Crucificação Branca, de Marc Chagall, quadro em que o Cristo crucificado usa uma túnica com as cores de Israel, em clara referência à perseguição contra os judeus.

UMA BELA ORAÇÃO DO BISPO BERGOGLIO (PAPA FRANCISCO)



Uma oração em cada dedo



1.O Polegar é o mais próximo de você. Então comece a orar por aqueles que lhe são mais próximos. Eles são os mais facilmente lembrados. Orar por nossos entes queridos é "uma doce obrigação"!



2.O seguinte é o dedo indicador. Ore por aqueles que ensinam, instruem e curam. Isso inclui mestres, professores, médicos e padres. Eles necessitam de apoio e sabedoria para indicar a direção correta aos outros. Mantenha-os em suas orações sempre presentes.



3.O próximo dedo é o mais alto. Ela nos lembra dos nossos líderes. Ore para que a presidenta, congressistas, empresários e gestores. Essas pessoas dirigem os destinos de nossa nação e orientam a opinião pública. Eles precisam da orientação de Deus.



4.O quarto dedo é o nosso dedo anelar. Embora muitos fiquem surpresos, é o nosso dedo mais fraco, como pode dizer qualquer professor de piano. Ele deve lembrar-nos a rezar para os fracos, com muitos problemas ou prostrados pela doença. Eles precisam da sua oração dia e noite. Nunca é demais para orar por eles. Você também deve se lembrar de orar pelos casamentos.



5.E finalmente o nosso dedo mindinho, o dedo menor de todos, que é a forma como devemos nos ver diante de Deus e dos outros. Como a Bíblia diz que "os últimos serão os primeiros". Seu dedo mindinho deve lembrá-lo de orar por você. Quando você estiver orado para os outros quatro grupos, suas próprias necessidades estarão na perspectiva correta, e você poderá rezar melhor pelas suas necessidades.



(Livre tradução do espanhol: Pe. Helder José, C.Ss.R.)





16/03/2013 - Ah, como eu queria uma Igreja pobre e para os pobres!
Discurso do Papa Francisco no encontro com os representantes dos meios de comunicação social

CIDADE DO VATICANO, 16 de Março de 2013 (Zenit.org) - Apresentamos o discurso do Papa Francisco no encontro com os representantes dos meios de comunicação social, realizado neste sábado (16) às 11 da manhã, na Sala Paulo VI.

Queridos amigos,
É para mim uma alegria poder, no início do meu ministério na Sé de Pedro, encontrar-vos, a vós que estivestes empenhados aqui em Roma num período tão intenso como este que teve início com o inesperado anúncio do meu venerado Predecessor Bento XVI, no dia 11 de Fevereiro passado. Saúdo cordialmente a cada um de vós.
Ao longo dos últimos tempos, não tem cessado de crescer o papel dos mass media, a ponto de se tornarem indispensáveis para narrar ao mundo os acontecimentos da história contemporânea. Por isso, vos dirijo um agradecimento especial a todos pelo vosso qualificado serviço – trabalhastes… e muito! – nos dias passados, quando os olhos do mundo católico e não só se voltaram para a Cidade Eterna, nomeadamente para este território que tem como «centro de gravidade» o túmulo de São Pedro. Nestas semanas, tivestes ocasião de falar da Santa Sé, da Igreja, dos seus ritos e tradições, da sua fé e, de modo particular, do papel do Papa e do seu ministério.
Um agradecimento particularmente sentido dirijo a quantos souberam olhar e apresentar estes acontecimentos da história da Igreja, tendo em conta a perspectiva mais justa em que devem ser lidos: a perspectiva da fé. Quase sempre os acontecimentos da história reclamam uma leitura complexa, podendo eventualmente incluir também a dimensão da fé. Certamente os acontecimentos eclesiais não são mais complicados do que os da política ou da economia; mas possuem uma característica fundamental própria: seguem uma lógica que não obedece primariamente a categorias por assim dizer mundanas e, por isso mesmo, não é fácil interpretá-los e comunicá-los a um público amplo e variado. Realmente a Igreja, apesar de ser indubitavelmente uma instituição também humana e histórica, com tudo o que isso implica, não é de natureza política, mas essencialmente espiritual: é o Povo de Deus, o Povo santo de Deus, que caminha rumo ao encontro com Jesus Cristo. Somente colocando-se nesta perspectiva é que se pode justificar plenamente aquilo que a Igreja Católica realiza.
Cristo é o Pastor da Igreja, mas a sua presença na história passa através da liberdade dos homens: um deles é escolhido para servir como seu Vigário, Sucessor do Apóstolo Pedro, mas Cristo é o centro. Não o Sucessor de Pedro, mas Cristo. Cristo é o centro. Cristo é o ponto fundamental de referimento, o coração da Igreja. Sem Ele, Pedro e a Igreja não existiriam, nem teriam razão de ser. Como repetidamente disse Bento XVI, Cristo está presente e guia a sua Igreja. O protagonista de tudo o que aconteceu foi, em última análise, o Espírito Santo. Ele inspirou a decisão tomada por Bento XVI para bem da Igreja; Ele dirigiu na oração e na eleição os Cardeais.
É importante, queridos amigos, ter em devida conta este horizonte interpretativo, esta hermenêutica, para identificar o coração dos acontecimentos destes dias.
Destas considerações nasce, antes de mais nada, um renovado e sincero agradecimento pelas canseiras destes dias particularmente árduos, mas também um convite para procurardes conhecer cada vez mais a verdadeira natureza da Igreja e também o seu caminho no mundo, com as suas virtudes e os seus pecados, e conhecer as motivações espirituais que a norteiam e que são as mais verdadeiras para entendê-la. Podeis estar certos de que a Igreja, por sua vez, presta grande atenção ao vosso precioso trabalho; é que vós tendes a capacidade de identificar e exprimir as expectativas e as exigências do nosso tempo, de oferecer os elementos necessários para uma leitura da realidade. O vosso trabalho requer estudo, uma sensibilidade própria e experiência, como tantas outras profissões, mas implica um cuidado especial pela verdade, a bondade e a beleza; e isto torna-nos particularmente vizinhos, já que a Igreja existe para comunicar precisamente isto: a Verdade, a Bondade e a Beleza «em pessoa». Deveria resultar claramente que todos somos chamados, não a comunicar-nos a nós mesmos, mas esta tríade existencial formada pela verdade, a bondade e a beleza.
Alguns não sabiam por que o Bispo de Roma se quis chamar Francisco. Alguns pensaram em Francisco Xavier, em Francisco de Sales, e também em Francisco de Assis. Deixai que vos conte como se passaram as coisas. Na eleição, tinha ao meu lado o Cardeal Cláudio Hummes, o arcebispo emérito de São Paulo e também prefeito emérito da Congregação para o Clero: um grande amigo, um grande amigo! Quando o caso começava a tornar-se um pouco «perigoso», ele animava-me. E quando os votos atingiram dois terços, surgiu o habitual aplauso, porque foi eleito o Papa. Ele abraçou-me, beijou-me e disse-me: «Não te esqueças dos pobres!» E aquela palavra gravou-se-me na cabeça: os pobres, os pobres. Logo depois, associando com os pobres, pensei em Francisco de Assis. Em seguida pensei nas guerras, enquanto continuava o escrutínio até contar todos os votos. E Francisco é o homem da paz. E assim surgiu o nome no meu coração: Francisco de Assis. Para mim, é o homem da pobreza, o homem da paz, o homem que ama e preserva a criação; neste tempo, também a nossa relação com a criação não é muito boa, pois não? [Francisco] é o homem que nos dá este espírito de paz, o homem pobre... Ah, como eu queria uma Igreja pobre e para os pobres! Depois não faltaram algumas brincadeiras... «Mas, tu deverias chamar-te Adriano, porque Adriano VI foi o reformador; e é preciso reformar...». Outro disse-me: «Não! O teu nome deveria ser Clemente». «Mas porquê?». «Clemente XV! Assim vingavas-te de Clemente XIV que suprimiu a Companhia de Jesus!». São brincadeiras... Amo-vos imensamente! Agradeço-vos por tudo o que fizestes. E, pensando no vosso trabalho, faço votos de que possais trabalhar serena e frutuosamente, conhecer cada vez melhor o Evangelho de Jesus Cristo e a realidade da Igreja. Confio-vos à intercessão da bem-aventurada Virgem Maria, Estrela da Evangelização. Desejo o melhor para vós e vossas famílias, para cada uma das vossas famílias. E de coração a todos concedo a minha bênção. Obrigado.
Disse que de coração vos daria a minha bênção. Uma vez que muitos de vós não pertencem à Igreja Católica e outros não são crentes, de coração concedo esta bênção, em silêncio, a cada um de vós, respeitando a consciência de cada um, mas sabendo que cada um de vós é filho de Deus, Que Deus vos abençoe!



16/03/2013 - 03h00
A igreja 'não funciona mais', afirma d. Claudio Hummes
FABIANO MAISONNAVE -  ENVIADO ESPECIAL A ROMA  

Apontado como o cardeal brasileiro mais próximo do novo papa, dom Claudio Hummes, 78, diz que a igreja "não funciona" do jeito que está e pede mudanças em toda sua estrutura.
 Na sua apresentação ao mundo, Francisco convidou dom Cláudio, arcebispo emérito de São Paulo, a ficar do seu lado no balcão da basílica de São Pedro.
 Emocionado com o convite e com a homenagem ao fundador de sua ordem, o franciscano d. Cláudio disse à Folha que a escolha do nome é por si só uma encíclica.
 O ex-bispo de Santo André disse ainda que as acusações de que o novo papa colaborou com a ditadura militar argentina são "grande equívoco, senão uma falsificação".

 Folha - O sr. foi convidado pelo papa Francisco a estar ao seu lado na primeira aparição. Como é a relação entre vocês?

 D.Claudio Hummes - Nós nos conhecemos de tantas oportunidades, porque fui arcebispo de São Paulo, e ele, arcebispo de Buenos Aires. Mas sobretudo foi em Aparecida (SP) onde estivemos mais tempo trabalhando juntos, na 5ª Conferência Latino-americana, em 2007. Existia ali a comissão da redação, a mais importante porque ali que se formulava o documento para depois ser votado. Ele era o presidente, e eu, um dos membros. Admirei muito a sua sabedoria, serenidade, santidade divina, espiritualidade. Muito lúcido e muito pastoral, grande zelo missionário, de querer que a igreja seja mais evangelizadora, mais aberta.

 Como foi o convite para o balcão?

Quando se começou a organizar a procissão da Capela Sistina para o balcão na praça, ele chamou o cardeal Vallini, que faz as vezes do bispo de Roma, o vigário da cidade, e me chamou também. Disse: "D.Cláudio, vem você também, fica comigo neste momento". Disse até: "Busca o teu barrete [chapéu eclesiástico]", bem informalmente. Fui lá buscar o meu barrete e estava todo feliz....
Porque não é o costume, quem vai junto são os cerimoniários, nunca tem cardeais com o papa, eles estão nos outros balcões. E o fato de que ele nos convidou acabou rompendo um monte de rituais. Mas foi realmente, para mim, muito gratificante. E também pelo fato de ele ter recém-escolhido o nome de Francisco. Eu sou franciscano, então isso me envolvia muito pessoalmente.

Como o sr. interpreta esse gesto?

Como um gesto pessoal dele, muito espontâneo, muito simples. Não sei quais os significados que ele queria dar. Eu digo que fiquei muito feliz, estava ali com o primeiro papa chamado Francisco.

O papa recusou a limusine, foi pagar a conta do hotel....

São gestos simples, mas que mostram quem ele é e como ele vê as coisas. A minha maravilha foi que esses gestos foram compreendidos pelo povo simples e pela mídia. A mídia também interpretou esplendidamente, entendeu as mensagens que o papa queria dizer.

Qual é o significado de ter um papa de fora da Europa depois de mais mil anos e além disso latino-americano?

Os outros papas que não foram exatamente europeus vinham da região do Mediterrâneo. Nesse sentido, era a Europa da época, era uma grande realidade geopolítica.
Mas o fato de que hoje venha um papa de fora da Europa tem um significado muito grande porque mostra o que a igreja sempre tem dito: a igreja é universal, para a humanidade. Não é para a Europa.
Ter um papa é o sinal maior. É o gesto de dizer: o papa pode vir de qualquer parte do mundo.
Também acho importante que tenha vindo da periferia ainda pobre, emergente. Isso é uma confirmação para todos os católicos de lá: "Nós temos um papa que vem daqui".
E não só para os católicos, até os países se sentem muito mais em pé de igualdade com os outros.

São Francisco também é lembrado pela missão de reformar a igreja como um todo. A escolha do nome também tem essa abrangência?

Certamente, para o papa, o nome é todo esse programa. Hoje, a igreja precisa, de fato, de uma reforma em todas as suas estruturas. Organizar a vida da igreja, a Cúria Romana, que tanto se falou e que precisa urgente e estruturalmente ser reformada, isso é pacífico entre nós. Porém uma coisa é entender que precisa ser feito e outra coisa é fazê-lo.
Será uma obra gigantesca. Não porque seja uma estrutura gigantesca, mas por um mundo de dificuldades que há dentro de uma estrutura como essa, que foi crescendo nos últimos séculos.
Alguém disse já que a escolha do nome Francisco já é uma encíclica [mensagens do papa à igreja], não precisa nem escrever. Isso é muito bonito, é muito promissor.

Em que sentido a reforma é necessária?

Não é só da Cúria, são muitas outras coisas: o nosso jeito de fazer missa, de fazer
evangelização, essa nova evangelização precisa de novos métodos. O papa falou no encontro com os cardeais sobre novos métodos, nós precisamos encontrar novos métodos.
Mas se falou sobretudo da Cúria Romana, que precisa ser reformada estruturalmente. É muito grande, mas tudo isso precisa de um estudo, a gente não tem muitas coordenadas.
Muitos dizem que é grande demais, que foi feito um puxadinho aqui, um puxadinho lá, mais uma sala aqui, mais uma comissão lá, mas essa aqui não tem suficiente prestígio.... Essas coisas todas que acontecem numa estrutura dessas.
A igreja não funciona mais. Toda essa questão que aconteceu ultimamente mostra como ela não funciona. E depois, uma vez feito esse novo desenho, você tem de procurar as pessoas adaptadas para ocuparem esses cargos, esses serviços.

Reza a lenda de que o papa Francisco não gosta de vir a Roma, que sua formação foi longe daqui. Isso contribuiu para a sua escolha?

Não sei se contribui para a sua escolha, mas contribui agora, que ele é papa, a ser mais independente, a ser uma visão mais objetiva. É muito diferente ver um jogo da arquibancada e ver um jogo jogando futebol. Ele não jogou futebol. Vai ajudar, certamente.
Mas ele também vai ouvir pessoas que jogaram, porque é importante ouvir do jogador como ele viu o jogo e quais são as necessidades dentro da forma como se joga.

Continuando a metáfora, o sr. jogou aqui por quatro anos e já foi convocado por ele. O que o sr. pode dizer a ele sobre o que precisa ser feito?

Se um dia me perguntarem sobre isso... Claro, todos nós já falamos sobre isso nas congregações gerais [reuniões pré-conclave], em que ele estava presente. E estamos disponíveis sempre pra ajudar e precisamos ajudar. Os cardeais são o conselho que deve ajudar o papa.

Há relatos na imprensa argentina sobre o envolvimento --por omissão ou colaboração-- do papa Francisco com a ditadura militar. O que tem sr. pode falar sobre isso?

Certamente, isso não é real. Pode ser que alguém tenha se equivocado em certos discernimentos, mas conhecendo toda a pessoa dele.... Não conheço os detalhes, mas, conhecendo a pessoa, nem é possível imaginar isso. Ele é um homem extremamente dos pobres, dos direitos da gente, dos mais simples, dos mais oprimidos, dos mais humilhados, ele é um exemplo de defesa, de estar junto dos pobres.... É inimaginável. Tenho certeza de que tudo isso de fato é um grande equívoco, senão uma falsificação.

A igreja no Brasil, incluindo o sr., teve um papel muito importante na defesa dos direitos humanos durante a ditadura. Como isso se deu na Argentina, sem levar em conta o papa Francisco?

As igrejas pelo mundo afora tiveram as suas próprias avaliações e seu próprio modo de ser. Não me sinto autorizado para fazer um juízo sobre a igreja nesse ou naquele país.

Fala-se muito que a herança da Teologia da Libertação para a igreja na América Latina é o discurso em favor dos pobres. No caso do papa Francisco, qual é a relação dele com esse movimento?

Basta olhar como ele foi arcebispo em Buenos Aires e o documento de Aparecida, que diz tudo isso. Ele está nessa linha, certamente. Se a gente quer descobrir qual é a linha dele de pastoral social, de relação com os pobres, nós vamos encontrá-lo lá, sim.
A Teologia da Libertação foi uma fase histórica que, obviamente, tem essa questão da consciência que temos dos pobres e da necessidade de sermos solidários em termos construtivos da justiça social. Tudo isso a Teologia da Libertação também reforçou.
Eu acho que hoje, se a gente quer ver como as pessoas se relacionam com esse passado, é preciso olhar os documentos de hoje. Senão, você começa a transportar o passado, que não é mais uma resposta para hoje. O mundo já mudou, e as respostas são diferenciadas.

A primeira viagem do papa deve ser ao Brasil, onde a igreja enfrenta desafios muito grandes, como a evasão de jovens e o avanço das igrejas neopentecostais. O sr. tem uma ideia do que o papa pretende orientar sobre o futuro da igreja no país?

Ainda não transpirou nada sobre as mensagens que ele vai levar, mas a gente sabe, tem certeza de que ele vai falar, em primeiro lugar, da importância dos jovens, de que devemos estar do lado dele, devemos ser compreensíveis. Ele quer que a igreja seja compreensiva, misericordiosa, saiba caminhar juntos e que isso é um percurso que tem de fazer, não se pode exigir que amanhã alguém já seja um cristão perfeito. É um caminho, um processo.
É dar a certeza aos jovens de que a igreja os entende e quer acompanhá-los e também quer mostrar a luz. Quer dizer: "Prestem atenção, existe, sim, um sentido para a vida, existe alguém pelo qual vale a pena viver e dar a vida. Há alguém, que é Jesus Cristo, ele é uma luz que vocês deveriam seguir." Isto é, não deixar de mostrar o caminho, mas, ao mesmo tempo, ser compreensivo de onde o jovem ainda está nesse caminho.
E depois a nova evangelização certamente será um outro tema forte dele.

Desde o Concílio Vaticano 2º, há um grande esforço para o diálogo interreligioso, principalmente com as religiões mais antigas. No caso da América Latina, como é o diálogo neste momento entre a igreja e o neopentecostalismo, que não para de crescer?

O diálogo ecumênico com as outras igrejas cristãs não católicas existe de forma muito forte, sobretudo a partir do Concílio Vaticano 2º. Com as grandes igrejas: ortodoxa, oriental, as igrejas protestantes de origem luterana, calvinistas, que são igrejas históricas. Mesmo com o judaísmo, há um grande diálogo. E também com o islamismo, mas isso é outro setor porque, para eles, Jesus Cristo não é como para nós cristãos. Esse diálogo é lento, mas vai caminhando.
Com as igrejas neopentecostais, onde existe muito uma teologia da prosperidade, se dá muito acento ao exorcismo, ao dízimo e coisas assim, elas se diferenciam das igrejas pentecostais. Mas tanto uma com a outra são muito semelhantes. Com elas, é mais difícil, porque muitas delas simplesmente não aceitam o diálogo, mesmo se nós quiséssemos dialogar. Porque não aceitam pensar numa unidade um dia. E muitas vezes são agressivamente anticatólicas, então é muito complicado.

O sr. já é emérito, mas vai ficar no Vaticano em alguma função?

Não, não, eu vou ficar aqui até o dia 22, vou participar da cerimônia pública religiosa e vou participar de uma reunião no dia 21. E aí volto para os meus trabalhos.

Há relatos na imprensa italiana de que o sr. contribuiu durante o conclave para eleger
o papa Francisco. O sr. confirma?

Tudo o que aconteceu dentro do conclave, eu não posso falar.

Voltando ao seu trabalho na cúria, de 2006 a 2010, na Congregação para o Clero, houve uma entrevista em que o sr. falava que o celibato era uma questão disciplinar e que, por isso, estava aberto à discussão. O sr. teria sofrido uma reprimenda quando chegou ao Vaticano. Está na hora de questões como celibato e a ordenação de mulheres serem menos ortodoxas?

Isso de reprimenda, você é quem está dizendo. Eu apenas digo que todas essas questões, todos esses desafios hoje, grandes questões que estão aí em aberto, a igreja não se fecha a discutir aquilo que é necessário ser discutido, ser aprofundado. E isso significa uma igreja capaz de dialogar, capaz de ouvir, capaz de aprofundar, discutir e procurar caminhos. É o que ela vai fazer, certamente.
E esse papa é muito aberto a ouvir. Ele mesmo disse que quer ouvir o mundo, e não só os cardeais e os bispos.



13 mar 2013

O Papa Francisco, esperança de um renovamento na Igreja

Declaração do irmão Alois, prior de Taizé

ROMA, 15 de Março de 2013 (Zenit.org) - A comunidade ecumênica de Taizé nasceu em Borgonha, em 17 de abril de 1949, fundada pelo teólogo Roger Schutz. Os inícios da comunidade, contudo, se remontam aos dias da Segunda Guerra Mundial. É conhecida em todo o mundo não só por seus objetivos ecumênicos, mas também por suas orações e cânticos, que foram traduzidos a muitos idiomas.

Publicamos abaixo a declaração do irmão Alois, prior de Taizé - O Papa Francisco, esperança de um renovamento na Igreja - divulgada no site da Comunidade.

Em Roma, na Praça de São Pedro, no meio da imensa multidão de Romanos e de peregrinos de muitos países, alegrei-me muito com as primeiras palavras do Papa Francisco. Esperávamos algo novo desta eleição e isso aconteceu. A origem deste primeiro Papa vindo «do fim do mundo» expressa a dimensão universal da Igreja. O nome que escolheu evoca a alegria e o amor pelos mais pobres que animavam Francisco de Assis e que estiveram até agora no coração da sua vida na Argentina.

Encontra na fé dos cristãos da América Latina a sua visão da relação entre o povo e o seu bispo. «Comecemos este caminho: o bispo e o seu povo», «um caminho de fraternidade, de amor, de confiança entre nós», disse o Papa insistindo na sua missão de bispo de Roma. Os que estavam na Praça de São Pedro ficaram visivelmente impressionados pelo facto de o novo Papa, antes de os abençoar, pedir a sua oração, inclinando-se e mantendo um longo silêncio.

Ao pedir para rezar por Bento XVI, seu predecessor, aliou uma atenção à continuidade a uma promessa de novidade. Com toda a multidão presente para o saudar e o acolher, senti-me tocado por o Papa ter alargado a nossa atenção às dimensões do mundo, dizendo: «Rezemos pelo mundo inteiro, para que haja uma grande fraternidade».




03 mar 2013 - veja avaliações negativas e positivas do papado de Bento 16

Especialistas dizem que Bento 16 terminou papado sem resolver problemas herdados por João Paulo 2º

Em oito anos de papado, Bento 16 não conseguiu resolver nenhum dos problemas herdados pelo seu antecessor João Paulo 2º. Foi o que apontaram os especialistas entrevistados pelo UOL, ao avaliarem a gestão do atual papa emérito, que renunciou ao cargo mais alto e mais disputado da Igreja Católica no dia 28 de fevereiro.

"Quando Bento 16 foi eleito, em abril de 2005, todo mundo esperava e clamava por modificações e modernidade", relatou o vaticanólogo Giancarlo Nardi, que disse que a expectativa era que em sua gestão ele pudesse dar respostas a cinco problemas considerados essenciais, mas renegadas por seu antecessor: celibato dos padres, aborto, células-tronco, casamento homoafetivo e adoção de crianças por casais heterossexuais. "E, mais uma vez, nenhuma dessas questões foram se quer debatidas".

O pontífice, como avaliou o padre José Antonio Trasferetti, doutor em teologia moral e professor da PUC-Campinas (Pontifícia Universidade Católica de Campinas), não soube resolver os conflitos internos da Igreja e não teve "ousadia" para lidar com os assuntos da atualidade. "Questões que deveriam ser resolvidas com urgência e de forma clara e transparente, mas, que não foram."

Assim como seu antecessor, Bento 16 se omitiu e arquivou o debate relacionado às questões morais mantendo a postura conservadora, porém, como apontou o vaticanólogo, sem o mesmo carisma de João Paulo 2º. "Bento 16 conseguiu compensar sua timidez, com os seus conhecimentos teológicos. E enquanto seu antecessor atraia multidão pelo carisma, ele conseguiu a atenção dos fiéis com os seus discursos", comparou Trasferetti.

Até dezembro de 2012, segundo o Vaticano, Bento 16 presidiu 348 audiências gerais, das quais participaram 4,9 milhões de pessoas. O maior número de fiéis foi registrado em 2006, quando presidiu 45 audiências, das quais participaram mais de 1 milhão de pessoas. Em 2013, em sua última audiência pública como papa, ele conseguiu reunir aproximadamente 100 mil fiéis.

Ainda assim Marcelo Barros, monge beneditino e teólogo da libertação, afirmou discordar com a "linha teológica" e a compreensão de "ministério papal" de Bento 16. "O Conselho Vaticano 2º propôs a colegialidade dos bispos e a importância das igrejas locais como autônomas. Mas, nas últimas décadas, muitos por influência do então cardeal Joseph Ratzinger, a centralização de Roma aumentou com a adoção de

Uma conduta que, para Barros, não é boa para a Igreja Católica. "Qualquer empresa entende que a globalização exige o caminho da descentralização, principalmente em um mundo tão plural como nosso", afirmou ao questionar: "Por que pedir para um cristão africano que se seja travestido de italiano, francês ou de espanhol para ser católico? Por que ele não pode ser cristão sendo negro e resguardado seus valores e cultura? E o asiático igual, o latino americano igual e assim por diante".

Faltou ainda, segundo Traceretti, "habilidade" do atual papa emérito em sua função administrativa. "Ser papa não se resume a missão pastoral e intelectual, também inclui atividades relacionadas à administração e à comunicação. E nesses dois quesitos Bento 16 falhou", disse.

Falhas administrativas que, conforme Nardi, estão evidentes na diminuição da renda do Vaticano. "Atualmente, os gastos do Estado-membro da Igreja Católica são maiores que sua receita." Segundo o balanço da Santa Sé, O vaticano fechou 2011 com déficit de US$ 19,9 milhões. Enquanto os gastos totais foram estimados em US$ 353 milhões (R$ 694 milhões), as receitas foram de US$ 333 (R$ 655 milhões).

No que se refere à comunicação, ainda que o papa Bento 16 tenha sido o primeiro a usar as redes sociais para se comunicar com os fiéis, o pontífice, na opinião do padre Traceretti, não conseguiu dialogar com o mundo sobre os temas de fronteira, entre eles o uso da camisinha, a ordenação de mulheres e o aborto. "São temas complexos, mas que mesmo assim mereciam atenção para proporcionar mais proximidade dos católicos com a igreja. Isso não quer dizer que o papa tenha que aprovar tudo, mas que ao menos saiba dialogar."

Traceretti arrisca a dizer que o próximo papa deva ter a inteligência de Bento 16, o carisma de João Paulo 2º, a ousadia de João 23 e a visão administrativa de Paulo 6º.

Outros problemas

A gestão de Bento 16 ganhou uma proporção ainda maior com as denúncias de abuso sexual envolvendo padres e bispos como o "silêncio" de cardeais, os escândalos do vazamento de documentos confidenciais do Vaticano, que rendeu a condenação do mordomo de Bento 16 e de um analista de sistema.

E, mais recentemente, a confirmação da existência de um dossiê com a descrição de lutas internas pelo poder e pelo dinheiro, assim como o sistema de chantagens internas baseadas em fraquezas sexuais, o chamado "lobby gay" do Vaticano.

"Escândalos que sempre existiram e não tão já vão acabar tão já", disse Nardi.

Bento 16 também não conseguiu desenfrear a queda no número de fiéis da Igreja Católica. No Brasil, o maior país do mundo em números de católicos nominais, a religião perdeu 9,4% de fieis entre 1991 e 2010, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

"Não credito essa perda ao papado de Bento 16. É decorrência de um mundo mais diversificado, com mais liberdade de escolhas e mais contatos entre as diferentes culturas", apontou o teólogo da libertação. "Penso que isso é positivo. Não é motivo de crise para nenhuma religião ou Igreja." (fonte UOL 03/03/13)

Bento 16 deixa legado positivo e entra para a história ao renunciar, opinam teólogos

Se para críticos de Bento 16 ele estava isolado e enfraquecido dentro da Cúria Roma, para teólogos e especialistas ouvidos pelo UOL ele se mostrou forte e hábil ao renunciar ao seu papado.

"É uma decisão revolucionária", defende Valeriano dos Santos Costa, diretor da Faculdade de Teologia da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo). "A renúncia irá marcar seu pontificado de forma indelével e, em perspectiva histórica, será vista como um ato de coragem."

O próprio Bento 16 reconheceu que seus oitos anos à frente do Vaticano tiveram "águas agitadas". "Ele foi muito hábil para conduzir a Igreja num momento turbulento. Ele renunciou acho que por uma questão de estresse físico mesmo", opina Costa.

As acusações de pedofilia contra o clero foram alguns dos percalços com os quais precisou lidar. Entidades que representam vítimas de abuso criticaram duramente a atuação de Bento 16 dizendo que pediu desculpas apenas, mas não tomou medidas concretas.

"Não é verdade. Bento 16 agiu com bastante energia", discorda Edson Luiz Sampel, doutor em direito canônico pela Pontifícia Universidade Lateranense, do Vaticano.

"Uma das medidas foi o aumento da prescrição da pena canônica, de dez para 20 anos. Ocorre que a Igreja é um 'mundo' e os problemas não se solucionam da noite para o dia. É ainda oportuno observar que a pedofilia não é um cancro exclusivo dos eclesiásticos", afirma.

A contribuição intelectual de Bento 16 é apontada como outro aspecto positivo de seu legado. "Bento 16 é um teólogo refinado, colocou a Igreja de volta no debate cultural. Tem muito agnóstico querendo debater os textos dele", avalia Francisco Borba, coordenador do Núcleo de Fé e Cultura da PUC-SP.

Em relação à atuação de Bento 16 no Brasil e no continente americano, o padre Oscar Duque Estrada, professor de história da Igreja no Seminário Maior de Brasília, diz que ele contribuiu ao traçar diretrizes para o continente.

"É difícil dizer se [Bento 16] esteve mais ou menos presente fisicamente. O primeiro que visitou o Brasil, que percorreu de norte a sul e do oriente ao Ocidente, foi João Paulo 2º, que deixou para todas as regiões e pessoas mensagens extraordinárias. [Mas] Bento 16 esteve na Conferência de Aparecida, que reuniu todos os bispos das Américas e do Caribe, ali deixou linhas de ação para o continente."

No encontro, realizado no interior de São Paulo em 2007, a Igreja debateu problemas como a perda de fiéis e a desigualdade social na América Latina. "Assim como em outras ocasiões, Bento 16 mostrou que tem abertura para dialogar", diz Valeriano Costa, da PUC-SP, citando a visita que Bento 16 fez a uma fazenda destinada a tratar dependentes químicos. "Foi um papa que não se isolou da realidade." (fonte UOL 03/03/13)



17 fev 2013 - Três visões diferentes sobre a renúncia do papa

Igreja precisa de papa 'mais pastor que professor', diz Boff

O teólogo e ex-frade brasileiro Leonardo Boff, 74, conviveu com o papa Bento 16 e revela impressões suas sobre o papado do colega, que o puniu com um ano de silêncio obsequioso, a proibição de falar em público e de publicar suas ideias. Em 1992, Boff desligou-se da ordem franciscana. Para ele, Joseph Ratzinger foi um papa frustrado, que tentou reduzir a igreja a um "museu".



Durante seus estudos na Universidade de Munique, na Alemanha, nos anos 1960, Boff conviveu com Joseph Ratzinger, com quem conversava sobre teologia. Em 1985, foi surpreendido quando a Congregação para a Doutrina da Fé, no Vaticano, então presidida por Ratzinger, o puniu com um ano de silêncio obsequioso, a proibição de falar em público e de publicar suas ideias. Em 1992, desligou-se da ordem franciscana.

Expoente da Teologia da Libertação, linha que une princípios do catolicismo ao marxismo, hoje Leonardo Boff se diz aliviado com o anúncio da renúncia de Bento 16.

Folha de S. Paulo: O senhor conviveu com Joseph Ratzinger antes de ele se tornar papa. Como era a relação entre vocês?Leonardo Boff: Conheci Bento 16 nos meus anos de estudo na Alemanha, entre 1965 e 1970. Ouvi muitas conferências dele. Trabalhamos juntos na revista internacional "Concilium", entre 1975 e 1980. Enquanto os outros faziam sesta, eu e ele passeávamos e conversávamos sobre temas de teologia. Como pessoa, é finíssimo, tímido e extremamente inteligente.

Folha de S. Paulo: Ficou surpreso quando ele lhe impôs o silêncio obsequioso?
LB: Quando ele foi nomeado presidente da Congregação para a Doutrina da Fé, fiquei sumamente feliz. Quinze dias após, ele me disse: "Vejo que há várias pendências suas aqui". Aí eu me dei conta: ele já foi contaminado pelo bacilo romano que faz dos que lá trabalham moderados e conservadores. Fiquei, mais que surpreso, decepcionado.

Folha de S. Paulo: Como avalia o pontificado?LB: Bento 16 foi um eminente teólogo e um papa frustrado. Esse papa tentou reduzir a igreja a um museu de antiguidades.

Reintroduziu o latim na missa, escolheu vestimentas renascentistas, manteve hábitos palacianos para quem iria comungar. Oferecia primeiro o anel papal para ser beijado e depois dava a hóstia, coisa que já não se fazia.

Folha de S. Paulo: O senhor ficou aliviado quando ele anunciou a renúncia?LB: Desde o princípio, sentia muita pena dele, pois pelo que o conhecia, especialmente por sua timidez, imaginava o esforço que devia fazer para saudar o povo, abraçar pessoas, beijar crianças.

Embora tenha se mostrado autoritário, não era apegado ao cargo. Fiquei aliviado porque a igreja está sem liderança que suscite esperança e ânimo. Precisamos de um outro perfil de papa, mais pastor que professor.

Folha de S. Paulo: A igreja precisa se modernizar para evitar a perda de fiéis?LB: A igreja pode manter as suas convicções, como a questão do aborto e da não manipulação da vida. Mas deveria renunciar ao status de exclusividade, como se fosse a única portadora da verdade.

Fonte: Folha de S. Paulo 15 fev 2013

13/02/2013-05h30

'É difícil para o papa aceitar tudo o que a sociedade pede', diz Hummes

PATRÍCIA BRITTO
DE SÃO PAULO

De malas prontas para viajar ao Vaticano, o cardeal dom Cláudio Hummes, 78, arcebispo emérito de São Paulo, disse que dificilmente o papa que substituirá Bento 16 mudará a forma como a igreja lida com temas considerados polêmicos, como o uso de métodos contraceptivos, a união civil entre homossexuais e as pesquisas com células-tronco.

"Acredito que será difícil simplesmente dizer sim àquilo que é proposto pela sociedade ou pelos legisladores", disse em entrevista à Folha.

Rivaldo Gomes - 12.out.12/Folhapress
Dom Cláudio Hummes celebra missa em Aparecida (SP)

Ele defendeu, porém, o diálogo sobre os desafios contemporâneos nos campos da ciência, da medicina e da biologia, e disse que a igreja deve interpretar o Evangelho de acordo com as "situações diferenciadas da história".

D. Cláudio, que também é prefeito emérito da Congregação para o Clero, no Vaticano, é um dos cinco brasileiros que participarão do conclave para eleger o próximo papa e que também poderão ser escolhidos como substituto de Bento 16.

Leia a seguir trechos da entrevista concedida por d. Cláudio Hummes à Folha.

Folha - Como o próximo papa pode evitar a perda de fiéis em países como o Brasil, maior nação católica do mundo?

D. Cláudio Hummes - Quando o papa Bento 16 esteve aqui, foram traçadas muitas propostas nesse sentido. Depois ele insistiu muito na nova evangelização e em que a igreja deve estar muito perto do povo, sobretudo dos mais pobres. Penso que o novo papa continuará também nessa mesma linha, que aliás está sendo seguida aqui no Brasil.

Como funciona na prática?

Ir até o povo e não apenas esperar e atender aquelas pessoas que vêm à nossa paróquia, que vêm nos procurar. Nós é quem devemos organizadamente, de forma preparada, ir ao encontro do povo, visitar o povo, evangelizar o povo. Não numa forma de conflito com as igrejas evangélicas, mas fazendo o nosso trabalho com aqueles que nós batizamos.

O próximo papa poderá mudar a forma de lidar com temas como as pesquisas com células-tronco ou a união civil entre homossexuais?

A igreja não pode mudar o Evangelho que recebeu de Jesus Cristo. Ela deve procurar interpretá-lo e pôr em prática nas situações diferenciadas da história. Sabemos que hoje existem muitos desafios novos nos campos da ciência, da medicina, da biologia. São campos sobre os quais a gente tem que dialogar.
Mas acredito que será difícil simplesmente dizer sim àquilo que é proposto pela sociedade ou pelos legisladores hoje em dia.

O senhor participará do conclave para eleger o próximo papa e poderá inclusive ser votado. Acredita ter muitas chances de ser escolhido?

Eu não acredito. Independente disso, eu espero que [o papa eleito] seja um homem mais novo. Nós tivemos um papa muito jovem, João Paulo 2º, que foi eleito com 58 anos, e depois um papa muito idoso, o Bento 16, eleito com 78 anos. Espero agora que encontremos a média.

Qual seria a idade ideal?

Lá pelos 65 seria uma boa idade, mas isso é um critério menor, não é o prioritário. O importante é que o papa que seja eleito seja um homem de Deus, um homem de fé. Existem bons candidatos.

O senhor acredita que, a partir de agora, a renúncia de papas poderá ser mais frequente?

Acho que será mais fácil para eles tomarem eventualmente tal decisão. Era difícil uma primeira vez depois de quase 600 anos. A gente entende como deve ter sido difícil. Mas já que este papa é muito racional e ao mesmo tempo um santo homem, ele conseguiu tomar essa decisão. Isso de fato abre portas.

Qual será a importância da visita do próximo papa ao Brasil, prevista para julho?

Em primeiro lugar, a própria visita e o encontro com os jovens. Depois o fato de ser um papa recente, e certamente será uma das primeiras viagens, se não a primeira viagem internacional que ele fará, então tanto mais importante. E nós ficaremos muito felizes de tê-lo aqui, porque o Brasil é muito importante


A renúncia do Papa e os oportunistas da imprensa secular

Sex, 15 de Fevereiro de 2013 11:18

por Padre Paulo Ricardo de Azevedo Junior - Arquidiocese de Cuibá/MT

Que a mídia secular não é o melhor meio para se informar a respeito da Igreja Católica, isso não é novidade. Basta fazer uma rápida leitura nas manchetes dos principais jornais do país a respeito da renúncia do Papa Bento XVI para se ter a certeza de que o amadorismo reina nessas aclamadas agências de notícias. No entanto, acreditar na simples inocência desses senhores e cobri-los com um véu de caridade por seus comentários maldosos e, muitas vezes, insultuosos não seria honesto. É necessário compreender muito bem que muitos desses veículos estão ardorosamente comprometidos com a desinformação e com os princípios contrários à reta moral defendida pela Igreja. Daí a quantidade de sandices que surgiram na mídia nos últimos dias.

Logo após o anúncio da decisão do Santo Padre, publicou-se na imprensa do mundo todo que a ação de Bento XVI causaria uma "revolução" sem precedentes na doutrina da Igreja. Uma atrapalhada correspondente de uma emissora brasileira afirmou que a renúncia do papa abriria caminho para as "reformas" do Concílio Vaticano II e que isso daria mais poderes aos bispos. Já outros declaravam que os recentes fatos colocavam em xeque o dogma da "Infalibilidade Papal", proclamado pelo Concílio Vaticano I. Nada mais fantasioso.

É verdade que uma renúncia tal qual a de Bento XVI nunca houve na história da Igreja. A última resignação de um papa aconteceu ainda na Idade Média e em circunstâncias bem diversas. Todavia, isso não significa que o Papa Ratzinger tenha modificado ou inventado qualquer novo dogma ou lei eclesiástica. O direito à renúncia do ministério petrino já estava previsto no Código do Direito Canônico, promulgado pelo Beato João Paulo II em 1983. Portanto, de modo livre e consciente - como explicou no seu discurso - Bento XVI apenas fez uso de um direito que a lei canônica lhe dava e nada nos autoriza a pensar que fora diferente. Usar desse pretexto para fazer afirmações tacanhas sobre dogmas e reformas na Igreja é simplesmente ridículo. Quem faz esses comentários carece de profundos conhecimentos sobre a doutrina católica, sobretudo a expressa no Concílio Vaticano II.

Outros comentaristas foram mais longe nas especulações e atestaram que a renúncia do Papa devia-se às pressões internas que ele sofria por seu perfil tradicionalista e conservador. Além disso, as crises pelos escândalos de pedofilia e vazamentos de documentos internos também teriam pesado na decisão. Não obstante, quem conhece o pensamento de Bento XVI sabe que ele jamais tomaria essa decisão se estivesse em meio a uma crise ou situação que exigisse uma particular solicitude pastoral. E isso ficou muito bem expresso na sua entrevista com o jornalista Peter Seewald - publicada no livro Luz do Mundo - na qual o Papa explica que em momentos de dificuldades, não é possível demitir-se e passar o problema para as mãos de outro.

Mas de todas as notícias veiculadas por esses jornais, certamente as mais esdrúxulas foram as que fizeram referência às antigas "profecias" apocalípiticas que prediziam o fim da Igreja Católica. Numa dessas reportagens, um notório jornal do Brasil dizia: "O anúncio da renúncia do papa Bento 16 fez relembrar a famosa "Profecia de São Malaquias", que anuncia o fim da Igreja e do mundo". É curioso notar o repentino surto de fé desses reconhecidos laicistas logo em teorias que proclamam o fim da Igreja. Isso tem muito a dizer a respeito deles e de suas intenções.

Por fim, também não faltaram os especialistas de plantão e teólogos liberais chamados pelas bancadas dos principais jornais do país para pedir a eleição de um papa "mais aberto". Segundo esses doutos senhores, a Igreja deveria ceder em assuntos morais, permitindo o uso da camisinha, do aborto e casamento gay para conter o êxodo de fiéis para as seitas protestantes. A essas pretensões deve-se responder claramente: A Igreja jamais permitirá aquilo que vai contra a vontade de Deus e nenhum Papa tem o poder de modificar isso. A doutrina católica é imutável. Ademais, os fiéis jovens da Igreja têm se mostrado cada vez mais conservadores e avessos à moral liberal. Inovações liberais para atrair fiéis nunca deram certo e os bancos vazios da Igreja Anglicana são a maior prova disso.

O comportamento vil da mídia secular leva-nos a fazer sérios questionamentos sobre a credibilidade e idoneidade dos chefes de redações que compõem as mesas desses jornais. Das duas, uma: ou esses senhores carecem de formação adequada e por isso seus textos são recheados de ignorâncias e nonsenses, ou então, esses doutos jornalistas têm um sério compromisso com a desinformação e a manipulação dos fatos, algo que está diametralmente oposto ao Código de Ética do Jornalismo. Se fôssemos seguir a cartilha desses órgãos de imprensa, hoje seríamos obrigados a crer que Bento XVI liberou a camisinha, excomungou o boi e o jumento do presépio, acobertou padres pedófilos e mais uma série de disparates que uma simples leitura correta dos fatos seria o suficiente para derrubar a mentira.

Na sua mensagem para o Dia Mundial da Comunicação de 2008, o Papa Bento XVI alertou para os riscos de uma mídia que não está comprometida com a reta informação. "Constata-se, por exemplo, que em certos casos as mídias são utilizadas, não para um correcto serviço de informação, mas para «criar» os próprios acontecimentos", denunciou o Santo Padre. Bento XVI assinalou que os meios de comunicação devem estar ordenados para a busca da verdade e a sua partilha. Pelo jeito, a imprensa secular ainda tem muito a aprender com o Santo Padre.



UM PADRE DIFERENTE

Não sei seu nome nem se é secular ou religioso.

Domingo passado estava em Araxá e fui à missa da 7:00hs. na Matriz de S.Domingos, retransmitida por uma rádio local, como repetiu o celebrante em diversas ocasiões. Esse tipo de missa, costuma começar e terminar na hora certa.

Durante boa parte da missa, o padre parecia não se importar muito com o texto do missal ou do folheto.

Desde o ato penitencial, até o final, rezava, explicava ou proclamava a palavra mais em função do significado do que do texto em si.

Não leu ou proclamou o Evangelho, mas, a partir da introdução (O senhor esteja convosco...), foi explicando e falando os pontos mais importantes do Evangelho, fazendo a homilia ao mesmo tempo, movimentando-se muito no presbitério. De modo livre, foi fiel à mensagem do evangelho do domingo.

No Credo, foi ressaltando algumas verdades fundamentais e o povo respondia a cada uma: Eu creio, como se costuma fazer nos batismos.

A oração eucarística foi resumida em seus pontos fundamentais. Não foi rezada e nem dado o abraço da paz.

Com a distribuição da comunhão, a oração final rezada juntamente com o povo e os avisos finais e benção, a missa terminou pontualmente às 8:00hs., observando-se uma grande empatia com o povo de Deus.

Em função de evangelizadores, dos rubricistas, legalistas ou vivem tendo medo de errar, lembrei de algumas pessoas importantes no passado.

Do finado diac.Alberto que sempre repetia que a Oração Eucarística só podia ser falada pelo sacerdote e que o povo nunca poderia dizer junto com o celebrante. Mas num encontro diaconal em Ipatinga, na missa na Catedral em que ele concelebrava, o padre da cidade convidou o povo a rezar junto boa parte da oração eucarística.

Do querido Frei Flávio, que acompanhava a Liturgia da Palavra sentado no meio do povo e que ao presidir a Liturgia Eucarística, convidava o povo a rezar junto algumas orações.


Um certo bispo Dom José Alberto

Extraído da página do Facebook do Frei Sérgio Max:


Dom José Alberto Moura foi bispo em nossa Diocese de Uberlândia. Desempenhou importantes trabalhos para nossa cidade, como a fundação da Faculdade Católica, orientação e coordenação de várias pastorais, como da Saúde e Pastoral da Criança d...entre outros.
Desde 2007, Dom José realiza seu trabalho pastoral como arcebispo na Arquidiocese de Montes Claros - MG.

A Pessoa

Dom José Alberto Moura nasceu em Ituiutaba, Minas Gerais, em 23 de outubro de 1943. Ele é filho de Paterno Moura e de Maria Marcelina de Jesus, e tem sete irmãos. Cursou a primeira e a terceira séries do primeiro grau no Grupo Escolar João Pinheiro e a segunda série na Escola Mascarenhas de Ituiutaba.

O Seminarista

Em 1955, dom Alberto ingressou no Seminário dos Padres Estigmatinos em Rio Claro, São Paulo, onde fez três anos de estudos, em continuação do primeiro grau. Terminou o mesmo no Seminário dos Estigmatinos em Ribeirão Preto, São Paulo, onde também cursou o segundo grau. Em 1966, fez o Noviciado na mesma Congregação Religiosa em Campinas, São Paulo. Aí também ele cursou Filosofia e Teologia, durante seis anos. Em 1964, fez os votos religiosos aos 09 de dezembro.

O Sacerdote

No dia 09 de janeiro de 1971, dom Alberto foi ordenado sacerdote, na Catedral de Ituiutaba, pelo então bispo-coadjutor de Uberlândia, dom Onofre Cândido Rosa. Como padre, ele trabalhou durante dois anos na Paróquia Nossa Senhora do Bom Conselho, no Alto da Mooca, em São Paulo. Em 1976, trabalhou na Paróquia Santa Cruz de Brasília, Distrito Federal (DF). Por cinco anos, o segundo arcebispo de Montes Claros foi promotor vocacional dos Padres Estigmatinos em todo o Brasil. Em 1981, foi pároco em Luziânia, Goiás.

De 1982 a 1988, dom Alberto foi Superior Geral da Congregação dos Estigmatinos no mundo, residindo em Roma, Itália, por seis anos. Por dois anos, ele foi pároco da Paróquia Nossa Senhora da Abadia em Uberaba, onde também lecionou Psicologia Pastoral no Seminário Arquidiocesano e foi vigário judicial do Tribunal Eclesiástico de Uberaba, e juiz do Tribunal Eclesiástico de Belo Horizonte.

O Professor

Dom Alberto cursou também Pedagogia na Pontifícia Universidade Católica (PUC), de Campinas, especializando-se no magistério, na administração escolar e na supervisão escolar. Fez também licenciatura em Filosofia pela Universidade de Mogi das Cruzes. Especializou-se em Psicanálise Clínica em São Paulo, bem como em Distúrbios da Comunicação em uma Pós-Graduação em Psicologia Clínica na PUC. Fez Mestrado em Teologia Moral na Academia Afonsiana de Roma e Doutorado em Teologia na Universidade Santo Tomás de Aquino de Roma.

Lecionou Introdução à Filosofia, História da Filosofia Antiga, Medieval, Moderna e Contemporânea, Teoria do Conhecimento, Lógica, Teodiceia e Cosmologia no Seminário Estigmatino de Campinas, onde também foi reitor. Ensinou também Fundamentos da Educação e Psicologia Educacional na PUC de Campinas, bem como Introdução à Psicologia e Psicologia Aplicada à Administração de Empresas na Universidade Católica de Brasília (DF).

O Comunicador

Dom José Alberto é também escritor. Ele escreveu os livros "O Espírito Santo No Carisma Do Padre Gaspar Bertoni” e “Filhos Da Luz Na Ação da Cidadania” (1996), bem como mais de 700 artigos (sem contar os quase 200 artigos produzidos como arcebispo metropolitano de MOC). Comprou a Rádio América de Uberlândia, em que fazia programa diário há mais de 11 anos. Em 1996, entrou para a Academia de Letras do Triângulo Mineiro, ocupando a cadeira de Jacy de Assis. Tem escrito semanalmente, há mais de 11 anos, artigos sobre assuntos religiosos e éticos, dentro da proposta humanista e cristã dos valores da dignidade e justiça humanas. Tem-se empenhado também para o diálogo ecumênico, juntamente com outros líderes religiosos.

O Bispo

Aos 14 de abril de 1990, ele foi nomeado bispo-coadjutor de Uberlândia. Foi sagrado aos 14 de julho do mesmo ano na sua terra natal. Desde 23 de dezembro de 1992, era bispo diocesano de Uberlândia, onde criou 20 paróquias e ordenou 40 padres, e 25 diáconos permanentes. Orientou a organização das pastorais da Saúde, com 700 agentes, da Criança, com 25 núcleos em Uberlândia, cinco em Araguari e 15 em Estrela do Sul, que trabalha principalmente com a ajuda de salvar a vida de crianças carentes e o desenvolvimento de sua saúde com alimento e medicina alternativos, Pastoral da Educação, do Ensino Religioso Escolar, Pastoral Carcerária, Pastoral dos Surdos, assistência a 45 Clubes de Mães, com promoção de cursos profissionalizantes a mais de duas mil mães e 300 adolescentes carentes, Pastoral da Comunicação, Pastoral do Ministério da Palavra, da Eucaristia e das Exéquias, com mais de 600 ministros, Comissão Diocesana de Justiça e Paz, criação de mais de 30 centros comunitários para a formação humana e cristã, colaborou com a promoção do voto cidadão juntamente com a Comissão de Justiça e Paz, dentre outras entidades.

Dom Alberto fundou a Faculdade Católica de Uberlândia. Há 16 anos e meio, ele incentivava o jornal mensal “Vida Diocesana”, de Uberlândia. Dom Alberto integrou a Comissão Episcopal Pastoral (CEP) do Regional Leste II da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) por vários mandatos, foi encarregado de acompanhar o Ecumenismo, a Juventude, a Comissão Pastoral da Terra (CPT), os Ministérios e o Conselho Indigenista Missionário (Cimi) em nível regional e foi integrante e coordenador da promoção da Campanha para a Evangelização da CNBB.

O segundo arcebispo metropolitano de Montes Claros e sétimo bispo diocesano integra a equipe do Ecumenismo e do Diálogo Inter-Religioso da CNBB desde maio de 2007. Foi o primeiro vice-presidente do Conselho Nacional das Igrejas Cristãs (Conic) até o começo de 2011. Seu lema de Episcopado é “Acreditei, Por Isso Falei”.

Cargo

No dia 07 de maio de 2007, dom José Alberto Moura foi eleito para presidir, nos próximos quatro anos, a Comissão Episcopal Pastoral (CEP) para o Ecumenismo e o Diálogo Interreligioso. Ele recebeu, no segundo escrutínio da eletiva 45ª Assembléia Geral (AG) da CNBB, duzentos e quatro votos dos 275 bispos votantes. Para se eleger, o candidato precisa da metade mais um dos votos válidos. Uma das funções da Comissão para o Ecumenismo é organizar o encontro anual de formação e atualização dos professores que lecionam Ecumenismo e Diálogo Interreligioso nos institutos, seminários e faculdades teológicas do Brasil.

A Congregação dos Estigmatinos

A Congregação dos Sagrados Estigmas de Nosso Senhor Jesus Cristo (CSS) foi fundada em 1816, por São Gaspar Bertoni, na cidade de Verona, no Norte da Itália. A Espiritualidade de padre Bertoni era de cunho inaciano e ele pregou inúmeros sermões que foram agrupados pelos padres estigmatinos. O carisma estigmatino se identifica pela espírito de comunhão de seus integrantes, como se fossem um só coração e uma só alma. Desempenham suas ações no campo missionário, inclinando-se ao serviço dos bispos nestas missões e à educação da juventude.

Como arcebispo de Montes Claros

Em quatro anos como pastor da Arquidiocese de Montes Claros, dom José Alberto Moura já tem muita história para contar, sobretudo através dos seus artigos semanais (que já passam de 200 escritos) publicados no 
www.arquimoc.org.brwww.cnbbleste2.org.br e no www.cnbb.org.br, e em outros periódicos norte-mineiros, como o “Jornal de Notícias”, “Gazeta Norte-Mineira” e “Clarão do Norte”. Este último é o informativo arquidiocesano, cujo nome é criação de dom José Alberto. O “Clarão do Norte” existe desde dezembro de 2007.

Dom José foi o primeiro bispo diocesano de Montes Claros a visitar uma comunidade quilombola. Em 19 de janeiro de 2008, ele conheceu, viveu e celebrou com os remanescentes de quilombo do Brejo dos Crioulos de São João da Ponte, Verdelândia e Varzelândia. Em seus poucos mais de três anos de governo, dom José unificou o trabalho das Pastorais Sociais, aproximando-as fisicamente e espiritualmente. Ordenou padres, criou paróquias, deu pela primeira vez a oportunidade de pequenas cidades do Norte de Minas a ter assistência de um padre morando nos municípios, como Cristália e Glaucilândia.

Incentivou a criação da Associação de Apoio, Proteção e Amparo à Criança (AAPAC) da Arquidiocese de Montes Claros, entidade da sociedade civil. Trabalha pela modernização e eficiência dos serviços hospitalares da Santa Casa. Participa constantemente do Dia Nacional da Juventude, das celebrações ecumênicas do Grito dos Excluídos, das Romarias das Águas e da Terra, dentre outros eventos. Trouxe, no Ano Centenário da Arquidiocese de Montes Claros, dois eventos de grande importância para Montes Claros e que movimentaram a economia popular solidária da região: o 3º Congresso Nacional da Comissão Pastoral da Terra (de 17 a 21 de maio de 2010) e o 6º Encontro das Comunidades Eclesiais de Base de Minas Gerais (de 22 a 25 de julho de 2010).
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Agnaldo Sobrinho Dom José Alberto Mouro o Bispo do fusquinha do pneu furado Sua Benção parabéns pelos seus 42 anos de Sacerdócio
Eduardo Inacio Teodoro Inacio Parabéns DOM JOSÉ por ser nosso querido PROFETA desse novo milênio!
Ana Lucia Parabéns .Saudades.
Fatima Perini saudades... Parabéns!

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